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Linguagista

Léxico: «monocracia»

Não desperdicemos a ocasião

 

      Ah, sim, tendo em conta a minha última monomania, não me podia escapar: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista o vocábulo monocracia. Como é possível? Não, não fui eu que o inventei. «O [critério para distinguir as várias modalidades de ditadura] mais relevante de todos é o da composição do órgão fulcral da ditadura, sendo de dissociar entre: – a autocracia, quando o governo é de vários, podendo aplicar-se em diversos domínios, como sucede habitualmente com as ditaduras de esquerda; e – a monocracia, quando o governo é atribuído a uma única pessoa, podendo ser de raiz cesarista, militarista ou fascista, em geral de direita» (Manual de Direito Constitucional, Vol. II, Jorge Bacelar Gouveia. Alfragide: Leya, 5.ª ed., 2014).

 

[Texto 8849]

Em que República estamos?

É fazer contas

 

      «Em letras mais pequenas, podia ainda ler-se um excerto de um texto de uma colunista do jornal [O Diabo]: “Rui Rio nunca ultrapassou, verdadeiramente, a dimensão de um cromo de paróquia. Podia ser capataz, caseiro, moço de loja, ou contabilista num retalhista qualquer, mas o vácuo de homens desta III República tornou-o líder do partido.”» («A coincidência. O Diabo esteve no Caldas», Público, 3.03.2018, p. 10). Vou citar-me a mim próprio, nem sempre isso é mau. Do Assim Mesmo: «“O ex-secretário-geral do PSD, Ribau Esteves, disse ontem estar em preparação um movimento para fazer ‘uma boa revolução’ para implantar ‘a IV República’” (“Ribau diz que fala na IV República”, Diário de Notícias, 28.03.2009, p. 16). Quando certo dia revi um livro da autoria do Dr. Mário Soares, levantei esta questão da contagem das repúblicas: estávamos na II ou na III Repúblicas? O Dr. Mário Soares mandou dizer que o Estado Novo não foi uma república, mas sim uma monocracia, uma ditadura. Logo, estamos na II República. Realmente, pensei depois, até o nome é uma indicação. O Estado Novo não foi uma república, como Vichy também o não foi. Nem a República de Saló. Nem o III Reich, que nunca aboliu formalmente a República de Weimar. Mas também formalmente, contudo, estamos na III República.»

 

[Texto 8848]

Abreviatura de «menina»

Para se estranhar menos

 

      «Eu sou a Mna. Diospiro e tenho muito orgulho nisso» (Mary Poppins, P. L. Travers. Tradução de José Miguel Silva. Lisboa: Relógio D’Água, 2014, p. 38). «I’m Miss Persimmon and am proud of it!»

      É sempre um problema. Há assistentes editoriais (sim, que isto poucas vezes chegará aos editores) de vistas curtas que proíbem que se traduzam Mr., Mrs. e Miss. Para outros, é indiferente. O que pode trazer dificuldades é, obviamente, a última, porque as outras são os nossos Sr. e Sra. Alguns tradutores, com o amén de quem manda, optam pelo impensável: «senhorita»! Desde quando é que se usa esta palavra em Portugal, podem dizer-me? Usa-se tanto, na verdade, como Mr. e Mrs., que vemos em demasiadas traduções. Falta de hábito de pensar, é o que revela. Mas Mna. deixou-me a pensar um tudo-nada, confesso, e tão simplesmente porque foi a primeiríssima vez que a vi. É verdade. Lá está, abreviaturas, só as consagradas. Mas acho bem, sim senhor, Mna. ou M.na, só precisava era de se usar mais — para se estranhar menos.

 

[Texto 8847]