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Linguagista

Léxico: «mouros»

Vá lá, que nós não nos ofendemos

 

      «De qualquer modo, é significativo que em regiões do Norte e, em particular, na cidade do Porto, se fale recorrentemente em “mouros” para designar os habitantes do Sul e, sobretudo, os lisboetas. Na literatura etnográfica, refere-se que no Sul há quem designe genericamente os do Norte como “galegos”, mas essa classificação afigura-se muito mais rara» (Portugal, Portugueses: Uma Identidade Nacional, José Manuel Sobral. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2016).

      Como lembrou, e bem, o leitor J. C., nos dicionários não há nem rasto desta acepção, tão usada, de mouro. Ora esta! Quem nos anda a roubar as palavras?

 

[Texto 8856]

Léxico: «reserva/manso»

Lição de História

 

      A minha filha está aqui ao meu lado a estudar para História e Geografia de Portugal. Uma figura diz que é membro da nobreza, que vive num castelo e possui grandes propriedades. «Estas propriedades estão divididas em duas áreas, a __________ e os _________. É nestes últimos que trabalham os camponeses.» A e os... Vá lá que ela tem boa memória: reserva e mansos. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora ignora totalmente. A reserva era a parte das propriedades que o senhor mantinha, reservava para si; os mansos eram as parcelas que o senhor concedia aos camponeses livres. Sim senhor, então as nossas criancinhas estudam matéria cujo léxico nem sequer está nos dicionários... Impressionante.

 

[Texto 8855]

Léxico: «quibangismo»

Desapossados da História

 

    «Mais do que guerras inexistentes, terroristas duvidosos, tribos isoladas, agentes estrangeiros, quibangismos desconhecidos, sistemas de segurança, materiais bélicos e tropas nacionais, falavam agora de mim e de minha irmã Lida» (A Garota do Kalussowa, Fernanda Vicente. Lisboa: Editorial Escritor, 1998, p. 292).

   Não é da literatura, não. Ainda ontem, no episódio 9 da série História a História, África, Fernando Rosas usou o termo quibangismo e explicou a importância que teve na chamada Revolta da Baixa do Cassange, que desembocou na Guerra Colonial. É o nome de um movimento profético-messiânico fundado no Congo Belga por um tal Simão Kibango, no início do século XX. Dois termos, então: quibangismo e quibangista. Relacionado, na sua génese, está o tocoísmo, que o dicionário da Porto Editora acolhe, esquecendo-se, porém, de tocoísta. Portanto, mais um pedaço de História sonegado pelos dicionários.

 

[Texto 8854]

Wi-fi, hi-fi, ai, ai

Não é

 

      «A sigla WiFi é o diminutivo para Wireless Fidelity e representa a tecnologia que nos permite conectar à internet sem que usemos fios» («12 perguntas difíceis que os seus filhos podem fazer no carro», Motor 24, 4.03.2018, 10h18).

      Ai, ai, que por pouco acertavam. O termo wi-fi é a redução de wireless fidelity, «fidelidade sem fios», por analogia com hi-fi, esta redução de high fidelity, «alta fidelidade». No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, também acertavam por pouco, pois no verbete de hi-fi lê-se que é a «abreviatura de high fidelity».

 

[Texto 8853]

Léxico: «passagem hidráulica»

Falta o mais comum

 

      «A IP [Infra-Estruturas de Portugal] é responsável por mais de 7.200 obras de arte (designação que abrange, entre outros, pontes, viadutos, túneis, passagens hidráulicas) na rede rodoviária (73%) e na rede ferroviária (27%)» («90% das pontes num estado de conservação entre razoável e bom», TSF, 4.03.2018, 11h00).

      No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, está obra de arte, sim, e, se bem me lembro, fui eu que sugeri a sua inclusão, mas na definição só exemplificam com pontes, viadutos e túneis, ou seja, falta o mais abundante — as passagens hidráulicas (culvert, para a legião de anglófonos que nos segue). Aliás, nem sequer está dicionarizado.

 

[Texto 8852]

Léxico: «tábua de chamada»

E algumas mais

 

      «No segundo ensaio, mesmo sem apanhar a tábua de chamada, [Nelson Évora] aterrou a 17,22m. Mas o português reagiu de imediato no salto seguinte e ei-lo a atingir 17,40m, na altura a melhor marca mundial do ano e recorde nacional em pista coberta, batido por oito centímetros» («Um salto de ouro que acabou reduzido a bronze», Luís Lopes, Público, 4.03.2018, p. 22).

      Tábua de chamada, a marca no solo que assinala o local onde o atleta inicia o salto, não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que só regista duas tábuas, «tábua de salvação» e «tábua rasa». Mas faltam mais algumas, e logo à cabeça, já que estou à beira-mar, é a tábua de marés.

 

[Texto 8851]

Léxico: «cartonista»

Eu sabia

 

      «Um cartonista francês [François Boucq] enviou um presente a Donald Trump: um livro com cem cartoons sobre o Presidente norte-americano, inspirados nos seus tweets» («Cartoonista envia cem desenhos a Trump», Rádio Renascença, 2.03.2018, 12h12).

      «Queres ver», apostei comigo mesmo, «que não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora?» Nem mais: encontramo-lo apenas no dicionário de Espanhol-Português... Não pode ser.

 

[Texto 8850]