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Linguagista

Léxico: «centibilionário»

Que bom para ele

 

      «O fundador da Amazon, Jeff Bezos, é o novo líder da lista dos mais ricos do planeta, elaborada anualmente pela revista “Forbes”. Com uma fortuna avaliada 112 mil milhões de dólares, o equivalente a 90 mil milhões de euros, o empresário norte-americano é o primeiro “centibilionário” desde que o ranking começou a ser divulgado, em 1987» («Há um novo homem mais rico do mundo e é “centibilionário”», Rádio Renascença, 6.03.2018, 15h54). Perguntei à Alexa e ela, lacónica e a fazer caixinha: «Sorry, I’m not sure.» Mas sim: «Jeff Bezos is the richest person on the planet and the first centi-billionaire atop our annual ranking.» Uma fortuna avaliada em 112 mil milhões de dólares... isso era às 3 da tarde. Neste instante: «$127.3 B». Agora vou dormir e de manhã vou espreitar o contador.

 

[Texto 8873]

Léxico: «cabedelo»

Aproveitemos

 

      «“A maré pegou no navio, devolveu-o ao rio Tejo, mas pelo lado errado, para o Bugio, numa área que tem muitos cabeços de areia e acabou por encalhar”, anotou [o comandante da Capitania do Porto de Lisboa, Coelho Gil]» («Navio com bandeira espanhola encalhado junto ao Bugio», Lusa e Maria Wilton, Público, 6.03.2018, 8h06).

      Aproveitemos o ensejo para desempoeirar uma palavra — cabedelo. Cabeço de areia ou cabedelo. Cabedelo significa precisamente monte de areia. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora define-a assim: «língua móvel de areia, na foz de um rio, proveniente da acumulação de sedimentos fluviais e marinhos». Porquê móvel?

      De manhã, na TSF, escreviam que o navio Betanzos tinha 1189 metros! Agora, em todo o lado se lê que tem 118. Contudo, aqui vêm descritas as principais características do navio, destino (no caso, Casablanca, Marrocos — MA CAS), velocidade, posição actual (aqui), etc. E lá estão as dimensões: 119 x 15 m. Daí a hesitação do jornalista da TSF: «Serão 118 ou 119? Ai a porra das dioptrias!» Ficaram o 8 e o 9, 1189. Rever ou investigar bem é que não, e mesmo corrigir só depois de muitas berlaitadas.

 

[Texto 8871]

Léxico: «depressão cavada»

A mais conhecida

 

      «De acordo com o instituto (IPMA), a partir de quarta-feira “a aproximação de ondulações frontais associadas a depressões cavadas” irá afetar diretamente o continente e a Madeira, originando “precipitação, que será por vezes forte e persistente”, podendo mesmo ser acompanhada de trovoada, em especial a partir de sexta-feira» («Chuva forte e aumento da agitação marítima nos próximos dias», Rádio Renascença, 6.03.2018, 16h41).

      Do âmbito da meteorologia, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora contém três locuções em que entra a palavra «depressão»: depressão barométrica, depressão barométrica de origem dinâmica e depressão barométrica de origem térmica. Falta, é curioso, aquela que ouvimos e lemos mais vezes — depressão cavada. Outro mistério.

 

[Texto 8870]

Historiografia fantasiosa

Mistérios e mentiras

 

      Porque afirma a historiografia tradicional que D. Raimundo e D. Henrique de Borgonha eram primos, e mais, primos direitos, primos-irmãos ou coirmãos? Duplamente cunhados, isso sim: antes de se casarem com as filhas de Afonso VI, já eram cunhados, já que a irmã de Raimundo, Sibila, casara com o duque Eudes I (1079-1102), irmão de Henrique. Príncipes capetíngios — ia escrever, mas o dicionário da Porto Editora não deixa, só capetianos —, é o que se lê aqui e ali, que vieram ajudar Afonso VI a combater os muçulmanos. (Faz-me espécie que se escreva «coirmão», mas é o que está estabelecido. Ainda assim, se quiser mesmo um hífen, opto por «com-irmão».)

 

[Texto 8869]

Léxico: «pastilhão»

Hão-de chegar cá

 

      «Para evitar que as pastilhas elásticas sejam deitadas para o chão – as pastilhas são o lixo mais comum nas ruas a seguir aos cigarros – Anna Bullus criou umas caixas cor-de-rosa a partir do material reciclado. Os “pastilhões” foram espalhados por zonas estratégicas, como o aeroporto de Heathrow, universidades e estações de caminhos-de-ferro do Reino Unido. Por fora, a mensagem onde se explica que todas as pastilhas recolhidas serão recicladas e aproveitadas para a confeção de novos objetos» («Ruas britânicas mais limpas. Pastilhas ganham vida nova como lápis ou pentes», Rádio Renascença, 6.03.2018, 9h42).

    Proponho que se dicionarize, pois claro, até porque também vão chegar cá. Afinal, «em todo o mundo, são gastos mais de 15 mil milhões de euros todos os anos no fabrico de pastilhas elásticas». Impressionante.

 

[Texto 8868]

O escriba brasileiro da RR

Ó RR, vê lá como escreves

 

      Já não é apenas nas telenovelas: «Carlos, “o Chacal”, agora com 68 anos, já está a cumprir outras duas sentenças perpétuas. Uma delas devido ao assassinato de dois policiais franceses e de um informador em junho de 1975, e o outro por uma série de ataques em comboios, numa estação ferroviária e uma rua de Paris em 1982 e 1983 em que matou 11 pessoas e feriu cerca de 150» («Carlos, “o Chacal”, tenta novo recurso de prisão perpétua», Rádio Renascença, 5.03.2018, 19h54). «O novo produto foi bem aceito pelo paladar dos norte-americanos, que anualmente consumem 10 mil milhões de hambúrgueres de carne e, ao mesmo tempo, contribuem para melhorar o meio ambiente» («Substituir 30% da carne nos hambúrgueres reduziria emissão de gases em 10,5 milhões de toneladas», Rádio Renascença, 6.03.2018, 00h04).

 

[Texto 8867]

Provérbios deturpados

Escrever, e depois ler e reler

 

      Hoje é festa litúrgica de Santo Olegário, um dos patronos dos caçadores. Cá está ele de pontifical e uma lebre morta deposta a seus pés. Sim, um dos, porque, por exemplo, São Conrado também é patrono dos caçadores. Estes bem precisam, ultimamente pela falta de caça e sempre pelos tiros perdidos (em todos os sentidos). Ah, mas não era isto que eu queria dizer, isto é para o outro blogue. Mas já aqui está, fica.

      «Diz-se que aquilo que os olhos não vêem, o coração não sente. Sabedoria popular sem fundamentação científica, mas na qual todos reconhecem um fundo de verdade» («Seca. Vacas magras e plantações perdidas. O que falta para a cidade olhar para o campo?», Teresa Abecasis, Rádio Renascença, 6.03.2018, 7h00). Não diz nada, Teresa Abecasis. Pelo menos não se diz dessa maneira. Diz-se «olhos que não vêem, coração que não sente». A fazer texto, vídeo e fotografia, atrapalhou-se.

 

[Texto 8866]

Léxico: «safira»

A realidade ou o dicionário?

 

      O mostrador do Apple Watch é de safira, afirma a Apple. Já antes havia relógios com o mostrador de safira, e melhores. Ora bem, que tem que ver este vidro de safira com a safira do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, «pedra preciosa de cor azul, que é uma variedade transparente de corindo»? Muito pouco, ao que me parece. O vidro de safira utilizado em relógios é obtido pelo corte de uma safira criada pela fusão e cristalização de alumina. E agora, mudamos a realidade ou o dicionário?

 

[Texto 8865]

Léxico: «contrapeso/escape/âncora»

Olhem que não

 

      E onde é que no verbete contrapeso, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, se pode encontrar a acepção relativa ao relógio mecânico? Nada, não se encontra. E será suficiente dizer-se, como faz aquele dicionário, que escape é a «peça reguladora do movimento dos relógios», quando se trata de um mecanismo no qual uma roda dentada alterna entre dois ciclos distintos, movimento contínuo e paragem periódica, regressando de novo ao primeiro? Não sei. E a âncora será mesmo a «peça de escape de um relógio», de qualquer relógio? É que há diversos tipos de escape, e nem todos são de âncora. Etc.

 

[Texto 8864]

Léxico: «moinho»

Só isso?

 

      A definição de moinho, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é claramente insuficiente: «engenho ou máquina de moer grãos ou triturar determinadas substâncias». Posso até não concordar com a grafia, mas na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira fala-se em moinhos-de-vento e em moinhos-de-água, ou azenhas, e estas há-as tanto para pisar a azeitona como para moer o cereal e até, e os primeiros europeus localizaram-se na Península Ibérica, os moinhos papeleiros.

 

[Texto 8863]