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Linguagista

«Espectável/expectável»

Não é digno de ser visto

 

      «A um primeiro olhar[,] é quase inacreditável que a ida de Passos Coelho, um ex-primeiro-ministro, como professor para uma universidade pública seja objeto de debate. Mas a verdade é que a polémica era espectável. [...] Todo este clima tornou espectáveis as delirantes críticas sobre a ida do ex-primeiro-ministro para o ISCSP» («Se Passos Coelho não pode, quem pode?», Pedro Marques Lopes, Diário de Notícias, 11.03.2018, p. 54).

      Há tanta coisa inacreditável: por exemplo, como é que alguém que ganha a vida a falar e a escrever confunde espectável, «digno de ser visto; notável», com expectável, «que se pode esperar; provável»? Pois, não sabem responder.

 

[Texto 8902]

Língua na estrada

Idade

imbecil

 

      «No regresso a casa volto a passar pela maior imbecilidade de sempre, escrita nas estradas e ruas de Portugal, nunca vi no estrangeiro, mas deve haver porque há tudo no estrangeiro, a começar pela imbecilidade, que é aquela maneira de escrever as saídas na vertical no alcatrão dividindo a palavra em dois e escrevendo a palavra ao contrário com a primeira parte da palavra em baixo, e portanto mais próxima do carro que avança, e a segunda em cima. Por exemplo, Mão Porti na saída para Portimão, Rios Sete na saída para Sete Rios, Porto Aero na saída para o Aeroporto. A explicação, já me explicaram, é que se o carro vai a andar a primeira coisa que se lê é Aero, e depois, Porto. Mas o depois é uma fração de segundo depois, seus imbecis, e os olhos não leem em braile, ou tipo scanner, veem a palavra e leem aeroporto, pumba já está lido não é aaaaa eeee roooo poooo rrr tooo. É daquelas imbecilidades de alguém que acha que é muito esperto. Um homem, claro. Engenheiro, talvez. Simpático, com ideias, daquele tipo muito português muito perigoso que é o burro que trabalha e que fala claro. E deve ter explicado tudo bem explicado e disseram-lhe que sim» («Porto Aero», João Taborda da Gama, Diário de Notícias, 11.03.2018, p. 56).

      João Taborda da Gama, actualmente o meu cronista favorito, tem razão, eu próprio já me vi em dificuldades para perceber estas indicações, qualquer que seja a velocidade a que sigamos. Na estrada, aliás, há muitas imbecilidades, desde a forma como se conduz, à sinalização e traçado das vias. Sim, sim, as palavras escritas daquela forma são uma imbecilidade.

 

[Texto 8901]

Léxico: «visuoespacial»

Está correcto e usa-se

 

      «A teoria admite a existência da inteligência linguística, lógico-matemática, visuoespacial, corporal cinestésica, musical, intrapessoal e naturalista. [...] Com vista à estimulação da inteligência visuoespacial, Renato Paiva [consultor em educação e escritor] sugere, por exemplo, o jogo “que desenho fiz?”, que consiste em “desenhar com o dedo nas costas da criança para que esta adivinhe o que desenhou”, ou “desenhar sem tirar o lápis do papel”» («Trava-línguas, concertos em casa e danças desenvolvem as inteligências», Joana Capucho, Diário de Notícias, 11.03.2018, pp. 18-19).

      Inteligência, diga-se, que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não tem.

 

[Texto 8900]

Léxico: «jota»

Também não

 

      «Nas últimas eleições aquela foi uma das câmaras que passou para o PS, ao fim de 24 anos nas mãos do PSD. Ricardo Venâncio, secretário-geral da distrital de Leiria da JSD, natural daquele concelho onde já presidiu também à estrutura concelhia da jota, mostrou-se surpreendido com as notícias a respeito de Feliciano. “É fundamental que ele consiga explicar e que tudo não passe de um equívoco, para bem da imagem da classe política, também.”» («“Notícias sobre Berkeley são para incomodar esta direção”», Paula Sofia Luz, Diário de Notícias, 11.03.2018, p. 10).

      Não precisa de ser um extraterrestre, até um leitor brasileiro lê a frase e não sabe o que significa «jota». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, agarra-o.

 

[Texto 8899]