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Linguagista

Léxico: «halo/auréola/resplendor/nimbo»

Anotai aí

 

      Ao serão, a criancinha esteve aqui ao meu lado a ler, pela segunda vez em pouco tempo, o livro Halo, de Alexandra Adornetto. Dois anjos e um serafim como personagens principais, diz-me ela. Hum... Para um trabalho escolar. Para começar, o que significa halo?, pergunto-lhe. Ela sabe: é o círculo à volta da cabeça dos anjos e de Jesus Cristo. Explico-lhe que, habitualmente, o termo usado é auréola ou resplendor. E que diz, pergunta-me, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora? Em qualquer dos casos, fala-se apenas na cabeça de Cristo e dos santos. Está errado, responde-me. A criancinha tem razão, bastava comprovar o que se afirma na Enciclopédia Católica Popular e sabemos: «Coroa dourada ou luminosa que, na pintura, começou a identificar Cristo, estendendo-se depois à Virgem Maria, aos anjos, aos mártires e aos santos.» Esta enciclopédia nem sequer regista o termo «halo».

 

[Texto 8950]

Léxico: «equiénio»

Estrutura etária homogénea

 

      Espreitei o relatório da comissão técnica independente que analisou os fogos de Outubro, mas o destrambelhamento ortográfico que vi fez-me recuar. Mas sempre, é inevitável, se aprende alguma coisa. Guardarei para mais tarde a leitura na íntegra, e entretanto leio o que é filtrado pelos jornais. Por exemplo: «Em muitas destas áreas as formações que sucederam aos povoamentos florestais “foram vastas áreas contínuas, equiénias e monoespecíficas, de invasoras lenhosas”» («Fogos de 2017 afetaram 50% das matas nacionais», TSF, 20.03.2018, 21h59).

      Ia dizer que, neste caso, nem vale a pena consultar os nossos dicionários, mas não é bem assim: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista monoespecífico, «relativo a uma única espécie; em que só há uma espécie». Sendo assim, só falta equiénio, que significa exactamente aquilo que eu pensava. Na lista de termos e definições do 6.º Inventário Florestal Nacional (2013), lê-se: «Povoamento equiénio (ou povoamento regular): Povoamento florestal com uma estrutura etária homogénea, em que as árvores existentes formam um só andar de vegetação.»

 

[Texto 8949]

Léxico: «rodeão»

Também é estranho

 

      «O prato emblemático [da Taberna da Julinha, no Pocinho, entre Vila Nova de Foz Côa e Torre de Moncorvo] é posta mirandesa, acompanhada com batata ou por um delicioso arroz de feijão. Carne de boa qualidade, tenra e suculenta, a justificar a preferência, face à alternativa: rodeão» («Propostas saborosas no fim da linha», António Catarino, TSF, 20.03.2018, 17h36).

      Rodeão ou rodilhão — encontramo-los em livros, no prato e na boca dos falantes e na Internet, mas não no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 8948]

Léxico: «boletim polínico»

Perguntem por aí

 

      «O boletim polínico indica que, dada a previsão de ausência de chuva durante a semana, prevêem-se concentrações elevadas de pólen na atmosfera de todo o país. E lá vai uma, lá vão duas e três embalagens de lenços de papel. E lá vai você desesperado, olhos chorosos, nariz tapado a correr para a farmácia» («16h15. Olá, primavera!», André Rodrigues, Rádio Renascença, 20.03.2018).

      Mais conhecido é o boletim de vacinas, e está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Vão para a rua e perguntem ao acaso a várias pessoas, e ficarão elucidados. O boletim polínico, da responsabilidade da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), faz a divulgação semanal sobre os níveis de pólenes existentes no ar, obtidos por meio da leitura de vários postos que fazem uma recolha contínua dos pólenes, em várias regiões do País.

 

[Texto 8947]

Léxico: «neurotóxico»

Assim mata menos

 

      «[Leonid] Rink disse não acreditar que a Rússia esteja por trás do envenenamento de Sergei Skripal, hospitalizado em estado crítico, porque sabe que o uso deste agente neurotóxico pode ser rastreado» («Caso do espião. Cientista russo confirma existência de projeto de armas químicas “Novitchock”», Rádio Renascença, 19.03.2018, 11h41).

     Tudo muito estranho — até a definição de neurotóxico no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «que causa danos no sistema nervoso». E a parte do tóxico, onde é que entra nisto?

 

[Texto 8946] 

Léxico: «processionária»

Um retoquezinho

 

      «A processionária, conhecida como “lagarta do pinheiro”, é um inseto que ataca pinheiros e cedros, provocando danos nas árvores e que ameaça a saúde pública quando ocorre perto de locais habitados ou frequentados por pessoas e animais domésticos» («Descoberto fungo capaz de combater lagarta do pinheiro», Rádio Renascença, 19.03.2018, 13h05).

    A descoberta de que um fungo, o Metarhizium brunneum, é capaz de provocar uma mortalidade significativa em ovos e larvas jovens de duas espécies de processionária é uma excelente notícia. Boa notícia seria também que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora acrescentasse na definição de processionária, que já é boa, o nome científico (Thaumetopoea pityocampa Schiff.) e o sinónimo, lagarta-do-pinheiro, o que constitui sempre uma ajuda preciosa para os falantes. Seria, aliás, apenas, quanto à sinonímia, completar o que começaram, pois em «lagarta-do-pinheiro» limita-se a remeter para «processionária». Quanto a sinonímia, eu não ficaria por aqui, já que, quando se diz que se trata de insectos lepidópteros, explicaria que são traças. Por fim, e para a questão ficar arrumada, acrescentaria que também ataca, como se afirma no artigo e confirmei, cedros.

 

[Texto 8945]

Léxico: «rinoceronte-branco-do-norte»

Antes que não haja nenhum

 

      «A notícia surgiu esta manhã. Sudan, o último rinoceronte-branco-do-norte macho, morreu» («Morreu Sudan, o último rinoceronte-branco-do-norte macho», Joana Carvalho Reis, TSF, 20.03.2018, 7h22).

      Pois é, só restam duas fêmeas, uma filha e uma neta de Sudan, o rinoceronte-branco-do-norte (Ceratotherium simum cottoni) que morreu agora, e ainda não chegou ao Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 8944]