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Linguagista

Rio que banha Moscovo

Porque não Moscvá?

 

      Creio que já uma vez me ocupei desta questão: qual o nome, em português, do rio que banha Moscovo? Aqui um tradutor acha que é Moscou. Cheira (tresanda) a francês. Já tenho lido rio Moscovo: «Parques e jardins cobrem cerca de um terço da superfície intra-urbana, agarrando-se principalmente aos meandros do rio Moscovo (Moscvá — ler mascvá), às suas várias afluências, a lagoas e à albufeira resultante do primeiro daqueles famosos canais que, unindo num sistema único as extensas vias fluviais russas, fazem desta cidade um porto dos cinco mares (Negro, Azov, Cáspio, Árctico, Báltico)» (Setembro na URSS (1972-1974), Óscar Lopes. Porto: Inova, 1975, p. 15). E porque não Moscvá? Parecido, circula por aí: «Moscovo é igualmente a Rive Gauche do rio Moskva, onde a atmosfera é distinta e se sente uma diferença subtil nas ruas e nas gentes» (Caderno de Memórias, José Manuel Villas-Boas. Lisboa: Temas e Debates, 2003, p. 212). Esta última é também a opção da quase infalível Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

 

[Texto 8954]

Léxico: «odontopediatra»

Ora esta

 

      «A odontopediatra Joana Costa acredita que se deve esperar, mas defende que isso varia de criança para criança. “Há muitas crianças que, a partir do momento em que os dentes começam a abanar, principalmente os primeiros, ficam com um bocadinho de receio, acham tudo aquilo muito estranho e muitas vezes há sangramento gengival, o que faz com que a criança fique um bocadinho apreensiva”, conta Joana Costa» («Dentes de leite: arrancar ou deixar cair naturalmente?», Rita Costa, TSF, 21.03.2018, 6h59).

      Essa é boa! Então o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista odontopediatria, mas esqueceu-se de odontopediatra?

 

[Texto 8953]

Léxico: «imunobiológico»

Vejam lá isso

 

      «As vacinas», caso não saibam, «são produtos imunobiológicos constituídos por microrganismos, partes destes ou deles derivados. Uma vez introduzidos no indivíduo saudável, produzem uma resposta similar à da infeção natural, induzindo imunidade sem risco para o vacinado» («Vacinar? Mas porquê?», Marta Grosso, com OMS e DGS, Rádio Renascença, 21.03.2018, 6h58).

      Imunobiológico não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Isto não fará também mal à saúde? Vejam lá.

 

[Texto 8952]

Léxico: «grimório/engrimanço/enguirimanço»

Roubaram-nos a magia

 

      Para minha surpresa, a criancinha usou, no trabalho de ontem, a palavra «grimório». Claro, lera-a no tal livro. Não é nada, não está sequer no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. E agora? O grimório, do francês grimoire, é um livro de fórmulas mágicas usado pelos antigos feiticeiros. Curiosamente, aquele dicionário regista uma possível corruptela popular, engrimanço, mas que significa «maneira ininteligível de falar; discurso obscuro». Em Camilo, por exemplo, ainda se encontra, o que já Bluteau registara, a variante enguirimanço, mas isso já ultrapassa as medidas dos dicionários actuais. Mas já veremos.

 

[Texto 8951]