Léxico: «sorpasso»
Não nos deixemos ultrapassar
«Vamos supor que o CDS consegue chegar aos resultados de 2011 ou mesmo um pouco mais – por exemplo, 750 mil votos. Mesmo com este resultado absolutamente otimista e sem nenhum fundamento nos estudos de opinião conhecidos, não há sorpasso nenhum (deixando o PSD próximo dos 1,2 milhões de votos, o pior resultado da sua história)» («Estado da direita (I): o sorpasso do CDS», Nuno Garoupa, Diário de Notícias, 27.03.2018, p. 2).
Até podia estar no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, como estrangeirismo, evidentemente. E esta acepção não devia faltar no Dicionário de Italiano-Português da Porto Editora, mas falta. Não significa mais do que ultrapassagem, superação, mas usa-se em análise política e em economia. Nas eleições italianas de 1976, o Partido Comunista, conduzido por Enrico Berlinguer, parecia ter condições para se tornar a primeira força política e ultrapassar, superar — cá está o sorpasso, palavra que então se usou — a Democracia Cristã, que estava à frente dos destinos do país desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Não chegou a acontecer, pelo menos nessas eleições, pois o PCI alcançou 34,37 % e a DC 38,71 % dos sufrágios, mas a palavra ficou. No âmbito económico, o termo também foi amplamente usado, em 1987, na imprensa italiana quando este país ultrapassou o PIB nominal do Reino Unido, e, dois anos depois, o rendimento per capita italiano ultrapassou o do Reino Unido.
[Texto 8976]