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Linguagista

Tradução: «colomba»

Começa aí o caminho

 

    Mas porque não melhoram os dicionários bilingues, santo Deus? «Papa. A Páscoa “não acaba com o folar, os ovos e as festas, começa aí o caminho”» (Rádio Renascença, 28.03.2018, 12h49). Quem é que, minimamente curioso, não vai logo, logo querer saber que palavra italiana foi traduzida por «folar»? O Papa Francisco disse hoje que o Tríduo não acaba «con la colomba, con le uova, con le feste». Contudo, o Dicionário de Italiano-Português da Porto Editora diz-nos que colomba significa «pomba», e nada mais. Mas não, colomba também é o «dolce la cui forma richiama quella d’una colomba ad ali spiegate: è fatto di pan dolce e viene preparato (anche industrialmente) soprattutto in occasione della Pasqua» (in Treccani).

 

[Texto 8980]

Léxico: «carquejeiro»

Redimam-se

 

      «Arminda Santos teve contacto com a vida das carquejeiras quase quatro décadas depois do seu desaparecimento. As horas de trabalho que passou, em tempos, junto à marginal do Douro, no Porto, confrontaram-na com uma realidade que já não existia, mas estava bem presente» («Carquejeiras, mulheres de ferro que o Porto não quer esquecer», Sónia Santos Silva, TSF, 28.03.2018, 20h46).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora acolhe carquejeiro, pudera, mas, carago!, que pobre homenagem: «aquele que apanha ou vende carqueja». Até pode acontecer, digo eu, que nem sequer houvesse carquejeiros, ou muito poucos, mas a lógica dos dicionários é esta, e quanto a isso não podemos fazer nada. Porque não registar que era profissão que se pode considerar própria da cidade do Porto? Como é que aquelas mulheres, mesmo grávidas, andavam, descalças ou com alpargatas, por calçadas íngremes debaixo de carretos com mais de 50 quilos? Sobre-humano. Tal como as carrejonas. Vá, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, apura-te, ninguém levará a mal, bem pelo contrário.

 

[Texto 8979]

Léxico: «lagostim-de-água-doce»

Só falta um Lvchi Venere

 

      Hoje comi uns bons lagostins-de-água-doce (Procambarus clarkii) vindos de Hubei, na China. Meu Deus, até já alimentos destes vêm da China! Está claro que o meu próximo automóvel eléctrico também há-de vir de lá. Para já, um só Lvchi Venere parece-me melhor do que meia dúzia de Teslas Model 3. Ah, sim, voltando ao crustáceo: infelizmente, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora só regista um sinónimo, lagostim-vermelho-do-luisiana.

 

[Texto 8978]

Léxico: «sala de consumo assistido»

Para não haver quem não saiba

 

      «As salas de consumo assistido de Lisboa, conhecidas como salas de chuto, vão incluir cuidados de higiene, de alimentação e valências de enfermagem. O anúncio foi feito pelo vereador Ricardo Robles» («Lisboa. Salas de chuto vão ter cuidados de higiene, alimentação e rastreios», Rádio Renascença, 28.03.2018, 8h50).

      Todos ganharíamos se o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que regista casa/sala de chuto («local apetrechado com as condições necessárias para os toxicodependentes se injectarem em segurança, obedecendo aos padrões de higiene e saúde pública»), acrescentasse esta forma oficial e eufemística.

 

[Texto 8977]