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Linguagista

Léxico: «interglacial»

Só mesmo ele

 

      «“No último período glacial, o Sara era mais extenso do que actualmente, mas com o início do período interglacial o clima tornou-se relativamente húmido naquela região e o deserto retrocedeu”, explica o físico Filipe Duarte Santos no livro Alterações Globais: Os Desafios e os Riscos Presentes e Futuros (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012)» («O deserto do Sara tem estado a expandir-se», Teresa Serafim, Público, 30.03.2018, p. 31).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista o adjectivo interglacial. O VOLP da Academia Brasileira de Letras é que nos compreende.

 

[Texto 8986]

Léxico: «paleoclimático»

Só ele nos compreende

 

      «Aliás, vários registos paleoclimáticos e geológicos mostram-nos que os desertos têm uma dinâmica própria, causada por alterações climáticas naturais, que aumentam ou diminuem a sua extensão» («O deserto do Sara tem estado a expandir-se», Teresa Serafim, Público, 30.03.2018, p. 31).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora pensa que nos podemos governar apenas com «paleoclimatológico». O VOLP da Academia Brasileira de Letras é que nos compreende.

 

[Texto 8985]

Léxico: «pau-marfim»

Inacreditável

 

      «Pousou então, no colo da neta, o guarda-jóias embutido em pau de marfim que, um dia, quando a mãe morrera, o seu pai, marquês de Alorna, lhe dera» (A Marquesa de Alorna — Do Cativeiro de Chelas à Corte de Viena, Maria João Lopo de Carvalho. Alfragide: Oficina do Livro, 6.ª ed., 2012, p. 639).

    Suponho que a autora quisesse escrever pau-marfim (Agonandra brasiliensis e Balfourodendron riedelianum), madeira usada em móveis de luxo, peças torneadas, cabos de ferramentas, molduras, etc. Creio já ter visto alguma vez a grafia «pau-de-marfim». Seja como for, no VOLP da Academia Brasileira de Letras só encontramos a grafia «pau-marfim», e é esta que deve vir para os nossos dicionários. E quantos objectos da mais diversa natureza não encontraremos em Portugal feitos desta madeira? E, contudo, nos nossos dicionários não está, não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 8984]

Léxico: «casa de fresco»

Um país sem emenda

 

      «Quem mandou erguer a torre, e mais dois edifícios singulares na cidade — Ermida do Senhor do Bonfim e um solar para habitação — foi o juiz-desembargador Veríssimo de Mendonça Manuel. A iniciativa, diz Horta Correia, “representou uma afirmação de poder”. A construção foi confiada ao mestre pedreiro e escultor Diogo Tavares. Já no século XX, em 1919, a família Ramalho Ortigão desenvolveu um projecto urbanístico nesta quinta, em cujo solo agrícola plantaram casas. A torre, que terá sido uma “casa de fresco” para o juiz gozar da brisa marítima, nos dias quentes de Verão, foi depois usada como celeiro» («Caiu o tecto do edifício que imita a Torre dos Ventos de Atenas», Idálio Revez, Público, 30.03.2018, p. 18).

      Deixam ruir edifícios emblemáticos, únicos, tudo pela ganância, como deixam fora dos dicionários vocábulos e expressões por simples incúria.

 

[Texto 8983]