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Linguagista

Como se traduz por aí

Falamos? Onde?

 

      «“O nosso pai viveu e trabalhou em Cambridge durante mais de 50 anos (...). É por essa razão que decidimos organizar o seu funeral nesta cidade que tanto amava e que o amou de volta”, explicaram ainda na mesma nota» («Funeral de Stephen Hawking juntou centenas de pessoas», Rádio Renascença, 31.03.2018, 17h55).

      Não sei, a mim causa-me sempre muita estranheza esta forma de dizer as coisas: «e que o amou de volta». Nós exprimimo-nos dessa maneira, senhor jornalista? Mal por mal, ficasse em inglês: «For this reason, we have decided to hold his funeral in the city that he loved so much and which loved him.»

 

[Texto 8991]

Léxico: «anástase»

Pelo menos essa

 

      Hoje em dia, 99,99 % dos falantes não sabem o que significa anástase, o que não é muito grave, nem eu pretendo contrariar. Ainda assim, convinha que o nosso Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora registasse pelo menos mais uma acepção (há dicionários que registam cinco, sem contar com esta): designação das expressões plásticas de qualquer natureza da ressurreição de Jesus. Pode dar jeito a alguém.

 

[Texto 8990]

Léxico: «cipo»

E ainda mais

 

      «Durante o percurso feito “num carro alentejano, aos solavancos, ora por campos, ora por desertos”, o investigador deparou-se com um cipo (coluna com inscrições tumulares) e a indicação do proprietário das terras de que ali tinham aparecido “muitas moedas de cobre, e uma de prata, como um tostão”» («Villa romana “Cidade das Rosas” vai ser recuperada», Carlos Dias, Público, 31.03.2018, p. 14).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista cipo, pois sim, mas falta-lhe uma acepção: «1. coluna truncada que os antigos punham em cima das sepulturas; 2. marco miliário; 3. coluna com inscrições; 4. pedra tumular; 5. tronco de uma família». Cinco acepções, o que mostra bem que esta coluna curta ou pilar quadrangular tinha vários usos — mas falta indicar que era usada também para marcar os limites de um campo, de um terreno.

 

[Texto 8989]

Léxico: «avental abdominal»

Também desconhece

 

      «O avental abdominal pode e deve ser corrigido por razões plásticas e por razões higiénicas. Nos grandes aventais, também se colocam questões mecânicas, pois o avental puxa para baixo» (Pensar Perder o Peso Que Pesa, Isabel do Carmo. Alfragide: Publicações D. Quixote, 6.ª ed., 2013).

      Não sabia que se lhe dava este nome, mas é bastante sugestivo. Não por acaso, em inglês (vá, legião, refocila aqui) também é abdominal apron. Não sei se está em algum dicionário; sei que não está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Se se trata apenas de pele e tecido adiposo, esse avental toma o nome, que, neste caso, o dicionário da Porto Editora regista, de panículo, «pequeno pano, paninho», em latim.

 

[Texto 8988]

Léxico: «gigantomastia»

Desconhece

 

      «Além da idade, este tipo de operação é também abrangente a todos os estratos sociais. No entanto, segundo António Conde [coordenador da Unidade de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva do Hospital Lusíadas Porto], “a gigantomastia é um problema muito grave e é, habitualmente, nos estratos sociais mais baixos que vemos mais desses casos, e isto deve-se claramente a maus hábitos alimentares”» («Redução Mamária. Uma tendência ou uma urgência?», Fabíola Carlettis, MAGG, 12.03.2018, 16h46).

      O mais próximo que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista é gigantomaquia, «combate fabuloso dos gigantes contra os deuses». Aqui, porém, trata-se da luta de um cirurgião contra mamas gigantes. Nem sequer o Dicionário de Termos Médicos a regista.

 

[Texto 8987]