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Linguagista

Léxico: «marranada»

Para me desintoxicar da cidade

 

      De pão de calo, a minha memória levou-me para pada e, desta, para marranada. Podia explicar esta associação de ideias, mas estou com pressa. Fica apenas esta dúvida: porque não regista o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora o vocábulo marranada, que ouço de quando em quando? Até posso adivinhar que no próximo fim-de-semana a vou ouvir numa aldeia na serra da Estrela. Não falta no Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa, de Adalberto Alves.

 

[Texto 9008] 

Léxico: «brandeiro»

Tudo desaparece

 

      Agora que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora acrescentou acepções no verbete cardanha (cardenha/cardenho), convém lembrar que este dicionário não acolhe o termo brandeiro, o homem das brandas. Brandeiro ou brendeiro também é o pão de trigo, pequeno, que tradicionalmente se oferecia às crianças em Castro Marim. O dicionário da Porto Editora apenas regista brandeira, «pão oferecido ao proprietário do forno pela utilização deste». E já que falamos de pão, onde está — e não me refiro apenas aos dicionários, mas às lojas — o pão de calo de que eu tanto gostava? Há anos que não vejo nenhum. O pão, um dos nossos mais nobres alimentos, nem nos dicionários está condignamente representado. Bons pergaminhos, pois era tradicional em casa de cristãos-velhos.

 

[Texto 9007]

Léxico: «uah»

Um bocejo

 

      «— Huuuum — bocejou o Urso. — Sim, claro.» O urso atrapalhou-se com as teclas, porque a interjeição de bocejo não é aquela — culpa dos dicionários. (Quase a propósito: no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, lê-se que fazer de urso/fazer figura de urso significa «comportar-se de forma ridícula, ser alvo de troça», ao passo que fazer figura de urso significa «portar-se mal». É para corrigir.) «— Uah! — bocejou o Pedro. — Boa noite a todos! Ou melhor, bom dia!» (Uma Aventura em Viagem, Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada. Alfragide: Editorial Caminho, 2007). Há quem lamente mais do que eu que os nossos dicionários sejam de uma pobreza subfranciscana no que respeita a interjeições?

 

   [Texto 9006]

Léxico: «assistência»

Estranhas omissões

 

      «O internacional português do Real Madrid marcou dois golos – um de bicicleta –, fez uma assistência e recebeu ovação, de pé, dos adeptos da Juve, em Turim. Os “merengues” golearam, por 3-0, e têm pé e meio nas meias-finais da Liga dos Campeões» («Veja o golo de Ronaldo que está a correr mundo», Rádio Renascença, 3.04.2018, 21h38).

      Entre as sete acepções de assistência no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não encontramos esta. Outra ausência, para que já chamei aqui a atenção, é o nome das diversas posições em jogo, sobretudo no futebol: defesa-central, defesa-esquerdo, defesa-direito, extremo-direito, extremo-esquerdo, extremo-poste (no basquetebol)... Estão, por exemplo, no Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa de Magnus Bergström e Neves Reis (Alfragide: Casa das Letras, 50.ª ed., 2011, p. 140), não fui eu que as inventei. Só pode ser obstinação, e não critério ou princípio, pois regista «ponta-esquerda», «ponta-direita», «ponta-de-lança»... Insustentável.

 

[Texto 9005]