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Linguagista

Léxico: «repúblico»

Duas emendas

 

      «[A República do Santo Condestável] Alberga 15 estudantes que vivem numa das três repúblicas que existem em Lisboa. O senhorio não lhes vai renovar o contrato e com isso a história de uma casa com 70 anos pode terminar [...] O estatuto de república só foi lhes [sic] foi reconhecido em 1990, quando a lei permitiu que fossem fundadas outras fora da “cidade dos estudantes”, Coimbra» («Após 70 anos a dar e receber esta república corre o risco de fechar», Cristiana Faria Moreira, Público, 5.04.2018, p. 20).

      Cristiana Faria Moreira, é Cidade dos Estudantes. E agora é contigo, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Se em república escreves, e bem, que é a «residência habitada e gerida por um grupo de estudantes universitários», em repúblico não podes escrever que é o «estudante de Coimbra que vive numa república», não achas? Aliás, também não podes afirmar neste caso que se trata de gíria académica e naquele não o dizeres.

 

[Texto 9013]

Léxico: «palhinha»

Mais ecológico

 

      Já não chegamos a tempo: o primeiro Dia Internacional Sem Palhinha comemorou-se no passado dia 3 de Fevereiro. E hoje vi, pela primeira vez, palhinhas de aço inoxidável à venda. (Um conjunto de quatro palhinhas de inox e um escovilhão.) Talvez um dia destes, e mais cedo do que se possa pensar, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora tenha de rever a definição de palhinha: «pequeno tubo fino e de plástico, usado para sorver líquidos».

 

[Texto 9012]

Léxico: «consensualizar»

Ah, sim, mas existem

 

      «Sociais-democratas já consensualizaram com o Governo a lei-quadro das competências e as alterações à Lei das Finanças Locais. Insistem ainda na possibilidade de gradualismo na assunção de novas atribuições» («PSD exige saber que critérios vão ditar financiamento das câmaras», São José Almeida, Público, 5.04.2018, p. 8).

      Eu não preciso dela, mas a língua não é só minha. Existe, e a sua formação é regular: consensual + sufixo izar. Também se vê por aí consensualização. Alguns dicionários acolhem-nos.

 

[Texto 9011]

Léxico: «cruzeiro científico»

Não é só isso

 

      Eu já sabia, e não de agora, que «cruzeiro» não pode remeter somente para viagem de recreio (como faz o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, entre outros). Esperava uma oportunidade para o dizer, ei-la: «Resultados do cruzeiro científico realizado em dezembro pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) apontam para 120 mil toneladas de sardinha entre Caminha e o Cabo Espichel, um acréscimo de 110% face à biomassa que tinha sido avaliada em dezembro de 2016 (57 mil toneladas)» («Sardinhadas de verão garantidas. Portugal pode pescar quase 10 mil toneladas este ano», Rádio Renascença, 5.04.2018, 8h44).

 

[Texto 9010]

Léxico: «hóstia»

Para se compreender melhor

 

      Hóstia, para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, «partícula circular de massa de trigo sem fermento, que se consagra na missa e é usada no sacramento da Eucaristia». Em geral, circulares, lê-se na Enciclopédia Católica Popular. Não é isso, contudo, o que me parece mal, antes a escassez de informação. Embora religião maioritária, nem todos são católicos. Que digo? Nem todos são crentes. Porque não acrescentar, por exemplo, que a hóstia representa o pão da última ceia de Jesus Cristo, que por sua vez representa o corpo de Cristo? Ou, dito de outra forma, que, na liturgia romana, a hóstia se transforma no corpo de Cristo às palavras da consagração?

 

[Texto 9009]