Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

VIH, VHC e VHB

Porque são iguais

 

      Uma portaria (97/2018) publicada ontem no Diário da República vem permitir que as farmácias prestem outros serviços, e nomeadamente: «Realização de testes rápidos para o rastreio de infeções por VIH, VHC e VHB (testes ‘point of care’), incluindo o aconselhamento pré e pós-teste e a orientação para as instituições hospitalares dos casos reativos, de acordo com as redes de referenciação hospitalar aprovadas e os procedimentos estabelecidos pelas entidades do Ministério da Saúde com competência na matéria».

      Não percebo porque é que, na Infopédia, das siglas VIH, VHC e VHB, apenas a primeira está no Dicionário de Siglas e Abreviaturas, sendo necessário recorrer ao Dicionário de Termos Médicos para saber o que significam as outras duas. O que é igual trata-se de forma igual.

 

[Texto 9033]

Léxico: «colector» e «subcoberto»

Duas vezes bem observado

 

      «O homem primitivo era, então, caçador e colector de frutos silvestres e, portanto, nomadizava à procura de alimento, acolhia-se, aqui ou além, onde o clima fosse mais propício» (Nova História de Portugal, António do Carmo Reis. Lisboa: Editorial Notícias, 1999, p. 17).

      Bem observado, Hamilton Abreu. De facto, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não acolhe esta acepção de colector. Cheguei a reparar nessa ausência, mas depois varreu-se-me. Bem observado, Montexto: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não acolhe o vocábulo subcoberto.

 

[Texto 9032]

Léxico: «cavaleiro»

Cavalo sem cavaleiro

 

      «Chama-se “ColUTAD”. É um porta-enxerto, um clone de castanheiro imune à doença da tinta e foi desenvolvido por investigadores da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Segundo os especialistas, o clone já foi testado com a colaboração de dezenas de agricultores e é imune à doença que destruiu em 20 anos cerca de um milhão destas árvores em Portugal» («Chega ao mercado clone de castanheiro imune à doença da tinta», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 10.04.2018, 17h00).

    O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora remete de porta-enxerto para cavalo, e está certo, são sinónimos. A falha está noutro verbete, relacionado com este: entre as seis acepções de cavaleiro que aquele dicionário acolhe, não se encontra a relativa à enxertia. Imaginem uma videira: a enxertia consiste em unir duas videiras diferentes, ou seja, soldar fisiologicamente as raízes de uma videira (o porta-enxerto ou cavalo) à parte aérea de outra videira (o garfo ou cavaleiro). O cavaleiro adapta-se, pois, à fenda do cavalo, neste tipo de enxertia. Quantos milhares de acepções e termos não faltarão nos dicionários...

 

[Texto 9031]

Léxico: «austrália»

Espécie invasora

 

      «No concelho vizinho de Caminha, na freguesia de Vila Praia de Âncora, Rosa Parente, de 69 anos, tem dois terrenos limpos, mas ao lado o trabalho ainda está por fazer. “Está cheio de austrálias e não vejo maneira de o limparem. Acho que deviam limpar porque assim não tem muito jeito, uns limparem e outros não”, afirmou, lamentando o custo da limpeza de seis mil metros quadrados» («GNR já levantou 71 autos por falta de limpeza de terrenos», Rádio Renascença, 10.04.2018, 17h03).

      Está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, sim, mas a definição pode ser melhorada e corrigida: «BOTÂNICA (Acacia melanoxylon) árvore de médio porte, nativa da Austrália, da família das Leguminosas, tem copa densa, de formato arredondado ou piramidal, folhas verde-escuras, flores amarelas reunidas em capítulos e madeira dura e compacta, de grande durabilidade». Mais rigorosamente, é originária do Sudoeste da Austrália e da Tasmânia. Podia também acrescentar-se que se encontra em todo o País, incluindo os arquipélagos da Madeira e dos Açores. Como também se podia dizer que é uma espécie invasora, impedindo, onde se encontra – margens de vias de comunicação, linhas de água ou orlas ou subcoberto de áreas florestais –, o desenvolvimento da vegetação nativa. Se podemos dizer mais, porque dizemos menos?

 

[Texto 9030]

Léxico: «escarramiçar/escarramiça»

Para os lados de Vinhais

 

      «E quando falamos no ciclo da lã, Maria da Graça logo se apressa a dizer que, para as moças, a parte da ‘escarramiça’ era a mais fascinante porque, no fim, havia baile certo ao som do realejo. Faziam, assim, da ‘escarramiça’ uma noite bem passada, muito alegre e frequentada por amigas ou vizinhas que, sendo raparigas, atraíam um grande número de rapazes que ajudavam a ‘escarramiçar’ e a namorar. ‘Escarramiçar’, palavra que não consta do dicionário português, é, segundo Maria da Graça, uma palavra que só se usa para os lados de Vinhais e significa separar bem os fios, para que a lã fique macia e seja mais fácil fiá-la» («Avós abrem as portas para partilhar memórias e saberes», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 10.04.2018, 9h53).

 

[Texto 9029]

Léxico: «serrada (da velha)»

Antigo? Desapareceu

 

      «As ceifas ou segadas, as malhadas, os ciclos do linho e da lã, a serrada das velhas e os serões à lareira, são atividades e tradições de tempos passados, património imaterial, que a avó Graça quer dar a conhecer a quantos se queiram deslocar à localidade. “Eram tempos ricos, de verdadeiro comunitarismo, de são convívio e amizade”, conta [Maria da Graça Afonso, uma das avós do projecto “Viva@Vó” da Escola Superior de Comunicação, Administração e Turismo de Mirandela (EsACT) do Instituto Politécnico de Bragança]» («Avós abrem as portas para partilhar memórias e saberes», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 10.04.2018, 9h53).

      Se não guardarmos isto nos dicionários, onde o vamos guardar? Nem sequer serrada está nos dicionários actuais. A meu ver, deve dicionarizar-se não apenas serrada, mas também a expressão serrada da velha, que é o nome de uma tradição transmontana. Segundo Alexandre Parafita, no Diário de Trás-os-Montes, vamos encontrar as raízes desta tradição nos antigos ritos de passagem que simbolizavam a expulsão do Inverno. E que foi levada para o Brasil.

 

[Texto 9028]

Como se escreve por aí

Mais cuidado, caramba

 

      «A China», lê-se no sítio da Rádio Renascença, «está a criar o primeiro projeto de chuva artificial em grande escala, nas montanhas do Tibete. O plano é construir câmaras de combustão para levar chuva a 1,6 milhões de quilómetros quadrados, o equivalente a três vezes o tamanho de Espanha» («China prepara sistema de chuva artificial em grande escala», 10.04.2018, 7h57). Nada de novo, até aqui. «Essas câmaras», explicam, «queimam combustível sólido para produzir inseto de prata, um elemento necessário para criar as partículas.» Os processadores de texto têm esta coisa perversa de alterar as palavras e quem escreve, se não estiver atento — como um jornalista devia sempre estar —, vai fazer figuras tristes e, o que é muito pior, vai induzir em erro o leitor. (Quase a propósito: no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, já está corrigido o significado das expressões fazer de urso/fazer figura de urso e fazer figura de urso. Em contrapartida, não se registou a interjeição de bocejo, uah, pelo que vou continuar a ver legitimada a inglesia yawwwwwn, como aconteceu há duas semanas, isto quando aquele dicionário acolhe, por exemplo, «dah». Não compreendo estas opções.) Bem, é iodeto de prata, não «insecto de prata».

 

[Texto 9027]