Sobre «negro»
Até em trabalhos literários
Cláudia Silva, «jornalista e doutora em Media Digitais; investigadora no Madeira Interactive Technologies Institute», publicou hoje um texto no Público sobre «o racismo idiomático de cada dia». Escreve a determinado ponto da tentativa de mais uma asseptização da língua: «Em espanhol, ainda se chama a um ghostwriter um “negro”, uma alusão clara ao conceito de escravo, aquele que trabalha sem ter recompensas ou méritos pelo trabalho que desempenha.» Sim, é verdade: «Persona que trabaja anónimamente para lucimiento y provecho de otro, especialmente en trabajos literarios.» Não encontramos igual acepção nos dicionários da língua portuguesa. Contudo, no Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora, no verbete ghostwriter lê-se isto: «(texto publicado com nome de pessoa conhecida) negro, verdadeiro autor». Como está escrito, a frase parentética não se liga logicamente com o restante. O pior — erro tantas e tantas vezes repetido — é que no verbete negro do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não vamos encontrar tal acepção.
[Texto 9040]