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Linguagista

Carteiros e boletineiros

Ah, e telegramistas

 

      Traduzir postman por «boletineiro»? Não me parece nada bem. São profissões diferentes. Aliás, quantas pessoas, hoje em dia, saberão que ao distribuidor de telegramas, e eu ainda conheci um, se dava o nome de boletineiro? Já que o perguntam, sim, também já houve telegramistas, mas no Brasil: era o nome que se dava à pessoa que, nos jornais, comentava os telegramas recebidos. O mundo, entretanto, deu muitas voltas.

 

[Texto 9055]

Léxico: «despatologização»

Lê-se por aí

 

      «Poucos minutos depois da votação no Parlamento, já a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, se congratulava, em comunicado, pelo passo que fora dado na “despatologização” da transexualidade e na garantia da autodeterminação da identidade de género» («Próximo passo? Abolir marcador de género», Natália Faria, Público, 14.04.2018, p. 12).

   É habitualmente a propósito da sexualidade que se fala de despatologização, mas não apenas: no caso da menstruação, é também esta palavra que os especialistas usam.

 

[Texto 9054]

Ortografia: «hidropisia»

Gralha perigosa

 

      Já sabia isto há algum tempo: anidrópico, lê-se no Dicionário de Termos Médicos da Porto Editora, significa «sem hidropsia». É bem verdade que tal grafia não aparece em mais nenhum dicionário da Porto Editora, e podia passar por mera gralha. O problema é que há quem admita esta grafia como variante de hidropisia, o que me parece, e já uma vez analisei a questão no Assim Mesmo, errado. Convinha, pois, que fosse corrigido.

 

[Texto 9053]

Pernas e patas

Também começa por pê

 

      O autor diz que o cão está «behind one of the legs of the piano»; o tradutor assegura-nos que é «atrás de uma das patas do piano». Não vou afirmar que é a primeira vez que vejo «pata» em vez de «perna». «Deitei-me na manta e seguro uma das patas do piano. Nenhum som sobe no ar e impede que sejamos realmente os solitários de uma noite solitária» (Parasceve: puzzles e ironias, Maria Gabriela Llansol. Lisboa: Relógio D’Água, 2001, p. 35). Acresce, e foi o que logo me ocorreu, qque entre os sentidos de pata não encontramos, como para perna, o de suporte de vários objectos. Conhecem mais algum exemplo?

 

[Texto 9052]

Léxico: «versalhesco»

Não é pejorativo

 

      Sim, versalhesco, cortês, elegante, galante... Vejo que estás muito calado, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. O VOLP da Academia Brasileira de Letras conhece-a, como não a desconhece o tradutor do texto que tenho à minha frente. Não, versalhês tem outro significado. «E refugio-me no tal jardinzinho versalhesco e discreto, com serranias azulinas a distância» (De vita et moribus: casos & almas, António Sardinha. Lisboa: Livraria Ferin, 1931, p. 6).

 

 [Texto 9051]

«Esquecido», de novo

Assim não está bem

 

      Posso voltar atrás? Obrigado. Como bolo seco que é, quase biscoito, ainda aqui tenho esquecidos. Comi agora um e não pude deixar de reparar na sua cor amarelo-esbranquiçada. Na definição da Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, são de cor amarelada, mas não é essa diferença, como é óbvio, que me faz retomar o assunto, mas antes isto: «nome masculino plural». Julgo perceber porque o dizem — para dar a entender que são bolos pequenos, individuais, digamos assim, em contraposição a qualquer bolo à fatia, como bolo podre (que aquele dicionário não regista), por exemplo. Contudo, não concordo com este tratamento lexicográfico, que induz em erro. Não se trata de um plurale tantum, isto é, palavra só usada no plural, como fezes, confins, custas, víveres, por exemplo. Não, não: têm de encontrar outra forma, na definição, de dar a entender que são bolos pequenos, individuais.

 

 [Texto 9050]