Saberá que existem dicionários?
«A Rua da Centieira é a Alfama do Parque das Nações. Com prédios que não passam do primeiro andar, muitos em avançado estado de degradação, não se assemelha em nada às vias largas e modernas da freguesia herdeira da Expo 98. [...] Na esquina da rua, continua de pé a fachada da UTIC, a União de Transportes para Importação e Comércio. Só que, por detrás da fachada, a fábrica de carrocerias de autocarros foi substituída por um condomínio de luxo» («Uma rua do século XIX num bairro do século XXI», Rádio Renascença, 23.04.2018, 8h00).
Carroceria é variante, sim, mas apenas usada no Brasil, onde, em contrapartida, quase não usam a nossa carroçaria. O jornalista não devia ignorar isto, mas enfim. O Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves nem sequer regista aquela variante, que está mais próxima do étimo francês, carrosserie. Não foi apenas a rua que veio do século XIX, mas a própria grafia: no início do século XX, ainda Leite de Vasconcelos dizia que «centeeira» — que é actualmente a única grafia — era alentejanismo. Centeeira é, para quem não sabe, o terreno onde foi semeado centeio. E temos mais topónimos derivados de «centeio».
[Texto 9089]