Arre-burrinho
«Lembro-me de estar sentada sozinha num dos lados de um balancé naquele parque infantil, virada ao contrário, arrasada pelo estímulo excessivo de novos cheiros, dos sons, dos animais a correrem e a esvoaçarem à volta das árvores, de todas aquelas árvores verdes de grande porte» (Aqui e Agora, Ann Brashares. Tradução de Ana Saldanha. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 2014).
Que nos diz o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora sobre balancé? Que é um baloiço. Ora, pelo menos eu, quando penso em baloiço, não é um balancé que me vem à mente — porque são diferentes. Balancé, diga-se já, está há muito na nossa língua. Vamos fazer este exercício simples: ver que palavra está no original daquele excerto. Ei-lo: «I remember sitting alone at one end of a seesaw at that playground, facing the wrong direction, obliterated by the overstimulation of new smells, the sounds, the creatures darting and fluttering around the trees, all those heavy green trees.» Agora, pesquisemos seesaw no Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora: «balancé». E, para os mais cépticos, isto: «to play at seesaw, andar de balancé». Esclarecidos. Afinal, a descrição exacta de um balancé está no verbete gangorra: «Madeira, Brasil brinquedo infantil constituído por uma tábua firmada sobre um eixo, cujas extremidades se elevam ou abaixam alternadamente por impulso de quem lá está sentado; arre-burrinho». Madeira e Brasil... e no continente?
[Texto 9109]