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Linguagista

Da fotodepilação

Toma nota

 

      A fotodepilação, assegura-nos o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é a «eliminação gradual e definitiva do pêlo através da irradiação sobre a pele de uma luz produzida por um laser ou por uma luz pulsada intensa». Eliminação gradual, isso de certeza, mas definitiva? Queriam. Isso não existe. Há vários métodos de depilação de longa duração, mas nenhum é definitivo.

 

[Texto 9160]

Da inveja

Falta o melhor

 

      E eu proponho uma revisão da palavra «inveja», e apenas no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. A inveja, na definição daquele dicionário, é o «desejo de possuir algo que outra pessoa possui ou de usufruir de uma situação semelhante à de outrem; cobiça». Aqui esta catequista toca num aspecto central que falta naquela definição: «Quando uma pessoa se deixa levar pela inveja, age de forma injusta consigo mesma e com os outros, porque sobrevaloriza o que eles têm, mas desejando que não o tivessem.»

 

[Texto 9159]

Léxico: «afiambrado»

Neste não metes o dente

 

      «Dir-se-ia que a Brigitte até me considerava um ser humano à sua semelhança e não o roberto afiambrado desta grande barraca de fantoches trágicos, que vejo habitualmente reflectido nos olhos dela» (Imitação da Felicidade, Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d [1965], p. 110).

      Ó Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, não sejas tão materialista, tão terra-a-terra: afiambrado não é apenas, obviamente, «preparado com fiambre; semelhante a fiambre». Ai que desgosto!

 

[Texto 9158]

Léxico: «monocítico»

Desta não morremos

 

      «Mas talvez esteja a ser injusto comigo: quando (ia eu nos dezassete anos) o meu pai voltou da caça ferido num olho e quando a mãe teve a angina monocítica sofri por eles sem egoísmo» (Imitação da Felicidade, Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d [1965], p. 108).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora também não é egoísta, pois não nos deixa padecer desta doença — desconhece monocítico. As melhoras.

 

[Texto 9157]

«Blastóide»?

Ora vejamos

 

      «“Pela junção do número certo de células num cocktail específico de moléculas, desencadeámos a reacção de auto-organização”, conta ao PÚBLICO Nicolas Rivron. Esses dois tipos de células estaminais embrionárias permitiram assim formar uma estrutura com três dias e meio, tal como se fosse um blastocisto. “Chamámos a esses embriões sintéticos ‘blastóides’ [que significa ‘como o blastocisto’]”» («Criados embriões só com células estaminais pela primeira vez», Teresa Serafim, Público, 3.05.2018, p. 28).

      Era a minha pergunta, já a seguir. De facto, a imprensa francesa fala em blastoïdes, como a anglo-saxónica em blastoids (se bem que no título da Nature esteja «blastocyst-like structures»), e por aí fora, imagino. Blastóides já nós tínhamos: no dicionário da Porto Editora, podemos comprovar que é o nome da «classe de equinodermes desaparecidos, fixos, cujo cálice tinha a forma de um botão de rosa e que viveram do Ordovícico ao Pérmico». E etimologicamente, blastóide designa apenas o que tem forma de botão, de gérmen.

 

[Texto 9156]

Léxico: «pluriblasto»

Fez gazeta

 

      «“Cerca de cinco dias após a fertilização, antes de se implantar no útero, o embrião é uma estrutura mais complexa chamada ‘blastocisto’”, explica-se no livro de banda desenhada Uma Aventura Estaminal com argumento de João Ramalho Santos e desenhos de André Caetano. O blastocisto tem dois tipos de células estaminais: as células do pluriblasto e as do trofoblasto. As células do pluriblasto estão dentro do blastocisto e irão formar o feto» («Criados embriões só com células estaminais pela primeira vez», Teresa Serafim, Público, 3.05.2018, p. 28).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora faltou a essa aula de Biologia, pois desconhece o que é o pluriblasto.

 

[Texto 9155]

Como escrevem alguns jornalistas

Um esforçozinho, vá

 

      «Abbas também negou que os judeus ashkenazi — oriundos do centro e leste europeu; os da Península Ibérica são os sefarditas — sejam semitas» («Judeus foram perseguidos pela sua usura, diz Abbas», Ana Gomes Ferreira, Público, 3.05.2018, p. 27).

      Ana Gomes Ferreira, aqui que ninguém nos ouve, não escreva assim: em português é asquenaze. Logo, «judeus asquenazes». Vá, um esforçozinho, que eu também me esforço para pagar a assinatura.

 

[Texto 9154]

Ah, cárnico...

Original, isso?

 

      «Quanto a escolhas cárnicas, há bifes – da vazia e de lombo de novilho –, espetada de lombinho de porco enrolado em bacon com camarão e batata salteada; magret de pato sobre salada verde, citrinos, regado com vinagrete de Vinho do Porto; carré de borrego com legumes e puré de batata-doce roxa» («Entre a serra e o mar há um moderno recanto algarvio», António Catarino, TSF, 3.05.2018, 14h03).

      O que eu me rio, há anos, com estes epígonos de José Quitério... É assim que entendem a originalidade. Alguns até sabem umas lascas da língua, mas depois confundem um pouco as coisas. Saiba António Catarino que «cárnico», essa palavra tão industrial, é castelhano.

 

[Texto 9153]

Léxico: «sobretal»

Também lhe deram sumiço

 

      «Sobretal, a modista havia-lhe mandado três vestidos mal feitos e isso enfurecia-a como se lhe tivessem assaltado a casa» (Imitação da Felicidade, Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d [1965], p. 102).

      Ainda o regista — «finalmente; em conclusão» ­— José Pedro Machado no seu Grande Dicionário da Língua Portuguesa, depois, é o silêncio, e quem se amola é o falante.

 

[Texto 9152]