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Linguagista

Léxico: «transcri(p)toma»

Todos os dias

 

      Na emissão de hoje do programa 90 Segundos de Ciência, na Antena 1, Isabel Cunha, investigadora no CIIMAR (Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental), usou os termos proteoma e transcri(p)toma. Este último, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não acolhe, e, quando o fizer, convém que acolha igualmente as acepções relacionadas de transcrição e transcrito.

 

[Texto 9177]

Léxico: «passarinha»

Nem porco nem azeitona

 

      Ainda neste domínio da pesca, uma palavra vulgarmente usada é passarinha, que para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora é somente o nome do «baço do porco, das aves, etc.» ou uma «variedade de azeitona», mas que também designa um apoio para a cintura onde descansa a cana de pesca. Não sei mais porque não sou pescador. O que tenho como certo é que faltam milhares de acepções e de termos nos dicionários, e a culpa não é minha.

 

[Texto 9176]

Léxico: «paragem biológica»

Convém recolher

 

      «Várias associações de pescadores e armadores do Algarve já foram a Lisboa, à Secretaria de Estado das Pescas, pedir que se faça uma paragem biológica, um defeso para a espécie. E também subsídios para esse tempo de paragem» («Pesca do polvo está a cair a pique, alertam pescadores», Maria Augusta Casaca, TSF, 7.05.2018, 8h29).

      Creio que é a primeira vez que deparo com a expressão paragem biológica. É o que habitualmente se designa por defeso. Nos dicionários, paragem só cardíaca.

 

[Texto 9175]

Léxico: «covo»

E no mar

 

      «Muitos pescadores explicam que os covos, as armadilhas feitas de rede, acabam por prejudicar a pesca. E defendem a utilização de alcatruzes, uma espécie de potes onde o polvo pode sair se não tiver o tamanho adequado» («Pesca do polvo está a cair a pique, alertam pescadores», Maria Augusta Casaca, TSF, 7.05.2018, 8h29).

      Que eu saiba, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora é o único dicionário que, na definição de covo, afirma que é uma arte para pescar nos rios: «espécie de cesto de vime usado para pescar nos rios». Não é. Corrija-se.

 

[Texto 9174]

Léxico: «centia»

Não sabemos

 

      «Fui procurar um amigo, de boa cepa ribatejana, que hoje vive nos Trópicos e morava então numa atravancada mansarda da Rue Monsieur le Prince, estilo goliardo, depois de haver fugido aos estudos em Lisboa, onde se achava mais preso do que em centia de galé» (Imitação da Felicidade, Urbano Tavares Rodrigues. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d [1965], p. 177).

      É um caso curiosíssimo: ninguém sabe ao certo, creio, o que significa este «centia». Pode ser, não é raro, tratar-se de gralha. Ainda assim, há dicionários que o acolhem, sem o definirem, obviamente. Para quê? E para que o usa um escritor, não se sabendo o seu significado? Percebe-se, convenho, o sentido negativo, mas não me parece isso suficiente. Algum lexicógrafo o encontrou no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende e logo o entesourou: «vejome remeyro preso—em centia de gualee».

 

[Texto 9173]

Léxico: «barbas»

Mais ciência

 

      De barbas, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora apenas diz que são os «filamentos córneos e flexíveis existentes na boca de certos cetáceos». Não é mentira, mas podia dizer mais e melhor. Bem rijas, sim: não eram usadas, por exemplo, nos espartilhos? Devia dizer que são estruturas rígidas de queratina (como o nosso cabelo ou as nossas unhas), que na baleia servem para filtrar os alimentos. Quando abre a boca, a baleia-comum deixa entrar muita água e, ao comprimir a língua contra o céu-da-boca, força a água a passar pelas redes das barbas, onde ficam retidos os alimentos.

 

[Texto 9172]

Léxico: «toneira/piteira/palhaço»

E aqui há palhaços

 

      E que mais? Vi também toneiras com caixa de cortiça utilizadas na pesca da lula (squid jigs, para a legião de anglófonos que nos segue). Toneira ou piteira (ambos ignorados pelo Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora) é uma pequena peça fusiforme de chumbo, forrada de plástico ou com linha de algodão. Cada uma tem uma coroa de alfinetes numa extremidade para capturar os cefalópodes e, na ponta oposta, um pequeno orifício para prender a linha, ou pita, que se eleva até à mão do pescador, à superfície. E quem fala de toneira ou piteira também fala de palhaço, uma peça de plástico em forma de peixe, ou camarão, forrada a várias cores, e com uma ou duas coroas de alfinetes, usado sobretudo na captura de polvo, também ausente daquele — de todos? — dicionário.

[Texto 9170]