Léxico: «pato-mudo»
A realidade
«O portão [do Jardim Botânico Tropical] abre às 9 e, por essa altura, já os verdadeiros donos do lugar – os patos-mudos – se bamboleiam entre o lago principal e as figueiras-da-Austrália [sic] majestosas, ao som dos gritos dos poucos pavões locais e do cacarejar das galinhas da vizinha presidência» («Azulejos e patos», Rosa Ruela, Visão, 10.05.2018, p. 113).
O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora diz-nos que pato-mudo é o «indivíduo que, nas assembleias deliberativas, de modo especial no parlamento, não faz uso da palavra». Não dirão todos o mesmo? Acho que sim. E, no entanto, não está correcto. Na obra 1493 – A Descoberta do Novo Mundo Que Cristovão Colombo Criou, de Charles C. Mann (tradução de Artur Lopes Cardoso. Alfragide: Casa das Letras, 2012, p. 72), lê-se que «o pato-mudo, nativo da América do Sul» era dos pouquíssimos animais domesticados das Américas pré-colombianas. Mais uma vez, é claro que a realidade está milhas (e centúrias) à frente dos dicionários. Vamos lá corrigir, se faz favor.
[Texto 9220]