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Linguagista

Mestra-de-cerimónias

Algum problema?

 

      A Associação Acredita Portugal acabou de me enviar uma mensagem de correio electrónico em que anuncia «E a mestre de cerimónias da Gala é...», a que se segue um tambor a rufar. Então agora não se faz a concordância? Se a apresentadora é a radialista Ana Galvão, é uma mestra-de-cerimónias, com certeza. Já não me vou inscrever, como protesto solidário. Tem aqui início o movimento #EuTambém. Ou as mulheres querem ser médicos, poetas e mestres? Algumas querem, eu sei.

 

[Texto 9267]

Léxico: «cicuta-verde»

De uma vez, quatro

 

      «Onze pessoas já morreram e 800 estão gravemente doentes em dez províncias do Irão por terem comido o mais temido e mortal dos cogumelos venenosos, o Amanita phalloides (cicuta verde)» (Público, 22.05.2018, p. 28).

      No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, cicuta só a planta herbácea. Pois, mas esta é a cicuta-verde (Amanita phalloides), o fungo mortalmente venenoso, pertencente ao género Amanita, também conhecido como ovo-bastardo e chapéu-da-morte, nenhum dos quais acolhido por aquele dicionário. Como também não regista, agora que falamos em cores, chá branco.

 

[Texto 9266]

Léxico: «farejador»

Vejo-o pela primeira vez

 

      «As corporações de bombeiros locais, juntamente com os cães farejadores da polícia municipal, continuam as buscar [sic] por estas pessoas» («Prédio colapsa em Madrid. Duas pessoas estão desaparecidas», Inês André de Figueiredo, TSF, 22.05.2018, 19h08).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora apenas regista, por sugestão minha, pisteiro (aqui). Cão farejador creio que é no Brasil que se diz. Ainda pensei que a jornalista estivesse a copiar o que se escreveu no jornal El Mundo, mas não. E, no entanto, mais valia que copiasse o título: «Dos obreros desaparecidos en el derrumbe de un edificio en obras en el Paseo del General Martínez Campos de Madrid».

 

[Texto 9265]

Islão sunita: as escolas

Para evitar subjectivismos

 

      Vai por aí uma grande trapalhada no aportuguesamento dos nomes das quatro escolas jurídicas ortodoxas no Islão sunita. Não há nenhum dicionário, segundo creio, que registe todos os quatro, e mais comum é não registarem sequer um. Essas escolas de teologia sunitas tomam o nome dos seus fundadores. Temos, assim, a escola hanifita, do imã Abu Hanifah; a escola maliquita, do imã Malik Ibn Anas; a escola xafiita, do imã Mohammad Idris al-Shafi’i; e a escola hanbalita, do imã Ahmad ibn Hanbal. Seria bom podermos contar com os lexicógrafos para fixar a ortografia destes vocábulos que, afinal, sempre se vão usando, como ainda hoje tive oportunidade de ver.

 

[Texto 9264]

«Zona intermarés»

Temos melhor

 

      «“Pode-se passear na zona intermarés, esta foi uma das soluções que nasceu das sessões de participação publica [sic]. A nossa monitorização biológica tinha demonstrado que grande parte do impacto no ecossistema vinha do pisoteio desorganizado e então a solução avançada foi criar trilhos de visitação para as pessoas poderem caminhar em zonas apropriadas”, defende Joana Pinto Balsemão [vereadora do Ambiente da Câmara Municipal de Cascais]» («Área Marinha Protegida nasce em Cascais», José Milheiro, TSF, 22.05.2018, 11h26).

      Com o adjectivo intermareal, temos uma melhor solução, não é assim, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora?

 

[Texto 9263] 

Pobre Garcia de Orta

A sofrer desde o século XVI

 

      «Há 20 anos foi assim. Recordações da Expo 98» (Carolina Rico, TSF, 22.05.2018, 6h36). Uma série de fotografias e, numa delas, esta legenda: «Jardim Garcia da Horta». Eu digo que são indocíveis, mas deixam-se rir. Está bem. Já no início do século XX, na Revista da Universidade de Coimbra, se escrevia: «Não há nome que tenha sido mais estropiado que o de Garcia d’Orta. Os documentos universitários, que, no apontar da sua vida de professor, são de erro corrente, arquivaram-o como Garcia d’Ota, Francisco d’Orta e Henrique d’Orta.»

 

[Texto 9262]

Léxico: «mirmecólogo»

Não temos especialista

 

      «Eduardo Sequeira [biólogo] é o mentor de um projeto, denominado “Formigarium”, que consiste na instalação e posterior venda de colónias de formigas em caixas de acrílico transparentes que permitem a observação dos insetos» («Biólogo de Évora quer “transformar” formigas em animal de estimação», Rádio Renascença, 21.05.2018, 22h01).

    Também terrário tardou a chegar aos dicionários, e agora já ninguém estranha. Formigário (Formigarium é o nome comercial), pois, e não se pense que foi inventada agora. Já por aí anda. Se em inglês se tem de dizer ant farm, nós temos uma forma mais sintética. Mas... esperem... o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista o vocábulo mirmecólogo!

 

[Texto 9261]