Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Léxico: «trólebus»

País irmão...

 

      «Só 1,5% da frota de ônibus da cidade é abastecida por combustíveis não fósseis. Segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade e Transportes, dos 14.447 ônibus em operação, 201 são trólebus (elétricos), 10 são movidos a etanol e um a bateria, em teste» («Só 1,5% da frota não é a diesel», Metro São Paulo, 18.07.2018, p. 2).

      E eu que pensava que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora registava todos os brasileirismos.

 

[Texto 9651]

Léxico: «geraseno»

Tão católicos...

 

      «Não percebo por que tinham esses porcos que morrer, está bem que jesus tenha feito o milagre de expulsar os espíritos imundos do corpo do geraseno, mas consentir que eles entrassem nuns pobres porcos que nada tinham que ver com o caso, nunca me pareceu uma boa maneira de acabar o trabalho, tanto mais que, sendo os demónios imortais, porque se não o fossem deus ter-lhes-ia acabado com a raça logo à nascença, o que eu quero dizer é que antes que os porcos tivessem caído à água já os demónios se haviam escapado, em minha opinião jesus não pensou bem» (A Viagem do Elefante, José Saramago. Lisboa: Editorial Caminho, 2008, 3.ª ed., p. 80).

      Geraseno. No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: ✘. No VOLP da Academia Brasileira de Letras: ✔. Ah, e mais duas ✘ ✘ para o dicionário da Porto Editora: gergeseno, gadareno.

 

[Texto 9650]

Tradução: «cherry picker»

É como se não existisse

 

      Os bombeiros foram chamados para salvarem um cachorrinho que estava num telhado. Isto foi em Plymouth, e por isso «the rescuers used a cherry picker to rescue the tiny pooch, which appears to be a breed of spaniel». A questão é como traduzir cherry picker, «a hydraulic crane, esp one mounted on a lorry, that has an elbow joint or telescopic arm supporting a basket-like platform enabling a person to service high power lines or to carry out similar operations above the ground» (in Collins). Como era de prever, não se encontra nos dicionários bilingues — e o equivalente em português não está nos nossos dicionários. Costuma usar-se a designação descritiva plataforma de cesto.

 

[Texto 9649]

Tradução: «rissaga»

Tudo menos em português

 

      «Um turista alemão morreu segunda-feira, em Maiorca, arrastado pelo que poderá ter sido um mini-tsunami [sic], avança a imprensa espanhola. O homem, de 53 anos, estava com a mulher e dois filhos quando foi surpreendido por uma “rissaga” ou tsunami meteorológico» («Mini-tsunami mata turista em Maiorca», Rádio Renascença, 17.07.2018, 22h18).

      Como aconteceu em Maiorca, a palavra tem de ser em catalão? A rissaga é a nossa... ressaca: «refluxo violento das vagas que se quebram contra um obstáculo» (in Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora). Difícil, não é? Já na TVI 24 tiveram de recorrer ao inglês, coitados: «Também esta manhã as praias próximas foram inundadas por uma onda conhecida como “meteotsunami”. O fenómeno climático anormal que afetou as estâncias de férias em Maiorca, deixou bares e terraços inundados pela água do mar ao longo da costa de Andratx e cobriu as estradas junto à praia.»

 

[Texto 9648]

Léxico: «mosca»

Acertei na muche

 

      «Bullseye» — era a solução da 18 horizontal: «dartboard’s red centre». Isso de ser vermelho é que não é bem assim. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, que desconhece esta acepção de mosca, acolhe alegremente mouche, que remete para muche: «zona central de um alvo de tiro». No Michaelis: «Sinal preto colocado no centro de um alvo, que serve de ponto de referência para o atirador.»

 

[Texto 9647]

Léxico: «rezo»

Familiar, o m. q. reza

 

      «O rei, se estiver presente, fará de conta que não ouviu, e o secretário de estado, o mesmo pêro de alcáçova carneiro que já conhecemos, embora não seja pessoa de rezos, baste recordar o que disse da inquisição e sobretudo o que achou prudente calar, lançará uma súplica muda aos céus para que cubram o elefante com um espesso manto de olvido que lhe modifique as formas e o confunda, nas imaginações preguiçosas, com um dromedário qualquer, bicho também de raro aspecto, ou com um qualquer camelo, a quem a fatalidade de carregar com duas bossas realmente não favorece, e muito menos lisonjeia a memória de quem se interesse por estas insignificantes histórias» (A Viagem do Elefante, José Saramago. Lisboa: Editorial Caminho, 2008, 3.ª ed., p. 35).

      Rezo. No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: ✘. No VOLP da Academia Brasileira de Letras: ✔.

 

[Texto 9646]

Léxico: «multirrisco»

Isso não me convence

 

      «Mais custos também é o que decorre da obrigação de os proprietários de um alojamento local terem um seguro multirriscos que cubra danos acrescidos nas partes comuns dos prédios e de disporem de um livro de informações em pelo menos duas línguas estrangeiras, além do inglês, onde especifiquem as regras gerais do prédio bem como os cuidados a ter para evitar perturbações que causem incómodo e afetem o descanso da vizinhança» («Alojamento local pode agravar a quota do condomínio em 30%», Conceição Antunes e Elisabete Miranda, Expresso Diário, 17.07.2018).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista multirrisco — «adjectivo invariável, nome masculino de 2 números». No Vocabulário Ortográfico Português, do ILTEC, porém, «multirrisco» é, quanto ao número, biforme. A propósito: porque é que todos os dicionários nos verbetes biforme e uniforme se referem apenas ao género? Biforme e uniforme também dizem respeito ao número. Corrijam, se fazem favor.

 

[Texto 9645]

Léxico: «timbila»

Pelo menos da mesma extensão

 

      «Timbila Muzimba é uma orquestra de Timbilas, instrumento da família do xilofone, que junta instrumentos e sons tradicionais com instrumentos e sons contemporâneos de Moçambique» («A magia das Timbilas promete enfeitiçar Amarante», Miguel Fernandes, TSF, 17.07.2018, 17h31).

      Por qualquer motivo, que eu até prefiro não conhecer, o jornalista acha que tem de escrever o nome de um instrumento musical com maiúscula inicial. Timbila, então. Está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, pois está, mas a definição é paupérrima: «Moçambique marimba; xilofone». Não queria, evidentemente, que tivesse a definição enciclopédica que encontramos num texto de apoio da Infopédia, nem que se referisse que antigamente se usava madeira de muhesse (vocábulo que aquele dicionário ignora), depois substituída por muenge ou mwenje (que aquele dicionário não regista, mas acolhe o moçambicanismo mwene), ou que os ressoadores (acepção que aquele dicionário ignora) são fechados com cera para não vibrarem tanto. Não, não queria tanto. Queria que a definição de timbila tivesse pelo menos a extensão e riqueza informativa da definição de dimbila, uma variação daquele instrumento.

 

[Texto 9644]