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Linguagista

Léxico: «nobelizar»

Pois se se usa

 

      «Nessa altura, as duas grandes estrelas do departamento de Física do Caltech eram os nobelizados Richard Feynman e Murray Gell-Mann, entre os quais havia uma forte rivalidade» (A Minha Breve História, Stephen Hawking. Tradução de Pedro Elói Duarte. Lisboa: Gradiva, 2014, p. 74).

      Nobelizado — o que pressupõe um verbo, nobelizar. Nobelizável já o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora tem.

 

[Texto 9660]

«Consistir em», de novo

Como usar o verbo

 

      «Tanto Michell como Laplace consideravam que a luz consistia de partículas, como balas de canhão, que podiam ser abrandadas pela gravidade e obrigadas a voltarem para a estrela» (A Minha Breve História, Stephen Hawking. Tradução de Pedro Elói Duarte. Lisboa: Gradiva, 2014, p. 64).

      Saberão os tradutores e os revisores que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora tem, ainda não para todos, evidentemente, notas sobre a regência dos verbos? Em certa medida, já substitui, pelo menos nestes casos mais básicos, um mais completo e específico verbo de regências.

 

[Texto 9659]

Léxico: «unitariedade»

Não é singular

 

      «De facto, a escola de Cambridge, em especial, defendia que não existia uma teoria de campo subjacente. Ao invés, tudo seria determinado pela unitariedade — ou seja, pela conservação da probabilidade — e por certos padrões característicos nas colisões de partículas» (A Minha Breve História, Stephen Hawking. Tradução de Pedro Elói Duarte. Lisboa: Gradiva, 2014, p. 42).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora faltou a esta aula, mas acolhe, por exemplo, uma boa definição de singularidade, no sentido da Astronomia e da Física.

 

[Texto 9658]

Monte Ararate

É claro que se atrevem

 

      «Viajámos de comboio até Istambul e, depois, para Erzurum, no leste da Turquia, perto do monte Ararate» (A Minha Breve História, Stephen Hawking. Tradução de Pedro Elói Duarte. Lisboa: Gradiva, 2014, p. 39).

      Talvez o tradutor pensasse: «Só “Ararat” é que não tem cura. Com este ninguém se atreve.» Eu sabia desta tripla ortografia — Arará, Ararat, Ararate —, mas ver outra que não Ararat é que é mais raro. (Entretanto, a edição é de 2014, espero que tradutor e revisor já saibam que é «Leste da Turquia». Ainda mais estranho: só numa citação (!) grafam «Universo» com maiúscula — mas, como a obra tem revisão científica de Carlos Fiolhais, deve ser imperativo científico.)

 

[Texto 9657]

«In loco parentis»

Mais um pouco de latim

 

      «Nessa altura, os colégios eram vistos como in loco parentis (o lugar dos pais), o que significava que eram responsáveis pela atitude moral dos alunos» (A Minha Breve História, Stephen Hawking. Tradução de Pedro Elói Duarte. Lisboa: Gradiva, 2014, p. 36).

      Não sei se os leitores percebem assim, parece-me equívoco. A melhor tradução é «no lugar dos pais», que é, de facto, essa doutrina de que a escola assume a responsabilidade dos pais, está em vez, em lugar dos pais.

 

[Texto 9656]

Frases começadas por «E»

Serve de exemplo ou não?

 

      «Antes de regressarmos, lemos todo o Génesis e parte do Êxodo. Uma das principais coisas que aprendi com este exercício foi não iniciar uma frase com “E”. Quando observei que a maioria das frases da Bíblia começava com “E”, o tutor disse-me que o inglês tinha mudado desde a época do rei Jaime. Nesse caso, repliquei, porque nos obrigava a ler a Bíblia? (A Minha Breve História, Stephen Hawking. Tradução de Pedro Elói Duarte. Lisboa: Gradiva, 2014, p. 23).

 

[Texto 9655]

Gotinga

Nada de estranho

 

      «Isto porque, durante a Segunda Guerra Mundial, os Alemães se haviam comprometido a não bombardear Oxford e Cambridge; em compensação, os Ingleses não bombardeariam Heidelberga nem Gotinga» (A Minha Breve História, Stephen Hawking. Tradução de Pedro Elói Duarte. Lisboa: Gradiva, 2014, p. 11).

      Gotinga, pois claro. As formas vernáculas dos topónimos estrangeiros só são estranhas se não as usarmos. Até porque Göttingen dá muito mais trabalho a escrever, desde logo pelo trema, que nem todos conseguem obter nos teclados (coitados).

 

[Texto 9654]

Léxico: «benefício»

Vinho do Porto

 

      «A decisão saiu da reunião do conselho interprofissional do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), que fixou o número de pipas (550 litros cada) a beneficiar. O benefício é a quantidade de mosto que cada vitivinicultor pode destinar à produção de vinho do Porto» («Vindima de 2018 vai dar 116 mil pipas de vinho do Porto», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 18.07.2018, 10h55).

      Pois é, o benefício consiste nisso, pelo que a definição do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora está errada: «tratamento do vinho com aguardente». Ou melhor: precisa de outra acepção.

 

[Texto 9653]

Léxico: «Bagandas/baganda»

Mais importante do que o rinoceronte

 

      «A pertença à família nas diversas comunidades africanas inclui os filhos adoptados e os acolhidos, os servos, os escravos e os seus filhos, como entre os Bagandas no Uganda» («A família na África», Philomena N. Mwaura, L’Osservatore Romano, 1.10.2015).

      Pois, Gandas ou Bagandas, povo do Centro do Uganda, constituído por cerca de 6 milhões de indivíduos, que falam uma língua banta. O reino dos Gandas surgiu por volta do século XVI e, mais tarde, em 1900, foi englobado nas colónias britânicas. Vamos encontrar baganda no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas para significar a «pessoa ordinária e desordeira», como também ali vemos ganda, «nome dado ao rinoceronte, na Índia», mas não o nome do povo. Ora, há vários textos em língua portuguesa, entre artigos de jornais e livros, em que foi usado.

 

[Texto 9652]