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Linguagista

Léxico: «bioplastia»

Para quando?

 

      «Na delegacia, ele afirmou que a paciente estava lúcida e bem, e que só no hospital soube que ela teve uma trombose. O médico também disse que a bioplastia é uma técnica minimamente invasiva» («‘Dr. Bumbum’ e mãe são presos no Rio», Metro São Paulo, 20.07.2018, p. 6).

      Não temos, em Portugal, um Dr. Bumbum, mas também se fazem cá bioplastias — os dicionários é que não sabem disso.

 

[Texto 9669]

Léxico: «desacautelar-se»

Não digo mais

 

      «“Facilitou e desacautelou-se quando não o devia”, sentenciaram os desembargadores, determinando que 7500 euros — e não 2500 — serão já susceptíveis de “consubstanciar um lenitivo para a dor moral e desgosto sofrido” pelo vendedor de materiais de construção» («SIC condenada a pagar 7500 euros por se enganar na chave do Euromilhões», Natália Faria, Público, 19.07.2018, p. 15).

      A pergunta que se impõe é se a nota sobre a regência deste verbo está correcta no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Não se estará a esquecer o que se diz do verbo acautelar?

 

[Texto 9668]

Léxico: «multissectorial»

E há quem ajude

 

      «Cláudia Azevedo e Paulo Azevedo herdaram o legado de um grupo multisectorial fundado pelo seu pai, Belmiro de Azevedo» («Paulo Azevedo reforça separação da gestão da família da do grupo», Rosa Soares, Público, 19.07.2018, p. 18).

      Isto de não estar nos dicionários — não o regista o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, por exemplo — também contribui para estes erros, pese embora ser tão básico.

 

[Texto 9667]

Léxico: «ansio-depressivo»

Existem ambas

 

      «O relatório médico do psiquiatra apontou-lhe “um quadro ansio-depressivo reactivo, compatível com o diagnóstico de reacção de adaptação mista com humor depressivo e ansiedade”» («SIC condenada a pagar 7500 euros por se enganar na chave do Euromilhões», Natália Faria, Público, 19.07.2018, p. 15).

      Ora essa, então os dicionários não acolhem maníaco-depressivo, todos os dicionários? Assim, também ansio-depressivo deve estar nos dicionários.

 

[Texto 9666]

Tradução: «to interview»

Isso mesmo, básico

 

     Ah, os nossos dicionários bilingues... «Police interview Grenfell ‘manslaughter’ suspects» (Margaret Davis, Metro UK, 19.07.2018, p. 9).

     Para o Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora, to interview é tão-só «entrevistar, ter uma entrevista com» — justamente o que a polícia menos há-de fazer, excepto quando quer contratar alguma imigrante para lavar o chão das esquadras. Ora, interview é também «a session of formal questioning of a person by the police». Básico, pois, e por isso mesmo tinha de estar num dicionário bilingue. Básico, mas a quantos erros em traduções não dará origem.

 

[Texto 9665]

Tradução: «to walk on eggshells»

Seria melhor

 

      «Legal experts believe the ruling could have implications for the media. Nicola Cain, of law firm RPC, said: ‘The media is going to have to walk on eggshells when reporting on police investigations from now on’» («Emotional Cliff gets £210k in privacy battle victory over BBC raid story», Joel Taylor, Metro UK, 19.07.2018, p. 7).

      No Dicionário de Inglês-Português da Porto Editora lê-se, e está correcto, que «to walk on eggshells» se pode traduzir por «ter mil cuidados». Contudo, ainda estaria mais correcto se, além da explicação, a uma expressão idiomática fizesse corresponder outra expressão idiomática. No caso, até podia (mas há outras) ser «pisar ovos», que significa conduzir-se com cautela, habilidade, diplomacia.

 

[Texto 9664]

Léxico: «meningocócico»

Não será por falta de espaço

 

      «A meningite meningocócica é uma doença bacteriana transmitida de pessoa para pessoa através de gotículas de saliva, como[,] por exemplo[,] quando se tosse, espirra, dá beijos ou há grande proximidade física» («Criança diagnosticada com meningite em Guimarães», Rádio Renascença, 19.07.2018, 16h40).

      Não quero transformar os dicionários em manuais de tudo e mais alguma coisa, neste caso, em manual de Medicina, mas, francamente, há mínimos: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora nem sequer regista o adjectivo meningocócico, e meningite poucas palavras merece: «MEDICINA inflamação das meninges, sobretudo da aracnóide». Agora vejam: «inflammation of the meninges and especially of the pia mater and arachnoid; specifically: a disease marked by inflammation of the meninges that is either a relatively mild illness caused by a virus (such as various Coxsackieviruses) or a more severe usually life-threatening illness caused by a bacterium (especially the meningococcus, Neisseria meningitides, or the serotype designated B of Haemophilus influenzae)

     NOTE: Meningitis is often marked by fever, headache, vomiting, malaise, and stiff neck, and if left untreated in bacterial forms, may progress to confusion, stupor, convulsions, coma, and death» (in Merriam-Webster).

 

[Texto 9663]

Léxico: «astenosfera»

Está tudo dito

 

      «A Lua é um satélite da Terra, com uma constituição interna similar. Possui uma crosta fina (60 km), a litosfera relativamente uniforme (60-1000 km) e a astenosfera parcialmente líquida (1000-1740 km)» («Descobertas científicas», Alda Rocha, Expresso Diário, 19.07.2018).

      No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «GEOLOGIA camada plástica e moldável do manto terrestre situada abaixo da litosfera, pouco compacta e formada por materiais parcialmente fundidos». Não se trata daquela treta do aterrar/alunar, mas reparem: «a zone of a celestial body (such as the earth) which lies beneath the lithosphere and within which the material is believed to yield readily to persistent stresses» (in Merriam-Webster).

 

[Texto 9662]

Léxico: «escravo»

Mal definido

 

      «Angola, Brasil e Moçambique são os países lusófonos com maior número de “escravos modernos”, totalizando 720.000 habitantes nestas condições, segundo um relatório da fundação australiana Walk Free apresentado esta quinta-feira nas Nações Unidas. [...] No contexto do relatório, a “escravatura moderna” abrange um conjunto de conceitos jurídicos específicos, incluindo trabalho forçado, servidão por dívida, casamento forçado, tráfico de seres humanos, escravidão e práticas semelhantes à escravidão» («Há 720 mil “escravos modernos” em Angola, Moçambique e Brasil», Rádio Renascença, 19.07.2018, 18h28).

    Tudo elementos úteis para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora vir a ter uma boa definição de escravo, o que actualmente não acontece. Agora, nem os escravos antigos nem os escravos modernos estão satisfatoriamente definidos. (Na página da Internet da Fundação Walk Free, nunca são usadas aspas.)

 

[Texto 9661]