Os juízes e a língua
«O acórdão do TRL, a que a agência Lusa teve esta terça-feira acesso, assinado pelos juízes Carlos Espírito Santo e Cid Geraldo, altera a decisão do Tribunal de Loures que absolveu os arguidos, num processo de 2012, quando o assistente (juiz Neto de Moura) foi fiscalizado por uma brigada da GNR, no concelho de Loures, no momento em que circulava sem chapas de matrícula na viatura. [...] “Apesar da cena Hollywoodesca, o assistente manifestou naturalmente desagrado pela mesma dizendo somente ‘isto é um festival’, o que naturalmente não reflete qualquer atitude ofensiva, intimidatória, de provocação ou agressão”, salienta a Relação de Lisboa» («Militares da GNR condenados a pagar a juiz», TSF, 24.07.2018, 7h01).
No fundo, pode dizer-se tudo às autoridades policiais — ou podem dizer alguns, porque outros levam logo com o bastão na espinha. E agora os erros: não é «Hollywoodesco», meritíssimo, é hollywoodesco — os adjectivos derivados de nomes próprios não se grafam com maiúscula. O «pela mesma» nem vale a pena comentar. E agora a lógica: «Apesar da cena Hollywoodesca, o assistente manifestou naturalmente desagrado pela mesma». Como se a adjectivação obrigasse alguém a gostar de semelhante cena. Fica claro que os juízes pouco hão-de ler, se que é que alguma coisa lêem, e isso nota-se muito.
[Texto 9700]