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Linguagista

Mais um prosónimo

Cidade Branca

 

      «Telavive impressiona sobretudo pela surpresa que emana. É uma espécie de Paris, Amesterdão e Londres em versão tropical. Sabemos que o seu centro histórico é Património da Humanidade mas nada nos prepara para a sucessão de obras emblemáticas da arquitetura Bauhaus assinadas por Zeev Rechter, Erich Mendelsohn, Dov Carmi, entre muitos outros. São mais de quatro mil edifícios dispostos de forma clara e luminosa no centro da cidade. A maior concentração de exemplos Bauhaus em todo o mundo formando uma exclusiva Cidade Branca, topónimo pelo qual a cidade é (re)conhecida» («Amar no país mais odiado do mundo», Ana Cancela, TSF, 10.08.2018, 18h42).

      Sabe grafá-la, o que não se vê todos os dias, mas não sabe explicá-la. Cidade Branca é um prosónimo, um cognome. Logo, a jornalista tinha de dizer que Cidade Branca é o outro nome por que Telavive é conhecida.

 

[Texto 9759]

«Meia-pensão» e outros regimes

A língua de férias

 

      «Palavras como “meia pensão” ou “pensão completa” vão precisar de um dicionário etimológico para serem descodificadas, se as que têm resistido a mudar de nome capitularem também. Restará a Pensão Estrelinha, que Herman José imortalizou num réveillon de 1990 para 1991» («O néon da Grande Pensão Alcobia vai ser desligado», Isabel Salema, «P2»/Público, 10.08.2018, p. 3).

      E porquê dicionário etimológico, Isabel Salema? Esqueçamos isso. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora grafa-as a ambas com hífen: meia-pensão e pensão-completa. Quanto à primeira, não tenho dúvidas, já a segunda... Quase alemão, Vollpension, Halbpension. Espreitemos, já agora, a definição de meia-pensão naquele dicionário: «regime turístico em que as pessoas têm direito ao pequeno-almoço e ao almoço ou jantar». Podia ser mais conciso e, parece-me, rigoroso. Ao que creio, no regime de meia-pensão, são servidos pequeno-almoço e, habitualmente, jantar, excepto se o cliente (palavra que se devia usar na definição) e a unidade hoteleira acordarem de forma diferente. A palavra «turístico» da definição também não me convence. A minha proposta: «Meia-pensão, regime de alojamento em que são servidos pequeno-almoço e, normalmente, jantar.»

 

[Texto 9758]

Léxico: «lagartixa-adamastor» e «musaranho-fingui»

E mais estes dois

 

      «Luís Ceríaco percebeu o que estava ali e, em Junho de 2015, apresentou a lagartixa-adamastor (Trachylepis adamastor) ao mundo da ciência, num artigo científico com um título poético, “Perdida no meio do mar, encontrada na parte de trás de uma prateleira”. Ainda na ilha do Príncipe, identificou, com outros investigadores num artigo de Março de 2015, um mamífero insectívoro — o musaranho-fingui, ou Crocidura fingui» («Sapo sem ouvidos descoberto em Angola», Teresa Firmino, Público, 10.08.2018, p. 25).

      Têm de ir também para os dicionários, tanto mais que foi um português que os apresentou ao mundo. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora só tem duas lagartixas compostas: lagartixa-do-mato e lagartixa-ibérica.

 

[Texto 9757]

Léxico: «lagarto-espinhoso-do-kaokoveld»

Embora não mereçam

 

      «A nova espécie vai agora juntar-se a outra que Luís Ceríaco e os colegas de viagens científicas já tinham descoberto noutra expedição no final de 2013, igualmente na província do Namibe — um lagarto-espinhoso. Como nome científico para essa espécie, os investigadores escolheram Cordylus namakuiyus e, para nome comum, lagarto-espinhoso-do-kaokoveld (o kaokoveld é um tipo de habitat desértico, que também está presente na província do Namibe)» («Sapo sem ouvidos descoberto em Angola», Teresa Firmino, Público, 10.08.2018, p. 25).

      Ainda se está para ver se a língua portuguesa não tem termo correspondente para kaokoveld. Veja-se, para não ir mais longe, o caso de inselberg, ali mais atrás. Quantos não dirão que não temos termo em português? É também para esses desamantes da língua portuguesa que temos todos, e sobretudo os lexicógrafos, de trabalhar incessantemente.

 

[Texto 9756]

Léxico: «sapo-pigmeu-da-serra-da-neve»

Se quiser

 

      «Inspirando-se no local, Poyntonophrynus pachnodes é o nome científico escolhido pela equipa de investigadores para o novo sapo pigmeu. O nome específico, pachnodes, quer dizer “gelado” em grego, pelo que é uma referência tanto ao nome da serra como às temperaturas baixas registadas à altitude a que se encontra a nova espécie, explica um comunicado sobre a descoberta acabada de publicar num artigo na revista ZooKeys, que tem ainda outra investigadora portuguesa entre os autores, Mariana Marques, do Muhnac e do Centro de Estudos em Biodiversidade e Recursos Genético (Cibio), no Porto» («Sapo sem ouvidos descoberto em Angola», Teresa Firmino, Público, 10.08.2018, p. 25).

      Vamos agora ver se o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora consegue ser o primeiro, em todo o mundo, a registar o termo.

 

[Texto 9755]

Léxico: «holótipo», de novo

Pelo menos a gralha

 

      «O exemplar que serviu de referência para descrever a nova espécie (holótipo, ou espécime-tipo) foi apanhado por Luís Ceríaco, a angolana Suzana Bandeira (do Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas de Conservação de Angola e da Universidade de Villanova) e o indiano Ishan Agarwal (também desta universidade norte-americana)» («Sapo sem ouvidos descoberto em Angola», Teresa Firmino, Público, 10.08.2018, pp. 24-25).

      Já andámos aqui à volta da definição de holótipo no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Se não precisar, ainda assim, de um novo retoque, precisa, pelo menos, como então comentou o leitor Hamilton Abreu, de corrigir uma gralha: «BIOLOGIA termo empregado em sistemática para designar o exemplar único que taxonomista original de uma espécie (ou subespécie) apresenta como tipo». Repare-se como em ambos os artigos se usa o termo espécime-tipo.

 

[Texto 9754]

Léxico: «monte-ilha»

Talvez prefiram em alemão

 

      «Esta serra é o que geólogos e geógrafos designam por um monte-ilha (do alemão inselberg), emergindo abruptamente da paisagem que está à sua volta. Ora o monte-ilha da serra da Neve é bastante interessante para os biólogos porque está isolado de outras montanhas e essa circunstância permite a evolução de espécies únicas» («Sapo sem ouvidos descoberto em Angola», Teresa Firmino, Público, 10.08.2018, p. 24).

      São muito poucos os dicionários que registam o vocábulo monte-ilha, e entre eles não está o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Pois bem, a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira até regista duas variantes — monte-ilha e montilha.

 

[Texto 9753]