Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

A arte de bem definir

Ah, que língua magnífica!

 

      «No tweet, Trump utiliza a expressão “dog” (cão) para definir a ex-assessora — não indo ao ponto de usar o feminino da palavra, que na gíria americana significa prostituta. E é precisamente pegando nessa palavra que Pete Souza, o fotógrafo oficial de Barack Obama durante os seus dois mandatos, lhe responde subtilmente» («“Um cão verdadeiro à espera de um presidente verdadeiro”, respondeu Pete Souza a Trump», Ricardo Simões Ferreira, Diário de Notícias, 15.08.2018, 23h22).

      No que difere muito do português, não é? A propósito, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não quer chocar ninguém, e, por isso, define assim essa acepção pejorativa de cadela: «mulher cujo comportamento é considerado reprovável; mulher vulgar». Conheço montes de mulheres vulgares que são seriíssimas. Aqui, é necessariíssimo usar a palavra «prostituta», quando não «puta» — porque as palavras não mordem nem nos contaminam.

 

[Texto 9797]

Léxico: «tiralô»

®

 

      «A escolha foi feita a partir de uma base de dados com as praias acessíveis (segundo o Instituto Nacional para a Reabilitação, as que têm balneários, passadiço com acesso ao areal, lugares de estacionamento próprios...). Depois escolheram algumas das que já têm veículos anfíbios para adultos com acesso ao mar, as cadeiras chamadas “tiralô”, isto porque queriam ter o apoio que já existe dos nadadores-salvadores. Mas não querem ficar por aqui. A médio e longo prazo a intenção é tê-las em todas as praias» («É só para crianças e todo-o-terreno. Com esta cadeira, Manuel já vai à praia», Joana Gorjão Henriques, Público, 16.08.2018, p. 8).

      Talvez se esteja a ir depressa de mais (e a jornalista mostra que não tem confiança, já que põe rodinhas na palavra), não sei, mas o caminho é esse: de nome comercial, Tiralo, passar-se-á para tiralô, em mais um exemplo de derivação imprópria. 

 

[Texto 9796]

Léxico: «estaiar»

Só todos juntos

 

      «O engenheiro civil [Riccardo Morandi (1902-1989)] desenvolveu e patenteou um método próprio para construir grandes estruturas de betão armado, como pontes e viadutos. Concebeu pontes estaiadas em várias partes do mundo, ou seja, pontes suspensas por cabos de um ou vários mastros, dos quais partem esteios de sustentação para o tabuleiro. Mas as pontes de Morandi caracterizam-se por terem poucos desses cabos e frequentemente estes são feitos de betão armado, em vez de serem aço, como é mais comum» («As pontes problemáticas do engenheiro Morandi», Clara Barata, Público, 16.08.2018, p. 15).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora limita-se a registar estai e estaiação, e com definições incompletas, deficientes, e nada mais. Por outro lado, há dicionários que acolhem o verbo estaiar, mas sem outra acepção que não a relativa às embarcações. Parece que não vivem neste mundo.

 

[Texto 9795]

Ligúria

Gente problemática

 

      «O primeiro-ministro italiano declarou 12 meses de estado de emergência na região da Liguria, onde se desmoronou a ponte de Génova» («Estado de emergência na região de Liguria», Rádio Renascença, 15.08.2018, 17h07).

      Hum, problemas também com os acentos? Tantas dificuldades... «Para dar uma ilustração da compleição dos recrutas, num pequeno cantão da costa da Ligúria, 72% dos recrutas em 1792-99 tinham menos de um metro e meio de altura» (Este É o Reino de Portugal, José Brandão. S. Pedro do Estoril: Saída de Emergência, 2015). A redacção não tem um vocabulário? «Ligúria, top. f.», pode ler-se na página 609 do Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves. 

 

[Texto 9794]

Léxico: «alinhamento»

Está, por isso, desalinhado

 

      «“Trata-se de um fórum alargado de discussão de tendências de mercado, cujo alinhamento – oradores e programa – é da exclusiva responsabilidade da organização”, refere um comunicado enviado pelo Ministério da Economia às redações» («Le Pen “desconvidada” para a Web Summit», Rádio Renascença, 15.08.2018, 12h28).

      Ora, parece que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora se esqueceu desta acepção de alinhamento.

 

[Texto 9793]

E se pensassem duas vezes?

A lógica das aspas

 

      «Está decidido. Marine Le Pen não será oradora na próxima edição da Web Summit, a realizar em Lisboa. O anúncio é feito pelo fundador do evento, no Twitter. “Parece-me claro agora que a decisão correta para a Web Summit é retirar o convite a Marine Le Pen”, afirma Paddy Cosgrave» («Le Pen “desconvidada” para a Web Summit», Rádio Renascença, 15.08.2018, 12h28).

 

[Texto 9792]

Léxico: «keirin»

Todos os dias

 

      «O colombiano Fabián Puerta, campeão mundial de keirin, foi suspenso preventivamente pela União Ciclista Internacional (UCI), na sequência de um controlo antidoping positivo a uma amostra recolhida no dia 11 de Junho, durante os campeonatos nacionais, em Cali. O ciclista de 27 anos acusou o uso de boldenona, um esteróide anabolizante endógeno incluído na lista de substâncias proibidas e deverá agora solicitar a contra-análise» («Ciclismo. UCI suspende campeão Fabián Puerta», Público, 15.08.2018, p. 34).

      Todos os dias encontramos alguma coisa nova, isto não pára. E será normal existir uma modalidade (submodalidade?) desportiva fora dos dicionários? (Contra-análise, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.)

 

[Texto 9791]

Léxico: «capacidade instalada»

Limite máximo

 

      «À medida que as técnicas, não só de cultivo mas também de secagem das ervas, foram evoluindo, as quantidades aumentaram. No ano passado a propriedade vendeu 25 toneladas de produto, já seco, e este ano deve crescer 30%. A capacidade instalada é de 35 toneladas anuais» («A engenheira que saltou para os campos de ervas aromáticas», Francisco Alves Rito, «P2»/Público, 15.08.2018, p. 4).

      Gostava de ver capacidade instalada nos dicionários. Afinal, há muito quem não saiba e, nesses casos, a quem poderá perguntar? É o limite máximo estimado de produção tendo em conta as máquinas, equipamentos e mão-de-obra de uma dada empresa.

 

[Texto 9790]