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Linguagista

Léxico: «sociodemográfico»

Não pode ficar para a próxima

 

      «Alunos do 5.º ano de escolaridade da Escola Básica Francisco Torrinha, no Porto, terão recebido uma “ficha sociodemográfica”, onde é perguntado se [se] sentem mais atraídos por homens, mulheres ou ambos. Ministério da Educação abriu um inquérito para investigar a situação. A imagem do inquérito tornou-se viral nas redes sociais, suscitando centenas de comentários a condenar as questões» («“Sinto-me atraído por: homens, mulheres ou ambos?”. Ministério investiga pergunta a alunos do 5.ª [sic] ano», Diário de Notícias, 10.10.2018, 13h06).

      Até o dedo do jornalista tremeu e falhou algumas teclas. O que é que esta gente, a direcção da escola, tem na cabeça? O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora também se atrapalhou e perdeu a ficha de sociodemográfico.

 

[Texto 10 084]

«Pôr em xeque»

Bem e mal

 

      «Ministério confirma que major Brazão subarrendava apartamento das Forças Armadas» (Rádio Renascença, 10.10.2018, 9h00). Muito bem. Como aqui: «Casa militar arrendada a turistas. “Há uma espécie de manto de corrupção moral a envolver o Estado”» (Rádio Renascença, 10.10.2018). Depois, porém, neste texto, cai por terra qualquer esperança: «Comentadores da Renascença [Henrique Raposo e Jacinto Lucas Pires] analisam o caso que põe em cheque o militar que denunciou o alegado envolvimento de altas hierarquias no aparecimento das armas de Tancos.»

      Senhor jornalista, é pôr em xeque, isto é, pôr em má situação. É verdade que há dicionários (!) que registam ambas as formas, provando assim que a ignorância e o erro encontram agasalho onde é mais improvável.

 

[Texto 10 083]

Léxico: «turbilhão»

Fica para a próxima

 

      «Não é nada disso. No caso dos relógios, o Tourbillon é uma peça em metal que pesa tanto como uma pena de pássaro, mas torna um relógio banal numa máquina da mais afinada tecnologia. Sim, aquela rodinha que anda de um lado para o outro contraria o efeito da gravidade e, assim, ajuda a controlar a marcha do ponteiro dos segundos com uma precisão mecânica» («Pode um relógio custar 31 vezes o PIB per capita português?», André Rodrigues, Rádio Renascença, 10.10.2018).

      André Rodrigues, ficou tão perturbado com o preço do relógio, que nem atinou com a escrita. Em português diz-se turbilhão (nada que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora saiba, é verdade) e, de qualquer maneira, se tivesse de o escrever em francês, com certeza que tinha de ser com minúscula inicial. Fica para a próxima.

 

[Texto 10 082]

Os vários tipos de farmácias

Sabem? Não se nota nada

 

      «O secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, explicou que Cascais é a primeira localidade em Portugal a aplicar os testes rápidos de rastreio da infeção por VIH e por vírus da hepatite C e B nas farmácias comunitárias e nos laboratórios de patologia e análises clínicas» («Testes rápidos ao VIH/sida e hepatites chegam às farmácias», Rádio Renascença, 10.10.2018, 00h07).

      Será que as pessoas sabem o que são farmácias comunitárias? Habitualmente, não sabem nada. Nem sabem, pelo que tenho visto ultimamente, usar um elevador como deve ser. Há a farmácia comunitária, também chamada farmácia de oficina, que é aquela que encontramos no nosso bairro ou localidade, a farmácia hospitalar e a farmácia industrial. Será que os lexicógrafos querem ajudar registando isto tudo? (De caminho, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora deve registar também farmacoeconomia, por exemplo.)

 

[Texto 10 081]

Léxico: «omeleteira»

Perdulários e parvos

 

      Precisava-se de uma omeleteira para fazer o rösti perfeito. Na Pollux, sabiam o que era rösti, mas não o que era uma omeleteira. Trouxe uma frigideira dupla (double pan?) e já tive sorte — porque é o mesmo. Parece que apenas os Brasileiros sabem do que se trata. No VOLP da Academia Brasileira de Letras: ✔. Pronto, continuemos nós, perdulários e parvos, a perifrasear perdidamente.

 

[Texto 10 080]

«Coigual»... e «coeterno»

Agora definitivamente

 

      A troca de impressões, ontem, numa caixa de comentários, com o leitor J. C. serviu para estabelecer o que estava mal: se o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista coigual e co-eterno, algum tinha de estar incorrecto. É o segundo, chegamos a sabê-lo depois de indagar qual a etimologia de ambos. (Há-de também ter contribuído para o erro que o verbete de *co-eterno não apresente — porquê? — a etimologia do vocábulo.) Provêm ambos do latim e aqui, é claro, não têm hífen. Logo, é coigual e coeterno. Afinal, há sempre alguma coisa que está mal.

 

[Texto 10 079]

Léxico: «electromobilidade»

Já existia antes

 

      «“Cada vez mais existe uma preocupação, por parte das várias autoridades, municipais e locais, que diz respeito à tomada de medidas, eficazes, para eliminar os poluentes atmosféricos das áreas centrais das cidades. Este fator tem sido discutido por várias entidades e cada vez mais se procura caminhos que têm a ver com a introdução de meios não poluentes, como o caso dos carros elétricos, tornando-se, assim, a eletromobilidade cada vez mais importante”, explica a DriveNow» («Quota de 5% de elétricos na DriveNow vai subir em Lisboa», Motor 24, 10.10.2018).

 

[Texto 10 078]