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Linguagista

Léxico: «tiro ao voo»

Isso vai mudar

 

      «Relativamente ao tiro ao voo, conhecido como tiro ao pombo, o parlamentar explicou que se trata de uma medida de proteção animal uma vez que “é uma atividade considerada desportiva, onde animais criados em cativeiro são libertados para servirem de alvo, quem abater mais animais ganha um prémio”» («Acaba o tiro ao pombo e sacos de plástico aumentam para 12 cêntimos», Rádio Renascença, 12.10.2018, 15h46).

      Não conhecia este tiro ao voo. Não te encolhas entre as capas, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, já vi que também não conheces.

 

[Texto 10 095]

Léxico: «tubo»

Pobres surfistas

 

      O surfista norte-americano Kelly Slater, onze vezes campeão do mundo (ou unodecacampeão, para os que se quiserem armar em parvos), inaugurou uma piscina de ondas artificiais perfeitas em Lemoore, em pleno deserto da Califórnia. A Surf Ranch permite manobras aéreas e longos tubos. Infelizmente, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não permite tais tubos. Diacho, lembrem-se da praia dos Supertubos, em Peniche.

 

[Texto 10 094]

Léxico: «pré-nasal»

Comecemos pelo básico

 

      «“Impõe-se, pois, rever esta situação e, no nosso caso particular, rever a questão da escrita da toponímia angolana, reassumindo os ‘k’, ‘y’ e ‘w’ na grafia da língua portuguesa”, sublinhou, exemplificando ainda com dois casos de sons pré-nasais. “‘Ngola’ ou ‘Gola’. No primeiro caso, ‘Ngola’, trata-se do título do titular máximo do poder no contexto da língua nacional kimbundu. Sem o som pré-nasal, significa a parte superior de uma peça de vestuário. O mesmo se passa com ‘Mfumu’ e ‘Fumo’: ‘Mfumu’ significa ‘chefe’ nas várias hierarquias. Fumo significa o que de tal termo se conhece na Língua Portuguesa”, exemplificou [Boaventura Cardoso, presidente da Academia Angolana de Letras]» («Academia Angolana de Letras contra ratificação do acordo ortográfico», José Sousa Dias, Público, 10.10.2018, 18h27).

      Cá temos Angola a dar mais uma lição de bom senso a Portugal. Quanto às pré-nasais, são fonemas que o português não conhece — nem o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. O quimbundo tem oito consoantes pré-nasalizadas: mb/mp/mv/nf/nd/nj/nz/ng. As palavras que as contêm, ao serem adoptadas pelo português, seguiam uma de duas vias: ou adquiriam uma vogal protética (Ngola passou a Angola), ou perdiam a nasalação (mbirimbau passou a berimbau).

 

[Texto 10 093]

Léxico: «roraimense»

Pobres índios, discriminados lá e cá

 

      Joênia Wapichana é a primeira mulher indígena deputada federal no Brasil. Foi eleita no Estado de Roraima. Formada em Direito, Joénia Wapichana é uma referência no seu país e no mundo pela defesa dos direitos dos povos indígenas. «Pedi muito aos nossos antepassados que os índios roraimenses tivessem espaço na Câmara dos Deputados», disse ao celebrar a vitória. Entretanto, em Portugal, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora finge que Roraima não existe, e por isso não regista roraimense. Nem vapixana.

 

[Texto 10 092]

Léxico: «monocasta»

De uma só casta

 

      «Diana passou a comprar mosto retificado na Europa para lhe conferir mais grau (ronda os 12%) e, contra todos os que a tentaram demover da ideia de fazer vinhos monocasta Tinta Negra, avançou para os tintos e rosés e o branco, feito a partir das [sic] mesmas uvas tintas: um “blanc de noir”» («Homem fazedor, literário e histórico. Três conceitos, três propostas», Augusto Freitas de Sousa, TSF, 11.10.2018, 19h22).

      Monocasta. Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é todo teu.

 

[Texto 10 091]