Comecemos pelo básico
«“Impõe-se, pois, rever esta situação e, no nosso caso particular, rever a questão da escrita da toponímia angolana, reassumindo os ‘k’, ‘y’ e ‘w’ na grafia da língua portuguesa”, sublinhou, exemplificando ainda com dois casos de sons pré-nasais. “‘Ngola’ ou ‘Gola’. No primeiro caso, ‘Ngola’, trata-se do título do titular máximo do poder no contexto da língua nacional kimbundu. Sem o som pré-nasal, significa a parte superior de uma peça de vestuário. O mesmo se passa com ‘Mfumu’ e ‘Fumo’: ‘Mfumu’ significa ‘chefe’ nas várias hierarquias. Fumo significa o que de tal termo se conhece na Língua Portuguesa”, exemplificou [Boaventura Cardoso, presidente da Academia Angolana de Letras]» («Academia Angolana de Letras contra ratificação do acordo ortográfico», José Sousa Dias, Público, 10.10.2018, 18h27).
Cá temos Angola a dar mais uma lição de bom senso a Portugal. Quanto às pré-nasais, são fonemas que o português não conhece — nem o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. O quimbundo tem oito consoantes pré-nasalizadas: mb/mp/mv/nf/nd/nj/nz/ng. As palavras que as contêm, ao serem adoptadas pelo português, seguiam uma de duas vias: ou adquiriam uma vogal protética (Ngola passou a Angola), ou perdiam a nasalação (mbirimbau passou a berimbau).
[Texto 10 093]