Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Léxico: «ansiógeno»

Falta o primeiro e melhor

 

      «Um mecanismo mediante o qual a informação ameaçadora, dolorosa ou ansiógena é destruída ou transformada em algo relativamente inofensivo para ser admitido à consciência» (O Valor (Des)educativo da Publicidade, Carlos Francisco de Sousa Reis. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007, p. 222).

      É mais correcto — e creio que entrou antes na língua, tenho uma abonação de 1969 — do que ansiogénico, mas alguns dicionários é só este que registam. É o fado.

 

[Texto 10 118]

Léxico: «sting jet»

Poucas vezes em português

 

      «Numa nota publicada no ‘site’, o IPMA adianta que a estação de Figueira da Foz/Vila Verde registou às 22h40 de sábado uma rajada de cerca de 176 quilómetros por hora, valor atribuído a um fenómeno designado por ‘sting jet’. [...] O IPMA explica que o ‘sting jet’ é uma forte corrente descendente que, por vezes, se desenvolve no bordo oeste de depressões extratropicais, podendo alcançar a superfície. Nestes casos, as rajadas podem ser superiores a 150 quilómetros por hora numa área reduzida, tipicamente situada a sudoeste do núcleo da depressão. [...] A designação de ‘sting jet’ decorre do facto de a assinatura deste fenómeno em imagens de satélite e radar se assemelhar à da cauda de um escorpião (sting)» («Rajada de vento na Figueira da Foz foi a maior registada em Portugal», TSF, 14.10.2018, 15h15).

      Sting jet. Dar-lhe um nome em português é que parece ser superior à capacidade e à vontade desta gente.

 

[Texto 10 117]

Cuidador informal

Vão ficar decepcionados

 

      «O estatuto do cuidador informal, que tem vindo a ser discutido no Parlamento, não vai ter qualquer previsão de custos no Orçamento do Estado para 2019. O assunto fica-se apenas pela inclusão de uma “norma programática”, como lhe chama o deputado José Soeiro, do Bloco de Esquerda, partido que tem liderado este assunto na Assembleia da República» («Estatuto do cuidador informal fica-se pelas intenções no Orçamento», Eunice Lourenço, Rádio Renascença, 14.10.2018, 22h58).

    Não me surpreendia que houvesse falantes que consultam os dicionários para saber o que significa exactamente cuidador informal. Ficam sempre decepcionados, coitados.

 

[Texto 10 116]

Como se escreve nos jornais

Para a próxima

 

      «O investigador português José Furtado, de 37 anos, desenvolveu um sistema de monitoria, prevenção e combate aos incêndios florestais, denominado “Rede IoT para Alarmística de Incêndios Florestais”, que alcançou resultados muito promissores em testes coordenados pelo Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, coordenado pelo professor Domingos Xavier Viegas. [...] Por intermédio das placas de rede wi-fi, os módulos comunicam entre si e fazem os dados observados chegar a uma central de monitoria» («Jovem investigador português quer travar o drama dos incêndios», Vanessa Fidalgo, «Domingo»/Correio da Manhã, 7.10.2018, p. 30).

      «Monitoria», «monitoria». É, portanto, convicção. Vanessa Fidalgo quis competir com a «alarmística», mas saiu-se mal: monitoria é o cargo ou funções de monitor. Fica para a próxima.

 

[Texto 10 115]

Léxico: «rabinado»

Essa é boa

 

      «Por fim, o rabinado veneziano chegou a uma decisão e apoiou o ponto de vista de Saul Mortera (o qual, por mero acaso, tinha sido educado na yeshiva de Veneza)» (O Problema Espinosa, Irvin D. Yalom. Tradução de João Henrique Pinto. São Pedro do Estoril: Saída de Emergência, 2015).

      Ora, estranhamente, no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, nem rabinado nem rabinato (pior, mas o único que o VOLP da Academia Brasileira de Letras acolhe). Ainda mais estranho: comprei uma lata de feijão-preto orgânico da marca Vapza. No contra-rótulo (dicionário da Porto Editora...), leio que a certificação kosher (para os corajosos, cóxer) foi atribuída pelo Rabinatório Rav Y I Blumenfeld, do Rio de Janeiro. Rabinatório... Paulo Araujo, sabe alguma coisa sobre isto?

 

[Texto 10 114]

Léxico: «marechal-de-campo»

Inexplicável

 

      Ai que me dá uma coisa! Acabei de encontrar aqui o conde de Moltke, o tipo que era silencioso em sete línguas — e prestigiado marechal-de-campo prussiano. Ora, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista nem marechal-de-campo nem (na versão com o AO90) marechal de campo. Só acolhe ajudante-de-campo/ajudante de campo. No VOLP da Academia Brasileira de Letras: ✔.

 

[Texto 10 113]

Como se escreve nos jornais

Caprichos

 

      «Outra aposta do Afuri é o bar, em que os cocktails são trabalhados usando ingredientes japoneses e outros portugueses (há também um vinho branco feito especialmente para a casa, parceria com uma adega nacional), e que apresenta uma oferta diversificada de sakés e de whiskies japoneses — uma das possibilidades é fazer uma degustação para se ficar a conhecer melhor estes dois mundos (entre 18 e 22€ para os sakés e entre os 15 e os 20€ para os whiskies)» («O ramen é uma ciência (quase) exacta», Alexandra Prado Coelho, «Fugas»/Público, 13.10.2018, p. 30).

      Assim é que respeitam a língua. Então, Alexandra Prado Coelho, qual é o problema com saquê ou saqué e com uísque, pode explicar-nos? Caprichos, não é assim?

 

[Texto 10 112]

Léxico: «interculturalidade»

É assim

 

      «O modelo da interculturalidade começou por ser defendido no mundo francófono e cedo se estendeu a toda a Europa» (A Interculturalidade na Expansão Portuguesa (Séculos XV-XVIII), João Paulo Oliveira e Costa e Teresa Lacerda. Prior Velho: Paulinas Editora, 2007, p. 21).

      Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, disseste alguma coisa? Ah, está bem. Digo eu: interculturalidade.

 

[Texto 10 111]