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Linguagista

Léxico: «bóxeres»

Cuecas portuguesas, com certeza

 

      Porque não regista o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora o aportuguesamento bóxeres para designar as cuecas de homem com o formato em forma de calção? Isto porque, afinal, a palavra está difundidíssima, qualquer bicho-careta, até os analfabetos, a usa de norte a sul do País. E mais: para o nome do cão de estatura média, aquele dicionário já acolhe o aportuguesamento bóxer. Só falta registar igualmente o bóxer (também «bóxer/bóxeres») que designa o membro da sociedade secreta chinesa que protagonizou a insurreição nacionalista conhecida por Revolta dos Bóxeres. Com esta grafia já a vi em livros de História. Pois é, há sempre quem sabe.

 

[Texto 10 126]

Léxico: «oralismo/oralista»

Não temos ££££

 

      «Para ampliar o acesso, um grupo brasileiro lançou uma campanha de arrecadação coletiva para a produção da animação “Min e as Mãozinhas”. O projeto é o primeiro desenho totalmente em Libras (Língua brasileira de sinais), segundo o diretor Paulo Henrique Rodrigues» («Animação em Libras busca apoio», Metro São Paulo, 15.10.2018, p. 9).

     Libras... Sortudos. Nós é um desenxabidíssimo LGP, língua gestual portuguesa. Sim, está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: «língua com regras gramaticais e vocabulário próprios, expressa por gestos, especialmente das mãos, utilizada geralmente por pessoas com dificuldades auditivas». É verdade, especialmente das mãos, mas, por exemplo, as interrogativas e as exclamativas produzem-se com um arquear das sobrancelhas e dos ombros. Ah, vá lá, o dicionário da Porto Editora adverte que «surdo-mudo» é de uso indevido, mas generalizado. Só não acolhe oralismo/oralista, e são precisos para quando se fala de língua gestual.

 

[Texto 10 125]

Léxico: «silo»

Estes também fazem falta

 

      «A cidade das modalidades do SL Benfica custará 17 milhões ao clube e, segundo o pré-projecto apresentado em Setembro de 2017, terá um pavilhão de artes marciais e ginástica, um campo de râguebi com pista de atletismo, um centro de massagens, uma pista de corrida indoor, uma piscina, um pavilhão desportivo, um campo de futebol, restaurante, centro de reuniões, clínica, ginásio e um silo de estacionamento com 540 lugares para automóveis» («Cidade desportiva do SL Benfica em fase de aprovação», João Pedro Pincha, Público, 15.10.2018, p. 20).

      Pois é, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não tem silos destes... Tem os silos de que os agricultores precisam e aqueles de que Kim Jong-un gosta, mas não estes que vemos nas nossas cidades.

 

[Texto 10 124]

Léxico: «chemsex»

Porcarias com nome estrangeiro

 

      «O consumo de novas substâncias psicoactivas em Portugal tem um carácter “aparentemente residual, experimental e volátil” e não se espera “um particular incremento do consumo deste tipo de substâncias”, segundo um relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) divulgado na passada sexta-feira. Ainda assim, sobram preocupações que levam o SICAD a aconselhar a criação de serviços de drug checking em contextos festivos. [...] O pouco que se sabe em Portugal sobre os utilizadores das novas substâncias nas práticas de chemsex (práticas sexuais potenciadas pelo consumo de drogas, nomeadamente em festas) leva os autores do estudo a apontar a necessidade de estudar esta realidade no contexto português» («Novas drogas: analisar antes de consumir», Natália Faria, Público, 15.10.2018, p. 18).

      Se calhar até é bom que estas porcarias tenham nome estrangeiro, não é? No caso de chemsex, porém, eu levava-o para os dicionários como estrangeirismo, já que ninguém, vá-se lá saber porquê, quer melhorar e ampliar os bilingues.

 

[Texto 10 123]

Léxico: «legalizável»

Com açaime não morde

 

      «Em Tondela, houve várias situações de casas que não estavam registadas, mas conta o presidente da câmara, José António Jesus, que a maior parte foi “legalizável”, ou seja, eram casas que existiam há dezenas de anos em zonas que foram posteriormente interditas à construção» («Estado não apoia reconstrução de casas ilegais», Liliana Valente e Luísa Pinto, Público, 15.10.2018, p. 17).

      Como só a encontraram num bilingue — légalisable —, mas não no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, acharam melhor pôr-lhe o açaime das aspas.

 

[Texto 10 122]

Léxico: «credibilização»

Não falta tudo

 

      «O titular da Defesa Nacional tem pela frente o que levou à queda do seu antecessor. Tem de traduzir em acções de credibilização das Forças Armadas as investigações do Ministério Público sobre o assalto em Tancos. Demitir quem errou e substituir as estruturas que falharam» («As tarefas inadiáveis de um diplomata bem recebido», Nuno Ribeiro, Público, 15.10.2018, p. 4).

      Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, credibilizar já tu tens, agora só falta credibilização.

 

[Texto 10 121]

Dicionário Português-Changana

Falta o primeiro e melhor

 

      «Um total de 17 mil palavras portuguesas estão traduzidas para a língua mais falada na capital de Moçambique, o changana, no novo dicionário de Bento Sitoe, linguista e docente universitário. O changana é fruto de várias línguas bantu, milenares, da África subsariana, desde os Camarões até à Cidade do Cabo, na África do Sul. O público-alvo do novo dicionário são docentes que trabalham na formação de professores das línguas moçambicanas, refere Bento Sitoe. Além do novo dicionário Português-Changana, Bento Sitoe é igualmente autor do dicionário Changana- Português, publicado pela Texto Editores em 2012» («Novo dicionário de Português-Changana em Moçambique», Público, 15.10.2018, p. 31).

      Fica a informação. Nunca são de mais. Os primeiros trabalhos — gramáticas, dicionários, tradução da Bíblia, etc. — com as línguas nacionais africanas foram feitos por missionários. Ainda hoje, aliás, há missionários com trabalhos nesta área. «Línguas bantu», no entanto, é de morrer a rir.

 

[Texto 10 120]