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Linguagista

Léxico: «lucreciano»

Com latim me despeço

 

      Tomai lá um verso (um pouco truncado, mas o vosso interlocutor não vai notar) lucreciano: «Juvat integros accedere fontes.» Tradução livre: «É bom ir às fontes limpas.» Com latim me despeço, embora desgostoso por saber que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não regista o adjectivo lucreciano. No VOLP da Academia Brasileira de Letras: ✔.

 

[Texto 10 177]

Léxico: «embolada»

Temos «embolado»

 

      «Sem dispensar a ironia mas levando-a mais a sério, centra as suas canções no quotidiano de Lisboa, a sua cidade, em títulos como Chiado, São Bento, Rumo ao Sul, Ruiveloseando ou As praias de Lisboa ou Vá lá!!. Esta última, uma espécie de embolada lusitana com ares de manifesto para acordar Portugal, conta com um exército de vozes convidadas: Ana Bacalhau, António Zambujo, Camané, José Cid, JP Simões, Manuel João Vieira, Márcia, Mário Mata, Marisa Liz, Rita Redshoes, Samuel Úria e Tim» («Gimba canta Vá lá!! a Portugal e diz que “a edição independente é que é”», Nuno Pacheco, Público, 23.10.2018, p. 29).

      Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, fica com este brasileirismo para a tua colecção.

 

[Texto 10 176]

«Guarda provisório»

Provisoriamente guardas

 

      «As aulas no Centro de Formação de Portalegre da GNR estão suspensas até segunda-feira, na sequência de um alegado surto de gastroenterite, com provável origem viral, que afeta cerca de 200 formandos. [...] Fonte da GNR adiantou à agência Lusa que a situação afeta cerca de 200 dos 600 guardas provisórios que estão a frequentar o 40.º curso de formação de guardas» («Duzentos guardas com gastroenterite em centro de formação da GNR», TSF, 23.10.2018, 19h22).

      Deve ser o sonho de qualquer meliante, apanhar duzentos guardas com as calças na mão. São os Gprov, mas eu não sabia que se chamavam guardas provisórios. Registe-se algures.

 

[Texto 10 175]

O verbo «polir» trucidado

Ervas daninhas

 

      «“Para além [sic] de ecológico, ainda permite remover pastilhas elásticas, que são um grande problema na manutenção do espaço público”, acrescenta a autarca [Sofia Dias, presidente da Junta de Freguesia da Penha de França]. A presidente elogia ainda o desempenho da máquina na calçada, porque, como “só utiliza água, não desaglomera as pedras nem as pole” como outros sistemas» («Penha de França usa máquina ecológica», Sebastião Almeida, Público, 23.10.2018, p. 17).

      A autarca usou essa forma verbal? Mas os jornalistas (o texto foi editado por Ana Fernandes) é que escreveram o artigo, suponho. Pois é, não as «pole» porque essa forma verbal não existe. É simples. O presente do indicativo é «pulo, pules, pule, polimos, polis, pulem». O mundo da língua é que não pula nem avança se continuarem a escrever desta maneira. Não pula, mas sobressalta-se.

 

[Texto 10 174]

Léxico: «parlamentarização»

Mais uma

 

      «No entanto, a diferença de pontos de vista não comporta a formação de correntes organizadas, porque a instituição é unitarista, tem tendência a expulsar os corpos estranhos, ou então a deixar-se vencer por eles se estiver em estado de grande debilidade — foi o caso do 25 de Abril. Mas nunca conseguirá sobreviver em estado de parlamentarização. Se tal acontece durante algum tempo, avolumam-se inevitavelmente as condições favoráveis a um confronto armado, sangrento ou não, de modo a permitir o triunfo de uma» (Abril nos Quartéis de Novembro, Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso. Lisboa: Livraria Bertrand, 1979, p. 137).

      Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, agora é contigo. Pois se já tens parlamentarizar... Além de que acabo de a ler num texto de que não posso falar.

 

[Texto 10 173]