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Linguagista

Errados, até no nome

ASPIG? ASIG!

 

      «A posição da Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda (ASPIG) foi tomada em comunicado a propósito da divulgação — nas redes sociais e em alguns órgãos de comunicação social — das fotografias da detenção dos suspeitos que tinham fugido do Tribunal de Instrução Criminal do Porto, na semana passada. Uma divulgação que suscitou enorme polémica, foi condenada pelo Governo e por várias organizações e está a ser investigada pela Inspecção-Geral da Administração Interna, a pedido do ministro Eduardo Cabrita» («Criminosos não merecem respeito? Bastonário diz que sindicato foi populista», Margarida David Cardoso, Público, 25.10.2018, p. 15).

      Esta gente está profundamente errada. Aliás, não está o próprio nome da associação errado? Não se escreve «socioprofissional»? Então, é Associação Socioprofissional Independente da Guarda — e, com isto, e de uma penada, lá se vai o acrónimo. É a ASIG.

 

[Texto 10 193] 

Léxico: «compatibilização»

Já que falam nisso

 

      «Hugo Pires, que o PS escolheu para substituir Helena Roseta na coordenação do grupo de trabalho parlamentar sobre a habitação, reabilitação urbana e políticas de cidades, tem interesses no alojamento local, numa altura em que a compatibilização dos negócios ligados ao turismo e a habitação está na ordem do dia» («Novo coordenador do PS no grupo de trabalho sobre habitação tem interesses no alojamento local», Público, 25.10.2018, p. 8).

     Será «compatibilização» ou, como sempre se diz, «compatibilidade»? A propósito, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, o vocábulo compatibilização existe... Vá, não finjas, tu até o usas em dois textos de apoio.

 

[Texto 10 192]

Vêm aí os aliancistas

Vamos estar atentos

 

      «O Tribunal Constitucional (TC) aprovou a formação do novo partido Aliança, fundado por Pedro Santana Lopes, confirmou hoje à agência Lusa fonte do TC. [...] A Aliança torna-se assim a 23.ª formação política portuguesa» («Há um novo partido em Portugal. Constitucional aprova Aliança», TSF, 25.10.2018, 13h17).

      Não se diz que à 23.ª é de vez? Quem sabe se não vai conhecido por Partido da Trotineta. Não tarda, vamos ter em circulação o termo aliancista: «POLÍTICA relativo ou pertencente à Aliança, partido político português fundado em 2018.» Vamos estar atentos.

 

[Texto 10 191] 

Léxico: «confissão/denominação»

QDE

 

      Está a decorrer no Vaticano, por estes dias, até 28, a 15.ª assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos. A assembleia, sobre o tema «Os jovens, a fé e o discernimento vocacional», teve até agora a participação de 257 bispos de todo o mundo e da Cúria Romana, além de vários convidados, secretários, delegados de outras confissões cristãs e auditores – estes últimos podiam intervir nos debates, mas não votar. Ora bem, a questão aqui é sobre o termo confissão, que significa, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, «cada uma das igrejas que se reclamam parte do cristianismo e que, apesar de diferenciadas por particularidades doutrinais, partilham entre si um núcleo de crenças comum». Não, não me enganei, enganei-vos: a definição que citei é do termo denominação. Fica assim, creio, demonstrada a necessidade de o termo confissão ter uma acepção idêntica.

 

[Texto 10 190] 

«Espiar/espionar»

O mesmo vale para nós

 

      «“Os assessores de Trump já o alertaram repetidas vezes de que suas chamadas não são seguras e disseram-lhe que espiões russos também costumam espionar as chamadas”, apontou a mesma publicação [o New York Times]» («China e Rússia terão telemóvel pessoal de Trump sob escuta», TSF, 25.10.2018, 6h35).

      Sim, pois, também temos espionar, mas... «El verbo espionar», escreveu Juan Mir y Noguera no seu Prontuario de Hispanismo y Barbarismo (Sáenz de Jubera hermanos, 1908, p. 732), «bastaría por sí para descubrir la poca gracia de los galicistas modernos.» Ao longo do século XX, foi sempre assim, com os autores de gramáticas, vocabulários e dicionários a reputarem esta forma por incorrecta, condenável, inexistente no castelhano. O mesmo se aplica à nossa língua.

 

[Texto 10 189]

«Tratar-se de», mais uma vez

Só para não se esquecerem

 

      «A candidata à liderança da Juventude Socialista (JS) Maria Begonha reescreveu o seu currículo depois de o jornal Público ter esta terça-feira denunciado que várias informações biográficas não correspondiam à verdade. [...] Ao Público, o diretor de campanha, Tiago Estêvão Martins, disse que as informações incorretas se tratavam de “gralhas com relevância diminuta”, falando num eventual “erro na transposição” da informação para o site» («Erros no currículo levam candidata à liderança da JS a alterar biografia», Carolina Rico, TSF, 24.10.2018, 9h34, itálicos meus).

      E o «se tratam de» será erro na transposição ou um consistente, arreigado desconhecimento das regras da gramática, Carolina Rico?

 

[Texto 10 188]

As massas no dicionário

No Dia Mundial da Massa

 

      «Faltam 67 dias para acabar o ano e nunca me tinha apercebido de que este dia é o Dia Mundial da Massa. Esta quinta-feira é o dia do esparguete e do rigatoni, do talharim e do fusilli, do macarrão e do fettucine. Há pelo menos 13 formatos diferentes de massa. Se para si o formato é indiferente e o que importa mesmo é o sabor, acredite que há diferenças» («Cada português consome sete quilos de massa por ano», André Rodrigues, Rádio Renascença, 25.10.2018, 8h40).

      Em rigor, só não temos o termo rigatoni, porque fusilli são as nossas espirais. Ah, sim, e fettuccine — que o jornalista não escreveu correctamente. No Dicionário de Italiano-Português da Porto Editora, a definição de rigatoni (é um plural, mas a palavra usa-se quase sempre apenas no plural) é daquelas que sempre me intrigaram: «espécie de massa». O que significa isto exactamente? Que é qualquer coisa semelhante à massa, ou que é uma variedade de massa? Sim, sabemos a resposta neste caso, não noutros. Mais rigor a redigir as definições, se faz favor. Mais estranho: porque é que o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora apenas regista fettuccine, relegando as outras para os dicionários bilingues?

 

[Texto 10 187]

«Raphael e Michelangelo»...

Antes escrito na areia

 

      Edição de ontem do Público, «Escrito na pedra»: «Itália não é um país intelectual. Não avaliem a Itália pelo simples facto de ter produzido Raphael e Michelangelo» (Umberto Eco, filósofo e escritor, 1932-2016).» Umberto Eco disse mesmo isto? Sabe-se lá, há tantas aldrabices nisto das citações. O que sei é que nunca eu, português, escreveria «Raphael e Michelangelo», nem concebo que alguém minimamente atilado o faça. Não é nada, os plumitivos do Mosaico, jornal d’instrucção e recreio, em meados do século XIX, escreviam melhor.

 

[Texto 10 186]