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Linguagista

Léxico: «superantigénio»

Mais uma falha

 

      «Um dos seus principais trabalhos é sobre o desenvolvimento de um medicamento contra uma família de toxinas chamada “superantigénios”» («Raymond Kaempfer. Sobreviveu ao Holocausto em criança e agora combate armas biológicas», Teresa Sofia Serafim, Público, 27.10.2018, p. 31).

      Superantigénios ou superantígenos? Não sabemos nós nem tão-pouco os nossos lexicógrafos do que se trata.

 

[Texto 10 207]

Tradução: «cabinet»

Ou este

 

      Não sei quê e tal, «o gabinete (cabinet), traduzido como governo nesta publicação», etc. Ao que julgo, esta última é a palavra usada na esmagadora maioria das vezes, ou não? Uma vez por outra, poucas: «E foi essa resposta que textualmente comunicámos a Rosen, acrescentando-lhe alguns esclarecimentos sobre o decreto que fora publicado: não era possível levar mais longe a nossa subordinação a Londres: pedíamos ao gabinete inglês que minutasse as notas diplomáticas portuguesas» (Salazar: estudo biográfico, vol. 1, Franco Nogueira. Coimbra: Atlântida Editora, 1977, p. 144). No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, no verbete gabinete, lê-se esta definição, a que interessa para o caso: «POLÍTICA conjunto dos ministros que compõem um governo; ministério». Estará bem acrescentar-se «ministério» à primeira parte da definição? Não sei. Antes, regista outra acepção do termo: «POLÍTICA sala de trabalho (de ministro, chefe de Estado, etc.)». A minha dúvida: não ficaria melhor nesta acepção o sentido «ministério»?

 

[Texto 10 206]

Léxico: «gaioleiro»

Por exemplo, este

 

      Mais um exemplo do que se pode corrigir ou melhorar? Pois bem, o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista o vocábulo gaioleiro. Lembrar-se-ão de que foi por minha sugestão que aquele dicionário registou a 5 de Janeiro do ano passado a expressão gaiola pombalina. Neste caso, diz que é um substantivo, e tem duas acepções: «1. aquele que faz ou vende gaiolas; 2. popular construtor de casas em más condições de solidez». Substantivo? Também, mas não só. Popular? Sim, mas não só. Nas faculdades de Arquitectura (e, logo, em dissertações, teses e palestras sobre a matéria), fala-se em edifícios gaioleiros, que são edifícios antigos de alvenaria, muito presentes sobretudo em Lisboa, com elevada vulnerabilidade sísmica. Porquê gaioleiros? Justamente porque se verificou, na sua concepção, uma alteração da gaiola pombalina, com os elementos de solidarização horizontal das paredes-mestras a desaparecerem, e o uso de materiais de construção de qualidade inferior e mão-de-obra menos qualificada. É somente este último aspecto que a segunda acepção do dicionário da Porto Editora vai buscar. Na década de 1930, com o surgimento do betão armado, este paradigma na construção foi, paulatinamente, desaparecendo.

 

[Texto 10 205]

Léxico: «exclave»

Depende do ponto de vista

 

      «O Nagorno-Karabakh é um exclave arménio no Azerbaijão, palco de conflito armado entre 1988 e 1994. As posições irreconciliáveis das partes relativamente à definição do estatuto político do território têm prolongado as negociações e o encontro de um entendimento perfeito» (A Rússia de Putin: Vectores Estruturantes de Política Externa, Maria Raquel Freire. Coimbra: Edições Almedina, 2015).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não o acolhe. Contudo, incongruentemente, depara-se-nos depois num texto de apoio sobre o franco suíço: «O exclave italiano de Campione d’Italia e o alemão de Busingen também utilizam o franco suíço.» Mais estranho ou anómalo: no Dicionário de Italiano-Português da Porto Editora, para traduzir o termo italiano exclave, propõe-se o seguinte: «enclave masculino, encrave masculino». Em resumo, empregar-se-á «enclave» ou «exclave» consoante o ponto de vista, como se afirma, e muito bem, no Trecanni: «Nel linguaggio politico, territorio, di piccole dimensioni, circondato da uno stato diverso da quello al quale appartiene (lo stesso quindi che enclave, ma considerato rispetto allo stato sovrano): Campione è, per l’Italia, un’exclave in territorio svizzero

 

[Texto 10 204]

Léxico: «monfortino»

Outro ignorado

 

      «Missionário monfortino, Rui Manuel de Sousa Valério tem 54 anos. Escolhido este sábado pelo Papa para ser o novo bispo das Forças Armadas e de Segurança, já reagiu à notícia com uma mensagem especial a toda a diocese, divulgada através do Patriarcado de Lisboa» («Papa escolhe missionário para novo bispo das Forças Armadas e de Segurança», Ângela Roque, Rádio Renascença, 27.10.2018, 11h00).

      Pobres Missionários Monfortinos, ignorados pelo Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 10 203]

Léxico: «pia»

E mais este

 

      «No sopé do imponente castelo de Monsanto, o geólogo [Carlos Neto de Carvalho] aponta para a figura das 13 pias, ou gnammas, que mais não são do que pequenas fracturas da rocha, provocadas pela retenção de água pluvial que forma cavidades» («As rotas da geologia», Gonçalo Pereira, National Geographic, Agosto de 2007, pp. 24-25).

      Nos nossos dicionários, nem pia nem gnamma. É claro que, assim, a preferência dos falantes, especialistas ou não, vai logo para o termo estrangeiro, sempre mais fascinante.

 

[Texto 10 202]

Léxico: «antilocapra»

Olha, outro que ficou de fora

 

      «O antilocapra, um ungulado do Oeste e Centro dos Estados Unidos, é mais veloz do que qualquer outro animal, à excepção da chita, e realiza a mais longa migração entre os mamíferos terrestres nos EUA» («Perder terreno», Joel Berger, National Geographic, Agosto de 2007, p. 20).

   No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, não encontramos antilocapra (Antilocapra americana) e, contudo, está num bilingue. Neste texto, o tradutor deu-lhe o género masculino, mas não é o que regista, por exemplo, o VOLP da Academia Brasileira de Letras.

 

[Texto 10 201]