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Linguagista

Léxico: «projectual»

Mas precisam dele

 

      O professor fala agora sobre as «patologias decorrentes de erros de concepção projectual». Por mim, está tudo bem — mas, e nos dicionários? O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não o regista e, contudo, encontramo-lo num texto de apoio sobre o arquitecto soviético Ivan Leonidov (1902-59). Não o acolhem, mas precisam dele. Está bem, está. (Quase a propósito: projectura também é um bom termo. Vejam a definição.)

 

[Texto 10 212]

Léxico: «publicista»

Devia

 

      De publicista, diz-nos o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora que é o «homem que escreve sobre política, economia ou direito público». Mas é um nome de 2 géneros... Enfim, isto foi redigido muito antes das actuais reivindicações sociais. Não é esse, contudo, o ponto que me interessa agora. Na literatura portuguesa oitocentista, tinham a designação típica de publicistas os autores — como Silvestre Pinheiro Ferreira, por exemplo, cujas obras tiveram grande repercussão internacional — que utilizavam o método do estudo comparado da política, ou das constituições. Isto não devia estar nos dicionários? Devia.

 

[Texto 10 211]

Léxico: «vidro borossilicato»

Artes de maçariqueiro

 

      «O maçarico é aquele instrumento que junta o gás propano e o oxigénio para produzir uma chama azulada com que se trabalha o vidro borossilicato, que é um vidro especial, com que se produzem, por exemplo, os instrumentos de laboratório. Mário tem caixas cheias de tubinhos de vidro de vários tamanhos com que cria, em poucos minutos, miniaturas de animais» («O último fazedor de ampulhetas que podia ter sido futebolista ou cantor», Maria João Caetano, Diário de Notícias, 26.10.2018, 8h44).

      Vidro borossilicato? O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora passa, não sabe do que se trata. Até para a definição de maçarico os lexicógrafos podiam levar daqui informação.

 

[Texto 10 210]

Léxico: «velharada»

Perdido e achado

 

      «Podia ter sido futebolista. Aos 16 anos, era estrela do Marinhense. “Joguei contra os Cinco Violinos”, conta, orgulhoso. “Era eu no meio da velharada toda.” Manuel Soeiro, que tinha sido jogador do Sporting e na altura era treinador, quis levá-lo para Lisboa» («O último fazedor de ampulhetas que podia ter sido futebolista ou cantor», Maria João Caetano, Diário de Notícias, 26.10.2018, 8h44).

      Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, acho que perdeste o verbete de velharada.

 

[Texto 10 209]

Léxico: «encobrimento»

A própria definição está encoberta

 

      «Há uma coisa», afirmou o Prof. Freitas do Amaral na entrevista que deu à TSF, «para a qual a comunicação social — sem querer criticar ninguém — não tem chamado a atenção. Fazem uma encenação para a devolução das armas e tal, claro que foi uma encenação, claro que visou proteger a pessoa que tinha roubado, porque é que quiseram protegê-la, ainda não se sabe, mas há uma coisa que eu ainda não ouvi ninguém dizer, e isso para mim é o mais importante de tudo: é que quer os oficiais da Polícia Judiciária Militar quer os oficiais da GNR de Loulé quer outros oficiais que estivessem a par disto cometeram o crime de encobrimento da prática de um crime. Eles sabiam que houve um crime de furto de armas, sabiam quem foi e quiseram encobrir. Ora, o encobrimento é crime. Isso não tem estado a ser devidamente realçado e eu acho que tem de ser e tem de dar lugar a outros processos, que é o processo a todas as pessoas que pretenderam encobrir o crime.» Nem sequer é realçado nos dicionários que encobrimento é crime. Como o pintam, até parece uma boa acção. Para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, encobrimento é o «auxílio prestado ao criminoso para que este se subtraia à acção da justiça». Digam assim: «DIREITO crime que consiste no auxílio prestado ao criminoso para que este se subtraia à acção da justiça».

 

[Texto 10 208]