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Linguagista

Léxico: «submarca»

Aviso pela segunda vez

 

      «A Mercedes apresentou uma alternativa diferente ao SUV GLC. À primeira vista, a única diferença passa pelos frisos azuis na grelha dianteira e nas jantes, para já não falar na assinatura EQ, a nova sub-marca da construtora automóvel alemã para veículos eletrificados e a referência F-Cell» («Guiámos o futuro Mercedes GLC F-Cell», Rui Faria, Destak, 2.11.2018, p. 10).

      Parece-me que vai estando na hora — ou até já passa, tendo em conta o que se vai vendo — de dicionarizar o vocábulo submarca. É que temos jornalistas com certas dificuldades, não sei se me entendem...

 

[Texto 10 261]

Léxico: «arinca»

Sprechen Sie Deutsch?

 

      «No que toca às águas nacionais, a Comissão Europeia propôs um corte de 14% nos totais admissíveis de capturas de pescada (7963 toneladas) e arinca (5937 toneladas) e uma diminuição de 26% no lagostim (281 toneladas)» («Pescada e arinca com redução e bacalhau vetado», Destak, 8.11.2018, p. 6).

      Também é contigo, não encolhas as lombadas, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, arinca (Melanogrammus aeglefinus), que só acolhes num bilingue. No caso, daquela língua («segunda língua», exageram os jornalistas) em que Rui Rio se escuda. Schellfisch.

 

[Texto 10 260]

Léxico: «beijinho»

Mas deve estar dentro

 

      A propósito de dedal: há dias, ouvi uma avó, que vertera demasiado leite na caneca da neta, dizer que esta lhe devia dar um beijinho. Ora, a palavra — assim como beijo e até beijoca — usa-se correntemente para nos referirmos a uma pequena porção apanhada pelos lábios, mas encontrá-la nos dicionários é que nem pensar. Dicionários fora dos dicionários.

 

[Texto 10 259]

Léxico: «oleanólico»

Folhas de oliveira

 

      «Presente em muitas frutas e vegetais, o ácido oleanólico tem propriedades antioxidantes, anticancerígenas, anti-inflamatórias e antialérgicas muito valorizadas pela indústria farmacêutica. Uma equipa de químicos da Universidade de Aveiro desenvolveu um método mais sustentável capaz de extrair este ácido das folhas de oliveira. Abre-se assim a porta a um rendimento superior para as folhas de oliveira, que atualmente são utilizadas para a produção de energia nas centrais de biomassa» («Novo processo torna as folhas mais rentáveis», Destak, 9.11.2018, p. 6).

      Oleanólico. Ora bem, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, isto é contigo.

 

[Texto 10 258]

A invenção da língua

Meu prezado amº e colega

 

      Estava aqui a beber um dedal de licor de castanha da serra da Estrela, para me desconstipar. «Cheguei ha pouco do Porto, e visitei sem intermissão de tempo a mª pequena livraria para não demorar a resposta á sua carta, visto q terei de recolher-me á cama para me desconstipar», escreveu Camilo numa carta. Quando é preciso, inventamos uma palavra.

 

[Texto 10 257]

Léxico: «cambridgiano»

Vendo bem...

 

      «A vida é demasiado curta para se aprender alemão. A frase magnífica já foi atribuída a Oscar Wilde e Mark Twain, mas parece que o seu autor é um filólogo inglês que viveu entre o século XVII e XIX, Richard Parson. Sendo uma das mais bonitas línguas do mundo, o alemão é extraordinariamente difícil de se compreender fluentemente num razoável período de tempo» («A língua de Rio não é o alemão, é o latim», Ana Sá Lopes, Público, 9.11.2018, p. 46).

      Parece que sim, pois, Richard Parson, Esq., Regius Professor in the University of Cambridge. Já não seria mau que, lá para o século XXV, alguém se lembrasse de dizer que um tal «Helder Guégués, que viveu entre o século XIX e XXI», afirmou ou fez isto ou aquilo, como Ana Sá Lopes agora se lembrou deste professor cambridgiano. (Vendo bem, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é melhor registar cambridgiano, ou já estou a ver como o escreverão muitos...)

 

[Texto 10 256]

Léxico: «mundivivência»

E, contudo, usa-se

 

    «Nascido em São Miguel, Açores, em 1946, Onésimo Teotónio Almeida doutorou-se em Filosofia pela Brown University e foi diretor de vários departamentos naquela universidade, onde leciona uma cadeira sobre valores e mundividências» («“O Século dos Prodígios” vence Prémio História da Presença de Portugal no Mundo», Rádio Renascença, 8.11.2018, 20h28).

      Mundividência ou mundivisão, pois, está bem, mas há décadas que se usa também mundivivência (a vivência do mundo, a experiência que se tem do mundo) e, nos dicionários, nem rasto.

 

[Texto 10 255]

Léxico: «contra-resposta»

E agora, como é?

 

      «Para estes activistas e intelectuais, a empatia humana está dividida por cercas. Lamento, mas a lógica dos muros começou muito antes de Trump, e começou na esquerda que diz que o branco pobre não é bem uma vítima, porque é branco. Na contra-resposta da direita, há agora uma nova vaga de nacionalismo branco, que responde ao politicamente correcto na mesma moeda reaccionária e quase biológica: o que interessa é a tribo étnica em que se nasce; é como se o ser humano fosse tão determinado pela biologia como uma árvore ou animal, é como se estivéssemos destinados a abandonar a Graça em nome da natureza» («A pobreza salvar-nos-á», Henrique Raposo, Rádio Renascença, 9.11.2018).

      Não será, mais propriamente, «réplica» que o cronista devia usar neste contexto? Seja como for, contra-resposta — um termo da música que significa resposta ao contra-sujeito de uma fuga — nem sequer sobreviveu à voragem dos tempos, acabando por desaparecer dos nossos dicionários. E agora, como é? Como sabe o falante se o vocábulo está a ser bem usado?

 

[Texto 10 254]