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Linguagista

Léxico: «flauta-de-pã»

Não pode ser

 

      Se, para a magnífica Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, a grafia já era flauta-de-pã, porque é que não está assim em nenhum dicionário actual, porque não está assim no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora? Neste, contudo, aparece referida na definição de siringe: «MÚSICA flauta muito antiga, de sopro transversal, constituída por uma série de tubos que produzem uma escala, flauta de Pã, flauta de amolador». Assim, flauta de Pã, faz lembrar o mesmíssimo cu de Judas do Acordo Ortográfico de 1990. Realmente...

 

[Texto 10 283]

Léxico: «água-neve»

É isto

 

      É verdade que registas — regista o teu primo Dicionário de Termos Médicos — o vocábulo quionofobia, mas estão aqui a dizer-me que há sete tipos de neve, e um deles tu, Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, ignoras completamente: água-neve (ou aguaneve, que isto é como água-ardente/aguardente). Não confundir com Água de Neve, de Nuno de Montemor (autor que era justo recordar agora, pois acompanhou o CEP na Grande Guerra), um poema pastoril...

 

[Texto 10 282]

O oficial que não o é

Continuemos

 

      Como já corrigiram de Horta para Orta e de Pirinéus para Pirenéus (que trabalho lhes estou a dar, coitados!), passemos a outro erro, um que encontro até em traduções de grandes sumidades: «Assassinato de jornalista. Áudio da morte de Khashoggi horrorizou oficial saudita» (Rádio Renascença, 13.11.2018, 11h30). Oficial, pois... «“Quando ouviu (as gravações de voz), o funcionário dos serviços de informação saudita surpreendeu-se e disse: “Parece que tomou heroína (o assassino), isso só pode ter sido feito por alguém que tomou heroína”, declarou Recep Tayyip Erdogan.»

 

[Texto 10 281]

«Tratar-se de», mais uma vez

Outras fontes inquinadas

 

      «[Ana Boavida] É portuguesa, oriunda de Coimbra, e foi a designer premiada com o Prémio de Excelência em Tipografia, atribuída pela revista americana Communication Arts, a mais prestigiada revista internacional de comunicação visual. [...] Na conversa com a TSF, a designer portuguesa refere que o principal desafio foram os títulos dos livros, uma vez que se tratavam de interrogações» («Quem disse que os livros de economia têm de ser sérios? Designer portuguesa vence prémio», Miguel Midões, TSF, 13.11.2018, 8h00, itálicos meus).

      Agora imaginem o efeito destes erros no conhecimento que o falante médio tem da língua, se até em jornalistas, escritores, tradutores é habitual. É mais uma batalha perdida.

 

[Texto 10 280]

 

Podia ser o segundo pior

Para continuar

 

      Podia ser o segundo pior título, mas não exageremos: «Pirinéus podem perder metade da neve até 2050» (Rádio Renascença, 13.11.2018, 7h55). Ai que nunca mais aprendem: Pirenéus. Pirenaico. Cispirenaico. Transpirenaico. (Estas duas últimas, ai!, esquecidas pelo Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.) Como não lhes entra o centígrado/Celsius: «O aumento da temperatura média nos Pirinéus em 1,2 graus centígrados nos últimos 50 anos faz prever que esta cordilheira perca metade da sua neve até 2050 e, se nada for feito, 80% antes do final do século.»

 

[Texto 10 279]

Pior título do dia

Para começar mal

 

      O dia noticioso ainda mal começou, mas pode já ficar assente que, se não for o pior, pedirá meças a qualquer outro. «Falta de anestesistas do Garcia de Horta fecha blocos operatórios» (Rádio Renascença, 13.11.2018, 8h25). Isto não é azar (ou, se o for, é o nosso), nem descuido, nem gralha — é simplesmente falta de um mínimo de cultura geral.

 

[Texto 10 278]

Léxico: «microelectromecânico»

Mais duas tresmalhadas

 

      «Citado pelo jornal espanhol ABC, Peter Cumpson, especialista em sistemas microeletromecânicos, confirma que, “na realidade, não importa quanto pesa um quilo se todos trabalharmos com a mesma norma”» («Um quilo vai deixar de ser um quilo. E o que significa isto?», Rádio Renascença, 13.11.2018, 8h00). Mais uma fora dos dicionários. Uma? Duas: microelectromecânica também foi esquecida.

 

[Texto 10 277]

A nova definição de «quilograma»

E de outras unidades

 

      «Esta terça-feira, 129 anos depois de o rei Luís XVI de França ter incumbido um grupo de cientistas de desenvolver um sistema universal de medidas, o Comité Internacional de Pesos e Medidas vai estar reunido em Versalhes, França, para redefinir o quilo. [...] Hoje, os especialistas do Comité Internacional de Pesos e Medidas, onde estão atualmente representados 60 países, vão votar uma alteração à forma como o quilograma é definido indiretamente, com recurso à chamada constante de Planck, uma das constantes fundamentais da física. [...] O que vai acontecer é que o quilograma vai passar a ser calculado de outra forma, a partir da tal constante de Planck. Ou seja, a mudança, que entrará em vigor em abril do próximo ano, não terá efeitos no uso quotidiano da medida; só a abordagem científica é que vai mudar» («Um quilo vai deixar de ser um quilo. E o que significa isto?», Rádio Renascença, 13.11.2018, 8h00).

      Já aqui tínhamos tratado desta questão em Outubro de 2015. No dia-a-dia, nada vai mudar — mas terá de mudar a definição nos dicionários, e é a essa que estarei atento. Na reunião de hoje, vão ser revistas mais três unidades: o ampere, o kelvin e a mole. No artigo da Renascença, há um erro: confundem nomes de unidade com símbolos. Unidades: ampere, kelvin e mole, cujos símbolos são, respectivamente, A, K e mol.

 

[Texto 10 276]