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Linguagista

Léxico: «biogeografia»

Equívoco

 

      Há momentos, na Antena 1, estava a ser entrevistado o geógrafo Miguel Bastos Araújo, vencedor do Prémio Pessoa 2018. Parece-me um homem excepcional. Miguel Bastos Araújo é especialista em biogeografia, vocábulo que o dicionário da Porto Editora define assim: «GEOGRAFIA capítulo da geografia que estuda a distribuição dos seres vivos na Terra e analisa as causas que a determinam». Não concordo, parece-me equívoco, o que se há-de dever ao uso da palavra «capítulo». Na definição do próprio entrevistado, a biogeografia é a «ciência que estuda a distribuição da vida no planeta».

 

[Texto 10 543]

Léxico: «tecnológica»

Só na China, querem ver?

 

      «Aconteceu na China. A Huawei puniu dois funcionários que recorreram ao iPhone para desejar um bom ano novo numa publicação na conta oficial da rede social Twitter da empresa» («Huawei sanciona funcionários que utilizaram iPhone para desejar bom ano», Rádio Renascença, 4.01.2019, 8h42). Talvez não seja apenas na China que isto acontece. Avancemos: «O erro ocorreu na empresa subsidiária de marketing Sapient. Agora, a gigante tecnológica vai despromover um dos funcionários e reduzir-lhe o salário, enquanto o segundo não poderá ser promovido este ano.» Erro, imagino, da perspectiva da entidade empregadora, que o jornalista adoptou. Repare-se — repara tu, dicionário da Porto Editora —, como, de tão usado, aquele adjectivo substantivado já se lexicalizou: tecnológica. Vimo-lo aqui com outros vocábulos, entretanto contemplados com um verbete autónomo nos dicionários.

      Cite-se agora o último parágrafo do artigo, apenas para mostrar como o jornalista não sabe do que fala ou se exprime mal ou não conta tudo: «A equipa desta empresa não conseguiu ligar-se à rede privada VPN virtual — um mecanismo usado na China para contornar a censura cibernética que bloqueia páginas como Twitter, Facebook ou Google —, obrigando os funcionários a utilizarem os seus telemóveis com recurso a um cartão SIM de Hong Kong, que lhes permite aceder a essas páginas bloqueadas em território chinês.» Uma rede VPN serve sempre para contornar alguma coisa, na China ou em Portugal. No iPad, uso a versão gratuita do VPNHub, sim, a do canal de vídeos pornográficos. Contudo, os restantes dispositivos estão desprotegidos, pelo que estou a ponderar pagar uma licença da PureVPN, que os entendidos recomendam, tanto mais que está a decorrer uma promoção excepcional. Dado que a empresa existe há dez anos, optar por uma licença por cinco anos, com 88 % de desconto, talvez não seja disparatado. A segurança dos nossos dados devia constituir a nossa principal preocupação neste momento.

 

[Texto 10 542]

Léxico: «pescada-preta»

Cientificamente incompleto

 

      Ontem comi pescada-preta, vocábulo que podemos encontrar no dicionário da Porto Editora: «ICTIOLOGIA peixe teleósteo, de cor escura, que se encontra nas costas portuguesas e é chamado liro, na Madeira». Que lhe falta? O nome científico: Centrolophus niger. Preta no nome, mas, realmente, anegrada uniforme (e anegrado também o dicionário da Porto Editora ignora) ou azul mais ou menos escura.

 

[Texto 10 541]

Léxico: «táxi/aquatáxi/aerotáxi»

Para a outra margem, de aquatáxi

 

      «Arranca hoje serviço de táxi fluvial [que] liga ribeiras do Porto e Gaia», lia-se num título do Diário de Notícias em linha de 30 de Setembro de 2016. Tanto quanto sei, esse serviço já funciona. Não, é claro, com o fogareiro Mercedes preto e verde, mas com rabelas. Ainda ontem, na entrevista que Inês de Medeiros deu à Renascença, se falou em táxis fluviais, neste caso no Tejo. É verdade que, como acontece com «mototáxi», temos um termo próprio, que é «aquatáxi» (ignorado pelo dicionário da Porto Editora, como também sucede com «aerotáxi», o táxi aéreo), mas talvez seja de considerar o acrescento de uma acepção genérica da palavra táxi.

 

[Texto 10 540]

Léxico: «xadrez»

Uma acepção

 

      «O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, destaca o “relevo do primeiro-ministro”, António Costa, no xadrez europeu e a estabilidade política do Governo como fatores que permitiram o reforço significativo do “peso de Portugal” na Europa» («Marcelo elogia relevo de Costa no xadrez europeu e estabilidade política do Governo», Rádio Renascença, 3.01.2018, 22h13).

      Nos nossos dicionários, ao contrário do que eu supunha ou esperava, não se encontra esta acepção de xadrez.

 

[Texto 10 539]

Léxico: «ciclopedonal»

Ciclope... donal

 

      «Os trabalhos para a construção de uma passagem ciclopedonal sobre a Avenida Calouste Gulbenkian, no âmbito do corredor verde de Alcântara, em Lisboa, arrancam este mês e vão condicionar aquela via até ao final de janeiro» («Obras do corredor verde de Alcântara condicionam trânsito até final de janeiro», Rádio Renascença, 3.01.2018, 21h16).

      Nos tempos que correm, cicl(o)- tornou-se elemento em voga: é ciclovia, ciclofaixa, etc. Não faltam manifestações de ciclofilia — nem de selvajaria e inépcia em quem anda de bicicleta e nos peões broncos que atravancam as ciclovias. (A propósito, no sábado vou comprar uma buzina Hornit de 140 Db para a minha Biomega.) Ciclopedonal ainda é desconhecido do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 10 538]

Léxico: «lúcuma»

Grande pó

 

      Para adoçar batidos, iogurtes ou sobremesas, recomendável porque é excelente fonte de fibra, vitaminas e minerais, está agora a usar-se lúcuma em pó, cujo nome científico é Pouteria lucuma. É uma árvore nativa da América do Sul, o fruto é verde com polpa amarelada ou amarelo-alaranjada. Nem todos os nossos dicionários registam o termo lúcuma. No VOLP da Academia Brasileira de Letras, aparece com a grafia lucuma.

 

[Texto 10 537]

Léxico: «biovivo»

A nova tendência

 

      De início, ao que creio, era nome comercial, mas ultimamente já é usado como nome comum: biovivo. Ontem, num supermercado, comprei dois vasos com erva trigo. É uma planta viva, que apenas se corta no momento em que a vamos consumir, assim à chefe constelado de estrelas Michelin. Mais fresco é impossível.

 

[Texto 10 536]

Léxico: «geoengenharia»

Anda lá perto

 

      «Num contexto de aumento das emissões poluentes, este ano poderão realizar-se as primeiras experiências para tentar arrefecer o planeta através de geo-engenharia solar, uma técnica em que se usam partículas pulverizadas na estratosfera para refletir alguma percentagem dos raios solares» («Expedições à Antártida e experiências para arrefecer a Terra marcarão 2019», Rádio Renascença, 3.01.2019, 15h50).

      O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora anda ali à volta: «Queria pesquisar bioengenharia, reengenharia

 

[Texto 10 535]

Léxico: «careto»

Pode não chegar

 

      «Terminam no próximo domingo, dia 6 de janeiro, os doze dias dedicados às Festas dos Rapazes ou dos caretos, que se realizam no nordeste transmontano. São rituais ancestrais que ainda se mantêm em várias aldeias do distrito de Bragança e que, na maior parte dos casos, celebram a passagem dos rapazes à idade adulta» («Festas dos Rapazes e Maçonaria, tradições com semelhanças», Afonso de Sousa, TSF, 3.01.2019, 13h32).

      Será então Festa dos Caretos, uma extensão da Festa dos Rapazes. O Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora é dos poucos dicionários, se não for o único, que não relaciona o vocábulo careto com Trás-os-Montes, limitando-se a referir que se trata de regionalismo. Pode não chegar.

 

[Texto 10 534]