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Linguagista

Léxico: «hidromel»

Por falta de espaço não é

 

     «O destaque vai para o hidromel, a primeira bebida alcoólica fabricada pelo homem. No Bardo [Taverna Medieval, em Setúbal] vai poder prová-la à pressão, o que é coisa rara, ou em forma de licor» («Idade Média», Sofia Garcia, «Sexta»/Correio da Manhã, 28.12.2018-3.01.2019, p. 41).

     Um dicionário não precisa de ir a pormenores como referir que o hidromel era a bebida dos Viquingues ou fornecer a receita, mas esperava mais da definição do dicionário da Porto Editora: «bebida, fermentada ou não, feita de água e de mel, água-mel». Má definição, sim, paupérrima, mas ainda há pior do que isto, ah, pois. (Hidromel, lua-de-mel, vejam a relação. Em inglês, é mead. A despropósito, ó RTP3, diz aí a João Fernando Ramos, do 3 às 19, que o topónimo inglês Reading não se pronuncia ˈriːdɪŋ, como o nome comum, mas ˈre-diŋ. Eu já escrevi isto um dia, mas foi há tanto tempo, que João Fernando Ramos ainda não tinha cabelos brancos.)

 

 [Texto 10 546]

«Meixão», de novo

Se puder ficar melhor

 

      «A Unidade de Controlo Costeiro apreendeu, na sexta-feira, nove quilos de meixão na localidade de Vieira de Leiria, concelho da Marinha Grande, informou este sábado a GNR. [...] O meixão é a designação dada à enguia europeia em fase larvar, uma espécie “considerada em perigo e que tem sofrido grande redução no número de efetivos” devido à pesca ilegal, “impedindo desta forma o normal ciclo de reprodução, colocando em causa a sustentabilidade da espécie”, realça a GNR» («GNR apreende nove quilos de meixão na Vieira de Leiria», Rádio Renascença, 5.01.2019, 12h16).

      Notícia que me leva a reapreciar a definição de meixão no dicionário da Porto Editora, que reza assim: «larvas metamorfoseadas da enguia europeia [mas, no verbete desta, é enguia-europeia que aparece dicionarizada], da espécie Anguilla anguilla, que aparecem em águas costeiras, antes de migrarem para as águas interiores onde crescem, e que constituem uma espécie protegida, por ameaça de sobreexploração; enguia-de-vidro; angula». O que ponho em causa é o que ali deixei destacado: serão mesmo larvas metamorfoseadas? Se a larva é uma fase da metamorfose, não me parece fazer sentido. Assim, optaria pela formulação do artigo, «enguia-europeia em fase larvar». (O termo «sobreexploração» trouxe-me à mente sobreelevação, que disse aqui que o dicionário da Porto Editora não registava. Continua a ser assim. Estranhamente, encontramo-lo — com a grafia «sobre-elevação» — no Dicionário de Alemão-Português para traduzir Überhöhung. Outros têm ficado pelo caminho, e nem todos — sirva este de exemplo — será por discordarem de mim. Será talvez por distracção.)

 

[Texto 10 545]

Léxico: «lapeira»

Não pescam nada

 

      «Na mesma nota refere-se que o pescado foi apreendido [em São Jorge, Santana] juntamente com um fato de mergulho, um par de barbatanas, óculos e tubo de respiração, duas lapeiras e um bucheiro, utensílios utilizados na prática da atividade, tendo o homem sido identificado e elaborado o respetivo auto de contraordenação» («GNR apreendeu 35 quilos de lapas apanhadas ilegalmente», Jornal da Madeira, 5.01.2019, p. 11).

      Não será antes «bicheiro»? Certo é que em todos os meios em que foi divulgada esta notícia é «bucheiro» que se lê. Alguém que saiba que nos explique. Esqueçamos, pois, esta e concentremo-nos em lapeira: o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não sabe do que se trata.

 

[Texto 10 544]