Um cão e uma moeda
O original, francês, falava em carlins, que, no caso, são cães. «Petit chien d’agrément ressemblant au dogue, au poil ras, au museau noir court et aplati» (in Trèsor). Sim, percebia-se logo que se tratava de cães — mas como traduzir? O Dicionário de Francês-Português da Porto Editora traduz assim carlin: «1. (antiga moeda napolitana) carlino; 2. ZOOLOGIA carlim». Estava na hora de saltar para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora e ver a definição de carlim. Népias, nem carlino nem carlim. Em francês, diga-se, é carlin nas duas acepções. Quanto à moeda, diz o Trèsor: «Ancienne monnaie d’Italie dont la valeur variait selon les royaumes.» O Estraviz é mais informativo: «Moeda de prata de pouco valor, cunhada por Carlos de Anjou, rei de Nápoles (século XIII), introduzida em Espanha através de Aragão. Cunhada posteriormente por Carlos II de Navarra (2ª metade do século XIV).» Em italiano, por sua vez, é carlino nas duas acepções, e, dado que é tudo italiano, vamos ao Treccani. A moeda: «carlino s. m. [dal nome di Carlo I d’Angiò, che fece coniare la moneta nel 1278]. – Moneta del regno di Sicilia, d’oro e d’argento, rappresentante al dritto lo scudo partito di Francia, al rovescio l’Annunciazione della Vergine (detta perciò anche, da questa figurazione, saluto); con lo stesso nome furono indicate altre monete, in uso, con diversi valori e denominazioni (c. di Rodi, c. romano, c. papale, ecc.), fino al sec. 19° in Italia e all’estero.» O cão: «carlino s. m. [dal fr. carlin, dal nome dell’attore Carlo Bertinazzi (1713-1783), detto Carlin, che interpretava a Parigi la parte d’Arlecchino con una maschera nera]. – Cane da compagnia dal corpo robusto e muscoloso, alto da 20 a 30 cm, a pelo corto fitto e lucente, con testa rotonda e massiccia, occhi scuri e prominenti, muso grinzoso e maschera nera.»
Em conclusão, só o cotejo sistemático dos dicionários bilingues com o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora traria para este larguíssimas centenas de vocábulos. Logo ali ao lado, carlina, com duas acepções, está nos bilingues e não se encontra no da língua portuguesa.
[Texto 10 558]