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Linguagista

Léxico: «hiperexpressão»

Com mais ou menos dúvidas?

 

      «Verificou-se que isto acontecia devido à hiperexpressão de um par de genes distintos que deriva do mesmo gene ancestral: o Lin28a e o LIN28B, que controlam a identificação e a auto-renovação das células estaminais embrionárias, são importantes no desenvolvimento e crescimento e podem estar envolvidos em diferentes tipos de cancro» («Como a cauda dos ratinhos já nos disse muito sobre o desenvolvimento embrionário», Teresa Sofia Serafim, Público, 19.01.2019, p. 35).

      Será que vale a pena levar hiperexpressão para os dicionários? Vale. Desta vez, está bem escrito, mas já o tenho visto mal escrito. Uns parágrafos atrás, a jornalista escorregou noutra: «Desmontemos essa rede. Para tal, é necessário ter em conta que o desenvolvimento do corpo dos vertebrados se faz progressivamente ao longo de um eixo antero-posterior, que se inicia na cabeça e termina na cauda.» É ântero-posterior. E quando são os dicionários que erram? Vamos imaginar esta situação, que há-de ser comum: alguém lê este texto e quer comprovar se se escreve mesmo «auto-renovação». No dicionário da Porto Editora não encontraria «auto-renovação» nem (pelo menos isso) «autorrenovação», mas topava tanto com «auto-referencialidade» como com «autorreferencialidade». Que acham: ficaria com mais ou com menos dúvidas?

 

[Texto 10 618]

Eu não, usam eles

Século XXI

 

      A minha filha diz-me que já consegue dropar a rampa maior na pista de patins em linha; Boss AC confessa que gosta de samplar (mas os dicionários registam «samplear») temas de outros intérpretes; na Internet, ensinam-nos a hackear. Não hackeio, não sampleio, não dropo (nem me drogo), mas tenho de manter os sentidos bem despertos para o que se passa à minha volta.

 

[Texto 10 617]

Lexionário — e propinas!

Repete lá isso?

 

      «O balanço incluirá ainda as iniciativas destinadas a “legislar claro e a facilitar o acesso e compreensão da legislação através do site do Diário da República Electrónico”. Neste domínio houve duas novidades em 2018. “Foi criado o dicionário de conceitos jurídicos, o Lexionário, que já tem 280 entradas”, divulga Tiago Antunes, apontando também a “criação de uma app [aplicação informática] que permite ter toda a legislação desde 1910 nos telemóveis e tablets e que teve já mais de 14 mil instalações”» («Governo vai avaliar impacto das leis no combate à pobreza e à corrupção», São José Almeida, Público, 18.01.2019, p. 10).

      Será que entre as 280 entradas já se encontra a de «propina»? Não, ainda é cedo. Seria útil sobretudo ao dicionário da Porto Editora, que jura a pés juntos que é a «quantia que se paga ao Estado para se poderem realizar certos actos escolares (matrículas, exames, etc.)». Será mesmo? Então, qual o nome que se dá à contraprestação pecuniária devida pelo estudante pelo serviço privado de ensino que lhe é prestado por uma instituição privada de ensino superior? Espórtula? Taxa? Quota? Quem nos chamou a atenção para este erro no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora foi o leitor Afonso Costa.

 

[Texto 10 616]

Léxico: «porta-automóveis»

Nem um deles em lado nenhum

 

      «Um comboio experimental com 150 automóveis da Volkswagen parte no sábado da Autoeuropa, em Palmela, para o porto de Santander, num “teste” para avaliar a viabilidade deste serviço de transporte por via ferroviária, divulgou ontem a Medway, que garante a tracção do comboio – a composição integrará 15 vagões porta-automóveis de dois pisos (da Transfesa), cada um transportando dez carros» («Autoeuropa testa transporte por via ferroviária», Público, 18.01.2019, p. 27).

      Como também há camiões porta-automóveis, e, contudo, os nossos dicionários só conhecem porta-aviões. Sinónimo, também usado, é porta-carros.

 

[Texto 10 615]

Léxico: «spread»

Não está à altura

 

      «As taxas Euribor estão em valores negativos desde 2015 (Euribor a 3 e 6 meses), mas muitos clientes estão a pagar taxas mais elevadas, porque os bancos compensam esse valor com a aplicação de spreads (margem comercial do banco) mais elevados» («Com recurso a empréstimo, o custo de uma habitação duplica», Rosa Soares, Público, 18.01.2019, p. 3).

      «Margem comercial do banco»: não está mal. Também a definição no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora fala em margem, mas, desadjectivada, obrigará muitos a procurar outra definição mais clara: «ECONOMIA margem aplicada pelo banco sobre o valor da taxa de juro de referência». Enfim, quiseram poupar palavras, mas o resultado não está à altura.

 

[Texto 10 614]

Léxico: «vitrinismo»

Verbete perdido

 

      «Concurso de vitrinismo vai ser alargado ao concelho» (Jornal da Madeira, 19.01.2019, p. 5).

      Mais um erro imperdoável do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: então não é que regista vitrinista, mas não vitrinismo? Como é que quem dicionarizou aquele não fez o mesmo com este? Mistério.

 

[Texto 10 613]