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Linguagista

Léxico: «mercenarização»

Há décadas e agora

 

      «O amor possibilita alguns dos poucos momentos em que seres humanos se entre-dão [sic] numa dádiva gratuita e profundamente criadora ou transfiguradora, sem mercenarização — mas mesmo assim numa dádiva ainda condicionada, na melhor hipótese, pelos factores pecuniários da vida conjugal, e sem saber que deveria constituir o tipo mesmo da comunicabilidade social humana» (Cinco Personalidades Literárias: Jaime Cortesão, Aquilino Ribeiro, José Rodrigues Miguéis, José Régio, Miguel Torga, Óscar Lopes. Porto: Divulgação, s/d, p. 113).

      Já anda por aí há muito, e a última vez que o vimos foi no comunicado que o PCP divulgou sobre o caso do genro de Jerónimo de Sousa. Mercenarização. Nos dicionários, nada. Entredar-se. Nos dicionários, nada.

[Texto 10 622]

Léxico: «saborizante»

E cá como é?

 

      «En concreto, se estima que el organismo necesita unos 700 miligramos diarios de fósforo cuando el consumo medio en España está en unos 2-3 gramos al día según datos de la SEN de 2017, un consumo excesivo motivado por la ingesta de alimentos procesados, en los que los fosfatos provienen de los aditivos, conservantes y saborizantes» («El aditivo alimentario que acaba con tus ganas de hacer deporte», La Vanguardia, 20.01.2019, 3h45).

      Saborizante também o dicionário da Porto Editora regista, «que ou substância que, adicionada a um alimento (líquido ou sólido), lhe confere um determinado sabor», mas diz que é brasileirismo. Desta vez, não posso contradizê-lo (pese embora o largo historial de erros daquele dicionário nesta matéria), porque nunca deparei com a palavra. Entre os muitos aditivos alimentares — acidificantes, edulcorantes, emulsionantes, estabilizantes, espessantes, gelificantes, antioxidantes... —, este é novo para mim. Ou dar-se-á o caso de se pretender dizer o mesmo com a expressão «intensificador de sabor»? Ora, uma coisa é conferir sabor, outra é intensificar o sabor. Quem souber que responda.

 

[Texto 10 621]

Brexit, de novo

É só isto

 

      Apenas nos últimos dias: «Contactos secretos para adiar o Brexit» (Ricardo Ramos, Correio da Manhã, 9.01.2019, p. 30). «Tusk e Juncker ligam a May para conhecer “próximos passos” do Brexit» (Rádio Renascença, 18.01.2019, 18h30). «Na semana em que o Reino Unido entrou num impasse devido ao chumbo do acordo para o Brexit, o primeiro-ministro sublinhou que é “fundamental que a União Europeia proteja Portugal”» («António Costa defende mobilização em torno da União Europeia», TSF, 19.01.2019, 19h00). «Conhecido amanhã plano B sobre o Brexit» (Jornal da Madeira, 20.01.2019, p. 15). «Maior derrota de sempre de um Governo britânico em Westminster leva Corbyn a agendar moção de censura para hoje. Chumbo do acordo baralha calendário do “Brexit” e atira Reino Unido para limbo político» («Acordo de May estilhaçado pelos deputados que hoje decidem o seu futuro», António Saraiva Lima, Público, 16.01.2019, p. 2).

       O dicionário da Porto Editora insiste em registá-lo com minúscula e sem itálico, brexit. Retomando os meus argumentos: se designa (quem tem dúvidas?) um acontecimento único, histórico, grafa-se com maiúscula. Mais: se fosse um estrangeirismo, mas nome comum, tinha de se grafar em itálico. A minha opinião só mudou, entretanto, em relação a um aspecto: tratando-se de um nome que designa um facto histórico, não precisa de aspas ou itálico. Não é nome comum, dicionário da Porto Editora, porque se outro Estado-membro da UE pretender sair, o acontecimento não terá a mesma designação.

 

[Texto 10 620]

Léxico: «rocheiro»

Nada disso

 

      «Está na fase final o processo de recrutamento dos seis rocheiros que irão integrar esta recente carreira da Administração Pública. [...] No final, apenas seis dos candidatos irão ocupar as vagas disponíveis e juntar-se aos dois únicos rocheiros que atualmente exercem estas funções na Região» («Novos rocheiros vão para o terreno depois do verão», Susy Lobato, Jornal da Madeira, 20.01.2019, p. 10).

      «Queria pesquisar cocheiro, roceiro, rolheiro, tocheiro?», quer saber o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 10 619]