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Linguagista

Léxico: «raposa-vermelha»

Está incompleto

 

      «Tudo aconteceu no final da semana passada. O dia que parecia ser igual a tantos outros transformou-se quando uma funcionária e a coordenadora do Centro Escolar do Douro, em Rio Mau, Penafiel, se aperceberam que um animal estaria confinado num jardim interior da escola. [...] A raposa-vermelha, “Vulpes vulpes”, foi resgatada pelo Núcleo de Proteção Ambiental de Penafiel da GNR. Depois de verificarem que o animal não tinha ferimentos, este foi restituído ao seu habitat natural, na Serra da Boneca, em Penafiel» («A raposa que “invadiu” uma escola e animou o dia das crianças», Fernanda Pinto, Jornal de Notícias, 21.01.2019, 17h57).

      Bonito animal, a raposa-vermelha (Vulpes vulpes), enfim, a vulgar raposa. O dicionário da Porto Editora apenas regista raposa (que é a Vulpes vulpes) e raposa-do-árctico, mas esta sem o nome científico, que é Alopex lagopus.

 

[Texto 10 628]

Léxico: «luba/Lubas»

Tudo visto na imprensa

 

      Félix Antoine Tshisekedi Tshilombo, conhecido por Fatshi, será o quinto presidente da República Democrática do Congo. Satisfeitíssimos com esta vitória, muito provavelmente fraudulenta, estão os Lubas, um povo da região de Cassai (que, estranhamente, a Infopédia grafa Kasaï...), a que pertence Fatshi. O tribalismo ainda impera por aqueles lados. E os Lubas estão no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora? Não, apenas na Infopédia, no artigo sobre a República Democrática do Congo.

 

[Texto 10 627]

Tradução: «piqueta»

São 10 milhões

 

      «Ainda não sabem quando poderão entrar no túnel. Os mineiros que chegaram a Totalán (Málaga) no dia 15, terça-feira, para escavar o caminho até Julen e resgatar o menino ainda não sabem quando vão começar a trabalhar. [...] Debaixo do solo, equipa vai trabalhar com palhetas e martelos pneumáticos, de modo a desfazer as rochas. Tudo com grande precisão, para não colocar em causa a sua segurança e a da criança» («Talvez amanhã... Faltam poucos metros para chegar a Julen», Marta Grosso, Rádio Renascença, 21.01.2019, 12h11).

      Nestes últimos metros, o cuidado tem de ser extremo, e por isso será feito «con piqueta y, como mucho, herramientas mecánicas tipo martillo neumático» (in El Mundo). A jornalista pensa que é com palhetas dessas que se usam para fazer vibrar as cordas de certos instrumentos musicais... Senhora jornalista, piqueta traduz-se por «picareta». Ora, não tem de quê.

 

[Texto 10 626]

Léxico: «batedor»

Batedores e bombeiros

 

      «De manhã com um camionista, de tarde com uma camionista – o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vai passar o dia numa viagem pela Estrada Nacional 1 de Lisboa até ao Porto. Marcelo quer chamar a atenção para as dificuldades e necessidades desta classe profissional e também para o estado das estradas. [...] O Presidente não leva batedores nesta viagem porque quer aperceber-se e dar a conhecer as reais condições de trânsito e de trabalho na EN-1» («Presidente faz Lisboa/Porto em camião pela estrada nacional», Paula Caeiro Varela e Eunice Lourenço, Rádio Renascença, 21.01.2019, 11h46).

      Mau, temos aqui mais um problema: para o dicionário da Porto Editora, é o «MILITAR soldado que vai adiante de um exército para explorar o terreno». É mesmo? Não são estes que costumam escoltar o Presidente da República. Não é o único dicionário a que falta essa acepção (ou definição mais abrangente, como me parece mais adequado), é verdade, mas este tem para aí um quarto do número de acepções de outros dicionários na entrada batedor. Uma questão para rever. (Senhoras jornalistas, eu escreveria «Lisboa-Porto».) Isto fez-me lembrar, era inevitável, o caso da parada, de que tratei aqui, que o dicionário da Porto Editora continua a afirmar tratar-se somente de um espaço nos quartéis militares. E os bombeiros, senhores, os bombeiros? Eis mais uma causa para Jaime Marta Soares...

 

[Texto 10 625]

Léxico: «turfeira»

Muito poucochinho

 

      «O uso de óleo de palma nos veículos automóveis [biodiesel], dizem organizações ambientalistas, está a desflorestar e a drenar turfeiras no sudeste da Ásia, para a plantação do óleo, e na América do Sul as plantações de óleo de palma também está a levar a fortes pressões sobre a floresta amazónica» («Lisboa entre as cidades que recebem protestos contra óleo de palma», Rádio Renascença, 21.01.2019, 9h00).

      Para o dicionário da Porto Editora, turfeira é a «zona húmida e alagada em que se origina a turfa». Talvez seja pouco como definição, e como surge como segunda acepção, há-de originar equívocos. Eu depois conto.

 

[Texto 10 624]

Léxico: «indigenista»

Até parece mal

 

      No dia 11 deste mês, os guaranis embiás da comunidade de Ponta do Arado, em Porto Alegre, foram atacados a tiro por homens encapuzados, noticiou o Conselho Indigenista Missionário. Já não digo nada sobre embiás, mas, ó Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, regista lá indigenista, caramba. Até parece mal, impossível e mentira.

 

[Texto 10 623]