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Linguagista

Léxico: «sobreganho»

Decalcado noutros

 

      «O impacto dos novos leilões de potência solar que o Governo quer estrear em Junho vai ser sempre positivo para os consumidores, garantiu esta segunda-feira o secretário de Estado da Energia, João Galamba. À margem da apresentação da versão preliminar do Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), o governante explicou que com os novos investimentos em solar fotovoltaico se vai passar do sobrecusto para o “sobreganho” nas renováveis» («Galamba diz que nova produção solar vai trazer “sobreganho” aos consumidores», Ana Brito, Público, 28.01.2019, 17h00).

      Salvo erro, é a segunda vez que deparo com este termo. Não convém fazer gato-sapato da língua, pese embora a sua plasticidade.

 

[Texto 10 671]

Léxico: «bolsa de colostomia»

Cabe lá

 

      «O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, passou, esta segunda-feira, por uma cirurgia de nove horas para retirada da bolsa de colostomia, que foi concluída com “êxito”, segundo um comunicado divulgado à imprensa pela presidência brasileira» («Cirurgia de Bolsonaro durou nove horas e foi concluída “com êxito”», TSF, 28.01.2019, 19h08).

      Há muito espaço no verbete de colostomia. Afinal, qual é o melhor sítio para encontrar resposta a estas dúvidas?

 

[Texto 10 670]

Léxico: «senolítico»

Vão esgotar

 

      «Falar em elixir da juventude (ou qualquer outra das imagens mitológicas que há milénios seduzem a Humanidade) corre sempre o risco de ser uma precipitação, mas dentro de cinco anos podem chegar ao mercado os primeiros medicamentos anti-envelhecimento [sic], à base dos chamados “agentes senolíticos”. Esta é uma técnica potencialmente “revolucionária” que pode ser capaz de aumentar a esperança média de vida (sem doenças) das pessoas — já mostrou sê-lo em animais e os primeiros testes em humanos estão agora a começar» («10 inovações disruptivas que já estão a mudar o mundo», Edgar Caetano, Observador, 27.08.2018).

      Já se vão encontrando, por aqui e por ali, referências a estas senolytic drugs — a origem é anglo-saxónica, pois claro —, neologismo formado de senescence e lytic. O problema, como sempre, é que nos faltam palavras. No caso, o dicionário da Porto Editora não acolhe este sentido de lítico, que tem que ver com lise, e não com pedra.

 

[Texto 10 669]

Léxico: «seca hídrica/seca meteorológica»

Isso é que era

 

      «A meteorologista [Vânia Lopes do IPMA] realçou que esta é uma “seca meteorológica”, associada à ausência de precipitação, que se distingue da “seca hídrica”, originada pela falta de água nas barragens e sistemas de retenção» («Seca agravou-se, mas situação não tem a gravidade do ano passado», Rádio Renascença, 28.01.2019, 13h22).

      Bem podiam os falantes encontrar ajuda nos nossos dicionários para distinguirem estes conceitos, mas não têm sorte. Ou seja, o verbete seca podia ser menos seca, não é?

 

[Texto 10 668]

Léxico: «superbactéria/carbapenema»

Mas existem

 

    «Genes associados a bactérias resistentes a antibióticos foram descobertos no norte do Ártico, uma das regiões mais remotas do planeta Terra. Apesar de não ter sido confirmada a presença de superbactérias, foram identificados em Svalbar [sic] genes como o blaNDM-1, que podem conferir às bactérias resistência a carbapenemas, os antibióticos de último recurso no tratamento de doenças» («Genes de bactérias resistentes a antibióticos descobertos no Ártico», Carolina Rico, TSF, 28.01.2019, 10h12).

      Evidentemente, estranho mais a ausência de superbactéria do que de carbapenema em alguns dos nossos dicionários. (Na realidade, é Svalbard, ou, como se lê aqui e ali, aportuguesado, como convém, Esvalbarda, um arquipélago que é território árctico norueguês. A amostra foi recolhida, mais concretamente, no fiorde do Rei.)

 

[Texto 10 667]

Léxico: «via»

Mais uma vez

 

      «Um acidente na Ponte 25 de Abril, no sentido Lisboa-Almada, provocou este sábado ferimentos nos ocupantes das três viaturas envolvidas e obrigou ao corte da via central, o que está a originar um congestionamento nos acessos» («Acidente na Ponte 25 de Abril provoca feridos e corta via central», Observador, 9.06.2018, 14h59).

      Isto ouve-se quase diariamente. Hoje, por exemplo, ouvi na Antena 1 que, por causa de um acidente no IC19, creio que perto da curva do Palácio de Queluz, havia um corte da via central. Por vezes, em vez de «via», diz-se «faixa central», mas esqueçamos, por enquanto, isso. Ora, o dicionário da Porto Editora, como já sabemos, só regista via de tráfego, mesmo que ninguém se exprima assim. A meu ver, a definição não é muito clara: «zona longitudinal da faixa de rodagem destinada ao trânsito de uma única fila de veículos». Clara seria assim: «cada uma das zonas longitudinais da faixa de rodagem destinada ao trânsito de veículos».

 

[Texto 10 666]

Léxico: «panelo»

Só que não é

 

      «O panelo é uma tradição já centenária que acontece no primeiro domingo após as festas do Seixal em honra de Santo Antão» («Não há chuva que estrague o panelo», Iolanda Chaves, Jornal da Madeira, 28.01.2019, p. 11).

      É festa, é tradição, mas para o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora não passa de uma panela pequena de barro e não se fala mais nisso.

 

[Texto 10 665]