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Linguagista

Léxico: «moldeira»

A Porto Editora vai ao dentista

 

      O que o dentista lhe disse hoje foi que, se optasse por fazer o branqueamento em casa, teria de aplicar um gel de peróxido de carbamida ou hidrogénio, mas, avisou, alguns pacientes não lidam bem com as moldeiras. Então deve ser por isso, intervim eu, que o dicionário da Porto Editora nem tem moldeira. Talvez, respondeu-me ele, tal como desconhece as lentes de contacto dentárias.

 

[Texto 10 686]

Léxico: «cedro-da-madeira»

Um nunca acabar

 

      «Marcador para identificação das árvores a plantar, em cedro-da-madeira, dada a sua durabilidade e resistência. Inclui o logótipo do projecto e a indicação do respectivo número atribuído a cada participante. O marcador (disco) é dividido em duas partes, ficando metade na árvore plantada e a outra metade com o participante. Esta numeração facilitará a identificação da árvore em futuras visitas e regas e no acompanhamento do seu crescimento» («Secretarias regionais e Grupo Wider Property celebram protocolo de colaboração no âmbito do projecto ‘Plantar o Futuro’», Sandra S. Gonçalves, Diário de Notícias da Madeira, 29.11.2018, 14h15).

      No dicionário da Porto Editora, há três, mas não aquele: cedro-bastardo, cedro-de-espanha e cedro-do-buçaco. O cedro-da-madeira, ou cedro-das-canárias (Juniperus cedrus), foi esquecido. Atenção, pois o cedro-da-madeira, mais concretamente, tem o nome científico Juniperus cedrus subsp. Maderensis. Mais duas relacionadas que também foram esquecidas: aloespécie e semiespécie.

 

[Texto 10 685]

Léxico: «rotacionar»

Pode ser agora

 

      Os suecos da Flyte concebem e fabricam objectos que levitam. O mais interessante é, quanto a mim, a «base de madeira com vaso que levita e rotaciona» (na descrição da importadora, a Servisoft). Também têm lâmpadas (com 6 lúmens...) que levitam. Melhor: «Bolbo de luz que levita rotacionando sobre uma base de madeira.» Usam mal o verbo, é certo, mas ele existe e o dicionário da Porto Editora, entre outros, não o regista.

 

[Texto 10 684]

Léxico: «velutina»

Terráqueos e velutinas

 

      «Presente em Portugal desde 2011, a vespa velutina, também chamada vespa asiática, é uma espécie predadora, que mata as abelhas, distinguindo-se da vespa comum pela cor: as patas são amarelas e o corpo é mais escuro. No concelho de Leiria, são já 130 os ninhos de vespa velutina sinalizados e destruídos, desde o primeiro caso, em 2017. Para dar resposta ao número crescente de ocorrências, o Município criou uma equipa especializada no contexto da estrutura municipal de Proteção Civil, que envolve os bombeiros e o gabinete técnico florestal» («Bombeiros de Leiria já destruíram 130 ninhos de vespa asiática», Cláudio Garcia, TSF, 30.01.2019, 10h57).

      O que me parece, e isto há muito, é que velutina já é empregado como nome comum, o que não é nada de invulgar, pois temos inúmeros casos de termos científicos que passaram pelo mesmo processo. Gostava de poder aduzir, para reforçar a minha argumentação, que até se vê sempre com minúscula, mas, evidentemente, só um marciano ficaria convencido, pois os terráqueos (com que então, dicionário da Porto Editora, é só adjectivo... Descopia já os outros dicionários!) sabem bem como se escreve na nossa imprensa. Também gostava que os nossos dicionários acrescentassem que a subespécie introduzida na Europa é a Vespa velutina nigrithorax.

 

[Texto 10 683]

Léxico: «demência»

Só se não quiserem

 

      «A Santa Casa da Misericórdia de Mogadouro está a desenvolver um projeto, considerado inovador no país, de apoio domiciliário à demência. [...] A demência é caracterizada por uma perda progressiva e irreversível das funções intelectuais, como alteração de memória, raciocínio e linguagem e perda da capacidade de realizar movimentos e de reconhecer ou identificar objetos. Segundo os especialistas, a doença ocorre com maior frequência a partir dos 65 anos de idade e é uma das principais causas de incapacidade em idosos» («Casos de demência aumentam em Trás-os-Montes», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 30.01.2019, 10h36).

      O que me parece é que deixa as definições de demência dos nossos dicionários a muitas milhas de distância. Só não faz melhor quem não quer.

 

[Texto 10 682]

Léxico: «desigualitário»

Apanhá-lo

 

      «São as discriminações quotidianas, o tratamento desigualitário em muitos domínios da vida social, a inferiorização constante e o assédio verbal que constituem as condutas mais frequentemente vividas e testemunhadas por esta categoria de indivíduos e por aqueles que lhes estão próximos» (Do «Não Racismo» Português aos Dois Racismos dos Portugueses, João Filipe Marques. Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, 2007, p. 47).

 

 

[Texto 10 681]

Léxico: «vórtex polar»

Estado de emergência

 

      Os EUA estão a ser assolados por uma vaga de frio que vai afectar 250 milhões de pessoas. Trata-se de um vórtex polar, um fenómeno climático extremo: uma massa de ar gelado que normalmente está no pólo norte deslocou-se para a terra do Sr. Trump, que, entre um beijo a Melania e uma trinca num Double Big Mac (ou será ao contrário?),  já tuitou: «In the beautiful Midwest, windchill temperatures are reaching minus 60 degrees, the coldest ever recorded. In coming days, expected to get even colder. People can’t last outside even for minutes. What the hell is going on with Global Warming? Please come back fast, we need you!» Outro confusionista. Felizmente está lá longe. E cá, como é? O dicionário da Porto Editora, instalado no bem-bom dos 8º (Chicago pode chegar aos -30º), não regista vórtex, quanto mais vórtex polar.

 

[Texto 10 680]