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Linguagista

Léxico: «gelo negro»

É mais transparente

 

       «Os cristais de gelo formam-se a temperaturas baixas, próximas do ponto de solidificação da água, e podem aparecer na estrada quando há precipitação, seja de chuva, granizo ou neve, mas também pode acontecer quando o ar está muito húmido e a temperatura está fria, dando origem à formação de geada. Como o asfalto é um mau condutor de calor, se estiver mais frio que a água, esta congela imediatamente quando entra em contacto com a superfície. Este tipo de gelo é conhecido informalmente como “gelo negro”, uma vez que não é visível e a estrada parece estar em condições normais. No entanto, a humidade no ar e temperaturas baixas são um bom indicador da possibilidade de encontrar este perigo» («Cuidado com o gelo negro na estrada», Motor 24, 1.02.2019).

      Só ainda tinha encontrado a expressão em traduções (para verter black ice), e na estrada, claro. Já me despistei duas vezes por este motivo, e com carros com perto de duas toneladas. Alguns dicionários apenas acolhem gelos flutuantes, uma realidade mais longínqua para o comum mortal.

 

[Texto 10 699]

Léxico: «big bag»

Não ocorreria a ninguém

 

      «O mar avançou nas últimas horas sobre o Bairro Norte da Praia de Mira, destruindo defesas das dunas e passadiços de recreio, a cerca de 40 metros das casas, confirmaram os serviços de Proteção Civil. À TSF, o presidente da câmara municipal de Mira, Raul Almeida, explicou que a duna atingida pelas águas é a mesma na qual foram colocados, há alguns anos, “uns big bags que consolidavam a duna.” Estes instrumentos são sacos de areia compactada, de grandes dimensões, enterrados na base das dunas para contrariar a erosão e solidificar a costa arenosa» («Agitação marítima destrói dunas e passadiços na Praia de Mira», TSF, 1.02.2019, 14h25).

      Seria muito difícil encontrar um nome adequado para isto, não é? Até porque é intraduzível, como se vê. As próprias empresas portuguesas (como esta aqui) que produzem estes sacos gigantes lhes dão este nome — copiam o produto e o nome de outras paragens.

 

[Texto 10 698]

Léxico: «operacionalização»

Falta o burro

 

      «A Polis Litoral Ria de Aveiro – Sociedade de Requalificação e Valorização da Ria de Aveiro, SA, é uma entidade de capitais exclusivamente públicos, com maioria do Estado (56%), que tem como missão a operacionalização da intervenção de requalificação e valorização da Ria de Aveiro» («Agitação marítima destrói dunas e passadiços na Praia de Mira», TSF, 1.02.2019, 14h25).

      O dicionário da Porto Editora não chega às últimas consequências: operacionaliza, mas não alcança a operacionalização. Estas falhas nos dicionários são sempre as mais incompreensíveis. É como fazer o presépio e só nos lembrarmos da vaca e esquecermo-nos do burro.

 

[Texto 10 697]

Léxico: «magnetolipossoma/nanossistema»

Não incomodar

 

      «Já Daniela Pereira, investigadora da Universidade do Minho, apresentou o projeto “NbiON” em que está envolvida, projeto baseado no desenvolvimento de magnetolipossomas (lipossomas que incorporam nanopartículas magnéticas) que permitem o transporte de medicamentos usados em quimioterapia para combate ao cancro. [...] As características específicas do nanossistema permitem uma redução significativa da dose de medicamento necessária a ser administrada em cada tratamento, a redução do número de tratamentos e, consequentemente, os efeitos colaterais causados pela quimioterapia clássica» («Tecnologia é arma contra o cancro», Liliana Costa, TSF, 1.02.2019, 11h09).

      Chiu!, não acordem os nossos dicionários, eles ainda não sabem nada disto.

 

[Texto 10 696]

Léxico: «prova de fundo/fundista»

Homens, cavalos, pombos

 

      «Refira-se que nas provas de fundo, Portugal alinhará com quatro corredores em elite (dia 30) e em sub-23 (28), e com dois em juniores (27). No contrarrelógio, a Seleção apresentará dois ciclistas em cada categoria» («Domingos Gonçalves: “Continuo a andar para ir ao Mundial”», Record, 6.09.2018, 1h08).

      Em vários dicionários, corremos de «prova» para «fundo» e de «fundo» para «prova» e não encontramos prova de fundo, que, ao que sei, são as distâncias dos cinco mil metros até à maratona. E também há as provas de meio-fundo, e este termo já o encontramos, por exemplo, no dicionário da Porto Editora. E fundista, como o define? É o «atleta que faz corrida de fundo». E se for um nadador? Claro que um nadador também é um atleta, mas, para aquele dicionário, no domínio do desporto, atleta é somente a «pessoa que pratica atletismo». E se for um cavalo? E se for um pombo-correio? Ah, nunca tinham pensado nisto... Fundistas há muitos.

 

[Texto 10 695]