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Linguagista

Léxico: «molinismo»

Diz mais e diz melhor

 

      Estão todos contra todos, dizia a personagem. Jansenistas contra molinistas, estes contra aqueles. Querer saber, pelos dicionários, o que significa molinista é mera veleidade, pretensão destinada ao fracasso. O óbvio já o sabemos antes sequer de o indagar: é relativo ao teólogo e jesuíta espanhol Luis de Molina (1535-1600) ou ao molinismo. Não acrescenta mais o dicionário da Porto Editora e quase todos os outros. Alguns acrescentam um verbo — sim, só um verbo — ou duas preposições, e tornam-se assim mais úteis. Basta atentar no título da sua principal obra: Concordia liberi arbitrii cum gratiae donis, divina praescientia, providentia, praedestinatione et reprobatione (1588). Agora vejam a definição do Diccionari.cat: «CATOL/FILOS Doctrina de Luis de Molina que sosté la predeterminació, en el sentit que Déu actua sobre la llibertat de l’home mitjançant el concurs diví i la presciència que Déu té del que l’home faria en cadascuna de les circumstàncies (futuribles) en què es pogués trobar.» Nada como comparar.

 

[Texto 10 721]

Tradução: «bird strike»

Agora, um pouco de inglês

 

      «Os conflitos entre aves e aviões são clássicos. Segundo dados revelados pela Autoridade Nacional da Aviação Civil, entre 2012 e 2016 foram reportados 1322 incidentes envolvendo aves, o que representa 22,4% do total de incidentes com aeronaves. Estes incidentes, designados de “bird strikes”, podem ir desde o avistamento de aves com perigo de colisão, a colisões propriamente ditas» («Um projeto que põe aviões a partilhar Estuário do Tejo e milhares de aves», Dina Soares, Rádio Renascença, 5.02.2019, 9h00).

      Não se diz também — e em português — risco de fauna? Pois é, mas foi a locução inglesa que se impôs. No Brasil, porém, usa-se a expressão risco aviário. Só parecerá estranho às aves raras que não sabem que aviário, além de viveiro de aves, significa, como adjectivo, «relativo às aves». Já não iremos a tempo de mudar o que quer que seja na prática do dia-a-dia, excepto, talvez, nas traduções e mesmo na imprensa.

 

[Texto 10 720]

Léxico: «colectar»

Mais que isto

 

      «A Ribeira do Vascão é muito rica em termos de biodiversidade e ainda se conhece pouco sobre o insetos que ocupam a zona. Esta nova espécie foi descoberta por acaso. Ana costuma recolher insetos nos tempos livres. E foi por causa disso que a protosmia lusitanica foi descoberta. Só se conhece este exemplar recolhido pela bióloga. Agora, era preciso ir ao terreno e coletar outros exemplares para conhecer mais pela espécie. Mas falta o apoio à investigação. “Há três ou quatro pessoas que fazem isto, coletar insetos. Vamos fazendo com os nossos fundos e depois procuramos especialistas internacionais que nos ajudem a descrever as espécies. Mas não há um apoio institucional”, lamenta, “não se sabe nada sobre o estado de conservação destas espécies”» («Pequena, preta e laranja. Há uma nova espécie de abelha e foi descoberta em Portugal», Joana Carvalho Reis, TSF, 5.02.2019, 8h45).

      Joana Carvalho Reis, ora veja se é difícil: Protosmia lusitanica. Basta carregar em mais uma tecla. Dicionário da Porto Editora, não sejas ridículo: omites várias acepções de colectar, e nomeadamente esta aqui empregada, mais antiga. Dizes que significa «impor contribuição ou quota a; tributar» e nada mais. Os humanos foram primeiramente caçadores-(re)colectores, só depois é que vieram as finanças. «Mais que isto/ É Jesus Cristo, / Que não sabia nada de finanças/ Nem consta que tivesse biblioteca...»

 

[Texto 10 718]

Léxico: «ultracapacitador»

Precisamos deles

 

      «A Maxwell é especializada em ultracapacitadores, que são usados para ampliar a vida das baterias automóveis, assim como para estabilizar as temperaturas e melhorar a sua velocidade de resposta. Além dos automóveis Tesla, também vão poder ser usados nas Powerpacks que servem como acumuladores de energia obtidas através de fontes renováveis em locais remotos. A nova subsidiária da Tesla já trabalhava com outros construtores automóveis, incluindo a General Motors e o Grupo VW» («Tesla vai ter as baterias mais resistentes do mercado», Motor 24, 4.02.2019).

 

[Texto 10 717]

Léxico: «dicraeossauro»

Bicharada graúda

 

      «A nova espécie de dinossauro, apresentada esta segunda-feira na capital argentina e descrita num artigo divulgado na publicação científica Scientific Reports, tem o nome de Bajadasaurus pronuspinax, numa referência à formação geológica de Bajada Colorada, na província de Neuqué, onde foram encontrados os fósseis, os primeiros em finais de 2013. Segundo os peritos, este dinossauro terá vivido na Terra há 140 milhões de anos e pertencido ao género dos dicraeossauros, que fazem parte do grupo dos grandes dinossauros, os saurópodes, animais herbívoros que tinham cauda e pescoço muito compridos» («Descoberta nova espécie de dinossauro com ‘espinhos ósseos’», Rádio Renascença, 5.02.2019, 00h03, itálicos meus).

      Não conheço nenhum dicionário que registe dicraeossauro, vá-se lá saber porquê. Isto é impressionante.

 

[Texto 10 716]

Léxico: «riachense/são-teotoniense»

Hão-de faltar largas centenas

 

      Já Manuel Carvalho Simões, o Pé Leve, conhecido dinamizador do associativismo de Charneca dos Riachos, Torres Novas, vai tendo fama por todo o lado, e os dicionários continuam a ignorar o vocábulo riachense. E ontem também vi que o dicionário da Porto Editora não regista são-teotoniense.

 

[Texto 10 715]