Léxico: «honricas»
Se é nosso, é para esquecer
«O município de Miranda do Douro ofereceu, esta quarta-feira, ao Papa Francisco uma capa de honras mirandesa. [...] Segundo o investigador António Rodrigues Mourinho, a capa de honras mirandesa tem origem na região espanhola de Leão e “remontará aos séculos IX ou X, tendo origem na ‘capa de chiba’ que, traduzido do espanhol para português, quer dizer ‘capa de cabra’”. [...] Há também quem defenda que a capa de honras mirandesa poderá ter surgido da capa pluvial de Arperjes, usada nos mosteiros das Terras de Leão (Espanha)» («Papa recebe capa de honras mirandesa. “Portugueses são muito fortes”», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 13.02.2019, 13h50).
Olímpia Mairos costuma ser mais cuidadosa, mas aqui errou e muito. Escrito assim, o pobre leitor há-de pensar que se trata de alguma aldeia espanhola. Não, é capa de asperges, ou pluvial. É um paramento, uma capa, que os sacerdotes do rito romano e do síriaco usam para fazer a aspersão em certos rituais mais solenes. Está nos dicionários. Está no dicionário da Porto Editora. Como também lá podia estar capa de honras. Se disserem que não está dicionarizada porque é uma locução (também a outra é, mas finjamos por ora que nos esquecemos), arranja-se já a solução: a capa de honras mirandesa também é conhecida por honricas. Nos dicionários, nem rasto.
[Texto 10 785]