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Linguagista

Léxico: «queimadeiro»

Mais achas

 

      A abonação é feita por meio de uma citação de Ramalho Ortigão, ele usa a palavra queimadeiro — e eu acabei de ler «queimadeiros da Inquisição» —, isto nos dicionários que acolhem o termo, que designa o lugar onde se faziam as fogueiras para queimar os condenados à pena de fogo, mas o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora regista somente a dupla queimadouro/queimadoiro. No fundo, para certos dicionários, é como se o cenário distópico do Fahrenheit 451 tivesse acontecido...

 

[Texto 10 792]

Léxico: «carpocraciano»

Por Carpócrates!

 

      Por acaso, no livro à minha frente até aparecem lado a lado: alogiano e carpocraciano. Estão ambos no VOLP da Academia Brasileira de Letras, mas convenho que estarem em vocabulários é mais fácil do que nos dicionários —, onde, contudo, fazem mais falta. Posto isto, não acho nada bem que o dicionário da Porto Editora registe o primeiro e esqueça o segundo.

 

[Texto 10 791]

Tradução: «billion»

Menos, muito menos

 

      «É mesmo tudo à grande: nos Estados Unidos, o Dia de São Valentim é a segunda data do calendário onde se gasta mais dinheiro em lembranças, a seguir ao Natal. Nos últimos anos, esta data tem movimentado uma média de 15 biliões de dólares» («Dia dos Namorados. Norte-americanos gastam 450 milhões de dólares em doces», André Rodrigues, Rádio Renascença, 14.02.2019).

      Quinze biliões de dólares! Eh brutos! Eh bruto! André Rodrigues anda a confundir um pouco os números. Conselho: procure saber o que se diz sobre a tradução do norte-americano billion. (E «data onde» também é de arrepiar, diga-se e exclame-se.)

 

[Texto 10 789]

Léxico: «embalagem»

Outra imperdoável

 

      «A ideia partiu do vereador, sem pelouro, da Câmara de Machico, Fábio Rodrigues, natural da freguesia e eleito pelas listas do PS. Depois da Tenda do Ferreiro, a ideia é aproveitar a embalagem e ao mesmo tempo dinamizar uma freguesia com algo diferente que desperte a curiosidade dos visitantes associando a iniciativa ao existente Sítio dos Palheiros» («Palheiros a património mundial», Jornal da Madeira, 14.02.2019, p. 12).

      Nos dicionários que vou aqui citando, nada de nada. Se o principal critério para a dicionarização fosse mesmo, como alegam quando lhes convém, a frequência de uso, esta embalagem estava lá desde sempre. Que lacunas, meu Deus!

 

[Texto 10 788]

Léxico: «arpente»

Escassa utilidade

 

      O arpente ou arpento, uma medida agrária e de superfície dos antigos Gálios, e de que os Romanos depois se apropriaram, aparece assim definido no dicionário da Porto Editora (que valha por todos, já que todos registam pouco mais ou menos o mesmo): «unidade de medida agrária dos Gauleses». Ora, quando se trata de medidas antigas ou estrangeiras, de que serve se não se indicar uma equivalência com unidades actuais? De muito pouco.

 

[Texto 10 787]

Léxico: «pantera-negra»

Pode dizer-se mais e melhor

 

      «Pela raridade enquanto espécie – de acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza, a mesma encontra-se em “perigo crítico de extinção” –, ou somente pela raridade com que é avistada por humanos, a pantera negra (nome atribuído a qualquer grande felino com pelugem desta cor) tornou-se quase um animal mitológico. Sabe-se que cerca de 11% de todos os leopardos (e jaguares) adquirem esta coloração devido a uma mutação genética denominada melanismo (o contrário de albinismo), que ocorre quando um determinado gene sofre uma mutação que leva à produção excessiva de melanina no animal» («Mais de um século depois, uma pantera negra voltou a ser fotografada em África», Tiago Palma, Rádio Renascença, 13.02.2019, 15h56).

      Não custa nada reconhecer que esta definição de pantera-negra é melhor do que aquela que encontramos no dicionário da Porto Editora: «animal felino, com focinho curto, longos dentes caninos e pêlo negro».

 

[Texto 10 786]