Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

Léxico: «anglizar»

Até me parece melhor

 

      «O seu pai, taxista, era filho de uma família de judeus oriunda da Roménia cujo processo de adaptação ao novo país levou a anglizar o apelido do original Berkowitz para o atual Bercow» («John Bercow. Desafiador que arrisca não chegar a Lorde», Manuel Barros Moura, Visão, 24.01.2019, p. 24).

      Anglizar, pois claro, até me parece mais natural do que anglicizar, mas é apenas este que o dicionário da Porto Editora acolhe. É o que eu digo, só em variantes omitem largas centenas de vocábulos. Todos perdemos.

 

[Texto 10 807]

Léxico: «arena»

Não escaparemos

 

      «O etíope Samuel Tefera, de apenas 19 anos, bateu este sábado o recorde mundial de 1.500 metros em pista coberta, com um tempo de 3.31,04 minutos, melhorando uma marca com 22 anos. [...] Para Tefera, de 19 anos, este foi um novo feito na cidade de Birmingham, onde um ano antes, na mesma arena, conquistou o título mundial pela primeira vez» («Jovem etíope de 19 anos bate recorde do mundo com mais de 20 anos», TSF, 16.02.2019, 17h29).

      Foi então «na mesma arena»: agora, é cada vez mais frequente ouvir na rádio e na televisão darem este nome a espaços destinados aos mais variados espectáculos. Quando agora ouvimos a palavra «arena», já será pouco provável que se refira ao espaço de areia, no centro dos anfiteatros, onde antigamente combatiam os gladiadores. Até porque, imitando o que se faz noutros países, também nós já temos salas de espectáculos que foram renomeadas para incluir a palavra «arena». No caso do Müller Indoor Grand Prix Birmingham, o edifício é a Arena Birmingham.

 

[Texto 10 806]

Léxico: «penitenciário»

Um mundo perfeito

 

      «“Se forem fazer buscas em todos os estabelecimentos, demitem-se todos. O sistema prisional tem de ser mexido, o direito penitenciário tem de ser mexido, o sistema de reinserção tem de ser mexido”, defendeu Mónica Quintela [porta-voz do PSD para a área da Justiça], para quem é preciso todos colocarem a pergunta [sic]: “Que cidadãos estamos a devolver à sociedade?”» («“Se forem fazer buscas em todas as prisões, demitem-se todos”», Eunice Lourenço, Rádio Renascença, 16.02.2019, 15h45).

      Para o mundo ser perfeito, a oposição é que devia governar, não acham? Entretanto, temos de nos ocupar de umas miudezas, como a lamentável ausência desta acepção do adjectivo penitenciário no dicionário da Porto Editora. A acepção mais aproximada é esta: «relativo ao sistema de prisões em células separadas».

 

[Texto 10 805]

Léxico: «alguazil»

Voluntariamente pobres

 

      «Ou seja, o alguazil converter-se-ia também em reclamante e litigante» (Portugal na Espanha Árabe, António Borges Coelho. Lisboa: Editorial Caminho, 1989, p. 281).

      Quantas variantes não faltarão em todos os nossos dicionários? Esta, por exemplo, foi esquecida pelo dicionário da Porto Editora.

 

[Texto 10 804]

Léxico: «hidrometeorológico»

Espantam-me sempre

 

      «Em São Petersburgo outra fonte de poluição tornou a neve azul e violeta em 2017. Na altura o centro hidrometeorológico do país disse que a coloração da neve pode ter sido causada por fugas de cobalto ou azul de metileno» («Cai neve negra na Sibéria. E também há casos de neve azul e violeta», Diário de Notícias, 15.02.2019, 18h01).

      Estas falhas são sempre as mais lamentáveis: no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora podemos encontrar hidrometeorologia, mas não hidrometeorológico. Espantam-me sempre estas falhas.

 

[Texto 10 803]

Léxico: «coelho-europeu»

Nem o mais comum

 

      «O coelho-bravo, ou coelho-europeu (Oryctolagus cuniculus), está a tornar-se imune a uma das doenças que mais o afectam. A descoberta de uma equipa internacional liderada por cientistas do Porto, publicada hoje na revista Science, prova que os coelhos da Austrália, de França e do Reino Unido adquiriram resistência ao vírus da mixomatose através da selecção natural» («O coelho de Darwin ajudou a descobrir a resistência a um dos vírus que mais matam a espécie», Sofia Neves, Público, 15.02.2019, p. 32).

      Nem sequer coelho-bravo todos os nossos dicionários registam. Nenhum, que eu saiba, acolhe coelho-europeu.

 

[Texto 10 802]

Léxico: «baladesco»

Nem sequer um

 

      «“Todas as eras têm a sua lenda. Se ainda estivéssemos no tempo da poesia baladesca, Lorena Bobbitt teria uma balada”, começava o texto do diário [The New York Times], que como todos os outros na América e muitos outros no mundo, seguiu a história dos Bobbitt e a tornou num fenómeno» («Lorena castrou Bobbitt: uma história de violência doméstica», Joana Amaral Cardoso, Público, 15.02.2019, p. 34).

      Não faltam textos, sobretudo ensaios, em que o adjectivo baladesco é usado, mas os nossos dicionários estão longe, alheados. «Queria pesquisar abadesco?», pergunta o dicionário da Porto Editora.

 

[Texto 10 801]

Léxico: «estenopeico»

Tudo pela metade

 

      «Danielle Lessnau fundiu o seu corpo com uma câmara para criar Extimité, uma série de retratos dos seus amantes feita a partir do ponto de vista da sua vagina. “Criei oito câmaras estenopeicas (pinhole) a partir de velhos cartuchos fotográficos e instalei-lhes um obturador eléctrico que pode ser controlado pela minha mão”, explica ao P3» («Danielle fotografa os seus amantes com uma câmara na vagina», Ana Marques Maia, Público, 14.02.2019, 00h01).

      Aos nossos lexicógrafos não ocorreu que também precisamos do adjectivo, estenopeico, e não apenas, como alguns registam, do substantivo, estenopeia.

 

[Texto 10 800]